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Os elementos certos de Steve Coleman

Reprodução -
Steve Coleman
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Foram 15 anos de intervalo até que Steve Coleman, um dos grandes influenciadores do jazz contemporâneo, finalmente, lançasse um novo álbum ao vivo. Desde 1985, com “Motherland pulse” (JMT), seus inúmeros trabalhos como band leader sempre evidenciaram sua personalidade inquieta na busca pelo som inovador de seu saxofone alto (ainda que o começo da carreira tenha sido com o violino, durante a adolescência no Sul de Chicago). Apesar de ele, hoje com 62 anos, ter feito alguns trabalhos até mesmo na área de educação (por meio de uma ONG atuante nos Estados Unidos e em outros países), eu, como fã, andava sentindo falta de um novo e arrebatador disco ao vivo.

Em “Live at the Village Vanguard, Vol. 1” (The Embedded Sets), gravado em maio de 2017 e lançado em agosto deste ano pela Pi Recordings, Coleman reúne seus tradicionais companheiros da banda Five Elements, presentes há mais de 20 anos em suas gravações. Juntos, eles reproduziram em duas noites no lendário Village Vanguard, mítico clube de jazz nova-iorquino (responsável, inclusive, pela ida de Coleman para Nova York), 17 faixas enérgicas, mesclando baladas com influências do bebop, funk e outros estilos.

Macaque in the trees
Steve Coleman (Foto: Reprodução)

Fugindo do estereótipo de seus dois últimos trabalhos altamente orquestrados, Coleman traçou como objetivo se apresentar de maneira espontânea, buscando manter as faixas dentro de uma estrutura mínima. Na companhia de Jonathan Finlayson no trompete, Miles Okazaki na guitarra, Anthony Tidd no baixo e Sean Rickman na bateria, o saxofonista apostou em algumas faixas que são interpretadas mais de uma vez, ganhando novas personalidades a cada noite. “Little girl I’ll miss you”, música do educador e referência de Coleman, Bunky Green, ganhou logo minha preferência, em ambas as versões, com tom de declaração numa balada bem arranjada, assim como “IdHw”, “Change the guard” e “Fight time”. Essas faixas trazem o virtuosismo incentivado (com sua dose de disciplina) ao disco, assim como “Djw”, com riffs acelerados e um flerte com o funk.

O trabalho coletivo dos músicos é evidente, apesar de Coleman e Finlayson terem um leve comando em cima das canções. As quase duas horas e meia de disco mostram uma crescente constante desde a abertura, com “Horda”, mas seus momentos de pausa chamam a atenção, e Okazaki se sobressai nesse formato das faixas.

Uma força criativa do jazz há mais de três décadas, sendo pioneiro no M-Base (formato inovador para criação de novas linguagens musicais), Coleman consegue trazer a liberdade ao disco, apesar de sua forma e estrutura bem definidas, com saídas da zona de conforto em corretas proporções.

Espero que a busca pela criatividade siga norteando os próximos trabalhos do músico, mas que não seja necessário aguardar mais tanto tempo para podermos apreciar um novo álbum ao vivo.

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BEBOP

Roy Hargrove A coluna presta sua homenagem ao brilhante trompetista Roy Hargrove, que morreu aos 49 anos, no último sábado, em decorrência de uma parada cardíaca, por conta de problemas crônicos renais. Hargrove, descoberto por Wynton Marsallis, era considerado um dos maiores trompetistas do mundo em atividade, e gravou discos memoráveis como “Moment to moment” e “Nothing serious”.

Festival de Jazz & Bossa Nova no Arpoador

Nos dias 8 e 9 de dezembro, o Parque Garota de Ipanema recebe um dos grandes festivais do ano de jazz e Bossa Nova, numa linda homenagem a Tom Jobim. O evento é gratuito e contará com atrações de peso, como Marcos Valle, Paula Morelenbaum, Leo Gandelman e Wanda Sá, além de exposições, área gastronômica e lojas multimarcas. Mais informações, em breve, no site www.festjazzinrio.com.b