ASSINE
search button

O espírito anfitrião de Charlie Porter

Reprodução -
O espírito anfitrião de Charlie Porter
Compartilhar

Dezembro chegou e, com ele, as intermináveis reuniões de família, com aqueles tios e primos distantes que surgem apenas nesta época do ano para soltar velhas piadas sem graça do tipo “é pavê ou pra comer?”. Admiro quem passa por isso e gosta. No meu caso, nem com uma playlist incluindo Miles, Coltrane, Monk e Chet Baker, seria meu programa favorito.

Macaque in the trees
O espírito anfitrião de Charlie Porter (Foto: Reprodução)

Jazzisticamente falando, Charlie Porter fez questão de mostrar seu lado anfitrião em seu primeiro disco (que leva seu nome, por sinal). O trompetista, pupilo do mestre Wynton Marsalis e estudante da Juilliard School, reuniu nada menos do que (pasmem!) 22 músicos para lançar sua obra, em setembro deste ano. Uma autêntica “ceia”, reunindo 11 faixas, das quais dez são autorais e apenas uma é cover de Duke Ellington.

Aos 40 anos, Porter já tocou com nomes como Paquito D’Rivera, Joe Zawinul e Charli Persip, além de flertar com a música clássica, árabe, indiana e africana, buscando encontrar um terreno comum entre “todas as boas músicas”, como costuma dizer em entrevistas.

Apesar dos flertes, é no jazz que Porter parece, finalmente, se sentir à vontade. Tanto que seu disco traz semelhanças diretas a outro grande e lendário trompestista: Clifford Brown, falecido em 1956.

A seleção de músicos inclui (respirem fundo!¬) John Nastos e David Evans no saxofone; Chris Woitach na guittara; John Moak no trombone; Khaliq no violino; Dan Gaynor, David Goldblatt, Greg Goebel e George Colligan no piano; Tim Gilson, Cary Miga, Jon Lakey, Chuck Israels e Bill Atenas no baixo, e Alan Jones, Christopher Brown, Tim Rap, Michael Raynor e Mel Brown na bateria. Mesmo com esse time de primeira, Charlie Porter abre o disco solitariamente com “Prologue”, mostrando que, apesar dos “primos” reunidos, quem comanda o show é seu afiado trompete.

A faixa seguinte, “Mel smiles”, traz um ótimo (e por que não debochado) dueto com o bateria Mel Brown. Na gincana com seus 22 músicos, Porter traz faixas com influências de Django Reinhardt (“Skain train”, com solo incrível de Majid Khaliq) e Art Blakey (“Messenger”). A balada “Morning glory” chamou delicadamente minha atenção e o tributo a Mr. Clifford, “Brown study”, levou minha preferência em geral, apesar de os solos, tanto no começo quanto na última faixa, com “Epilogue”, merecerem honrosas menções.

Entre duos e sextetos, Porter passa sua mensagem unificando as peças e levando o ouvinte a uma interessantíssima jornada musical. Se minha ausência é provável em muitas das festividades que vêm pela frente, numa jam session de Charlie Porter e sua turma, eu seria aquele típico tio que é o primeiro a chegar e o último a sair. Só substituiria o pernil ou a rabanada por um bom scotch 18 anos. Saúde!

Bebop

O jazz no Giro O restaurante Giro, no boêmio Baixo Gávea, tem feito ferver as noites de sextas-feiras com o melhor do jazz tradicional. Liderado por Reinaldo Figueiredo (ex-“Casseta & Planeta” e excelente músico), a casa recebe a CEJ (Companhia Estadual de Jazz), sempre com convidados. Programa imperdível.

Fim de ano da Bossa Nova O Blue Note Rio anunciou a “Semana da Bossa Nova”, para comemorar os 60 anos do gênero, na última semana do ano. Estão previstos shows com Cris Delano e Nelson Faria (21), os Bossa Nova (26 a 28), além do pré-réveillon com Bossacucanova (29). Anote na agenda.