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Uma conversa sobre inteligência artificial

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A cada dia somos bombardeados com notícias que envolvem inteligência artificial. Semana passada, escrevi sobre as 10 tendências tecnológicas estratégicas para 2019, segundo a Gartner, e IA é parte fundamental de pelo menos sete delas. Para entender melhor o cenário atual, conversei com Marcelo Labre, brasileiro diretor-executivo do banco Morgan Stanley, em Nova York, especialista em deep learning e machine learning. Por estar fora do país há quase duas décadas, Marcelo tem visto de perto a rápida evolução da tecnologia. Para ele, o hype em torno dela é justificado e seu impacto nos mais diversos setores será real à medida que mais empresas perceberem as possibilidades que ela pode dar.

Pesquisas de grandes consultorias vão na mesma direção. A McKinsey publicou relatório afirmando que, em 2030, 70% das companhias do mundo usarão, pelo menos, uma aplicação de inteligência artificial em seus negócios. Até lá, a PwC estima que a tecnologia contribuirá com US$ 15,7 trilhões à economia global. A área de Marcelo, a financeira, é uma das mais avançadas na implementação de IA. Os casos de uso são variados e vão desde a detecção e prevenção de fraudes em transações a análises de créditos, automação de decisões de investimentos e atendimento aos clientes. As aplicações no setor de saúde e comercial também chamam bastante a atenção do executivo.

Porém, para Marcelo, o grande potencial da IA será atingido quando ela se juntar aos computadores quânticos (outra tendência estipulada pela Gartner). Como esses computadores têm um potencial de capacidade muito superior a um convencional, uma vez que eles estejam em funcionamento e disponíveis com toda essa capacidade, abre-se um mar de possibilidades difícil até de prever, tamanho o salto que seria dado. Inclusive a chamada inteligência artificial geral – a máquina com consciência, tema de vários filmes de ficção – poderia se tornar viável. Mas estamos falando de um horizonte de tempo bem mais à frente. Para isso, os computadores quânticos, primeiro, precisarão sair do estágio inicial atual e comprovar as expectativas.

Com tanta atividade sendo automatizada, em toda conversa sobre inteligência artificial surge o assunto mercado de trabalho. Marcelo se diz pessimista no curto prazo e otimista no longo. Para ele, como há um incentivo financeiro muito grande para as empresas investirem em automação (especialmente para reduzir custos e melhorar produtividade), este processo será muito rápido e não haverá tempo hábil para capacitar e recolocar aqueles que forem dispensados em novas posições. Após essa fase inicial, entretanto, o executivo acredita que uma solução será encontrada, seja com programas assistenciais do governo – a renda básica universal, por exemplo, tem defensores de peso como Elon Musk e Mark Zuckerberg –, seja com treinamentos de pessoas de todas as idades em conhecimentos digitais. O Brasil, aliás, precisa melhorar muito neste aspecto: no relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial, ficamos em 125º e 127º de 140 países em habilidades digitais da população e facilidade de encontrar profissionais capacitados, respectivamente.

Marcelo, no entanto, faz muitos elogios aos brasileiros que trabalham com inteligência artificial. Como gerencia pessoas de diversas nacionalidades, ele cita que os profissionais do país têm uma capacidade única de resolução de problemas e concluir projetos, o que os diferencia dos demais. Este é um relato importante, pela tendência que há de desvalorização do que vem daqui. Por isso, iniciativas públicas e privadas que estimulem os jovens a aprender sobre programação desde cedo são fundamentais para formarmos não só uma geração preparada para encarar a Quarta Revolução Industrial, como também para que consigamos colocar o Brasil em uma posição de destaque entre as nações mais tecnológicas do mundo, referência em novas pesquisas e aplicações.