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Você já ouviu falar em security tokens?

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O setor financeiro é o mais avançado em blockchain. Especialistas falam que a criptoeconomia começa a viver sua terceira onda. A primeira, com o Bitcoin, criou uma nova era para transferência de valores usando moedas digitais em uma rede descentralizada. Porém, as criptomoedas ainda sofrem com desconfiança. A segunda onda foi dos ICOs (Initial Coin Offerings), com startups levantando mais de US$ 8 bilhões entre setembro de 2017 e março deste ano. Alguns projetos, no entanto, revelaram-se esquemas fraudulentos e outros muitos não foram à frente, o que diminuiu consideravelmente o apetite dos investidores. A onda atual diz respeito aos security tokens e, para entender melhor sobre ela, conversei com Will Nigri, sócio da Front Seat Capital, uma empresa que investe, entre outras coisas, em startups de blockchain.

Basicamente, um security token é uma representação digital de um ativo real no blockchain. Os mais entusiasmados afirmam que tudo pode ser tokenizado, o que criaria um mercado trilionário – o mundo tem ativos reais avaliados em cerca de US$ 256 trilhões. Também daria liquidez a ativos historicamente ilíquidos e democratizaria investimentos outrora restritos; imóveis e peças de arte, por exemplo, costumam ser bastante caros, porém, com os tokens, é possível fracioná-los em pequenas partes. Will concorda que a maioria dos ativos pode ser tokenizado, mas ressalta que a liquidez só virá quando o mercado estiver maduro e com informações suficientes abastecendo os investidores.

Para Will, o grande benefício dos security tokens é conseguir unir as capacidades do blockchain (descentralização, mercado global 24h por dia, velocidade nas transações, transparência) a ativos reais e a regulamentação que os acompanha. Isso dá uma segurança maior a quem investe. Outras vantagens são a possibilidade de codificação de questões de compliance nos contratos inteligentes e a padronização dos mesmos, o que diminui o custo e dá rapidez ao processo de emissão de ações por empresas. Assim, companhias que nunca pensaram em fazer um IPO podem ter uma alternativa mais barata e menos burocrática para levantar recursos com investidores de todo o mundo. Essa, aliás, é a principal aplicação para a tecnologia, pelo menos no início. Will também aponta que o mercado imobiliário tem grande potencial, mas vai depender de como será regulado.

Uma barreira para o crescimento dos security tokens é que as plataformas para negociá-los – as exchanges - estão em fase inicial. Por enquanto apenas startups menores como Open Finance, Polimath e tZero possuem uma. Coinbase e Circle, duas exchanges gigantes de criptomoedas, devem entrar na parada em breve. Até as grandes Bolsas de Valores estão de olho. A SIX Swiss Exchange e a Nasdaq anunciaram recentemente que estudam plataformas exclusivas para security tokens. Will cita como obstáculos também a falta de mão de obra qualificada em blockchain, o fato de a tecnologia ser muito nova e a questão regulatória indefinida. Só após resolvê-los os investidores de peso serão atraídos. Porém, já existem exemplos de sucesso: a Spin, que compartilha patinetes elétricos, levantou US$ 125 milhões em um STO (Security Token Offering) com tokens atrelados à própria receita; o St. Regis Aspen Resort, um hotel de luxo, US$ 18 milhões fracionando sua propriedade.

No Brasil, ainda são poucas iniciativas. Uma muito interessante é o BNDES Token, que pretende rastrear financiamentos realizados pelo banco. Basicamente, cada token equivale a R$ 1,00, e os tomadores recebem os recursos em formato digital para pagarem seus fornecedores. Esses, por sua vez, solicitam o resgate em real ao banco depois. Isso dá transparência ao uso dos recursos.

Como se pode ver, o mercado de security tokens é promissor, com muitas possibilidades, e precisamos ampliar as conversas sobre o mesmo por aqui para conseguirmos entender melhor e aproveitar todas elas.