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As valiosas memórias de Fred Hersch

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As valiosas memórias de Fred Hersch
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Há tempos que aguardava o momento certo para falar sobre Fred Hersch. E ele chegou, bem no fim do ano, época em que a maioria das pessoas procura refletir sobre o que passou e busca estímulos para os próximos desafios. O músico, de 63 anos, é, além de um dos grandes gênios do piano, um sinônimo de resiliência, garra e paixão pela música e pela vida.

Sua lealdade à forma de fazer música “do seu jeito” (alheio a qualquer tipo de publicidade) foi sempre seu grande combustível. Desde os anos 1990, quando assumiu ter Aids, vêm lutando para superar desafios. Hersch perdeu quase todas as funções motoras em 2008 e precisou reaprender do zero a tocar piano. Dez anos depois, completamente curado e com múltiplas indicações ao Grammy, segue como um ativista pelos direitos LGBT, e também atua como educador e pesquisador sobre a Aids.

Macaque in the trees
As valiosas memórias de Fred Hersch (Foto: reprodução)

Após um magistral disco lançado em maio (“Live in Europe”, indicado ao Grammy de melhor disco de jazz instrumental), Hersch e seu trio apresentam uma das mais aguardadas obras do ano: “97 @ The Village Vanguard – live”. O lançamento é, na verdade, um registro de três sets feitos em 1997, quando Hersch assumiu a condição de band leader pela primeira vez na casa. Mais de vinte anos depois, o material foi oficialmente lançado na última sexta-feira pela Palmetto Records, com um mix de oito faixas que trazem songbooks, composições clássicas de jazz e peças originais.

O baixista Drew Gress e o baterista Tom Rainey seguem o tom de Hersch, capaz de mesclar sua versatilidade de maneira sutil. Essa química abre com uma trama robusta em “Easy to love”, seguido de uma das minhas composições favoritas “My funny valentine”, eternizada na voz de Chet Baker, mas que aqui segue sensível ao som do baixo de Gress. “Evanescence”, outro clássico, faz sua homenagem ao gênio Bill Evans. Gress volta a aparecer de maneira impactante em “Andrew John”, enquanto “I whish I knew” mostra um raro momento contido na intensidade do disco. “You don’t know what love is” retoma o ritmo acelerado, e fecha com virtuosismo, na medida certa.

Hersch disse, em entrevista, ter ficado extremamente satisfeito com o resultado e “toda atenção aos detalhes enquanto tocávamos”, mesmo após mais de vinte anos do emblemático registro, que originalmente foi gravado em fita.

Em tempos difíceis, em que uma boa dose de otimismo se faz necessária, Fred Hersch nos lembra da importância não somente de olhar para o futuro, mas também de valorizar o passado e todas as vitórias e derrotas ao longo do caminho.

Bebop

Festival de Jazz no Leblon

Depois de ser adiado duas vezes por conta das chuvas, o “Leblon Jazz Festival” finalmente acontece neste sábado, das 13h às 22h, na Rua Dias Ferreira. Está previsto um tributo a Nina Simone, na voz da cantora Alma Thomas, além de shows de Bossa Nova e MPB, com diversas opções gastronômicas ao longo da rua. Vamos torcer para São Pedro ajudar desta vez.

Kamasi Washington no Rio

A espera dos jazzófilos finalmente terminou. O saxofonista Kamasi Washington confirmou sua turnê no Brasil, e se apresenta no dia 23 de Março, no Circo Voador, com a turnê “Heaven and earth”. Os ingressos já estão a venda no site www.queremos.com.br