Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Moda inabalável

A criatividade sobrevive às crises

Publicado em 09/01/2021 às 10:01

Alterado em 09/01/2021 às 10:41

Iesa Rodrigues JB

Há um comentário geral no circuito da moda sobre as mudanças nos eventos, a irrealidade de certas coleções, o valor das pequenas produções. Difícil imaginar maneira mais eficiente de mostrar uma coleção sem ser desfilando. Há a possibilidade de exibir as novidades nos showrooms, com poucas modelos. E como garantir a presença da plateia formada por compradores, a imprensa, os influenciadores? Até agora, o formato digital não convenceu. Vale para o varejo ou para quem já nasceu no universo digital, como sabe fazer a Farm.

Outra dúvida era a própria existência da moda. Ela teria chance de continuar com seus ciclos de lançamento, cada vez mais próximos? Pela História, mesmo depois de fases ruins da humanidade, a moda evoluiu. Basta lembrar das principais épocas de guerras, por exemplo:

Primeira Guerra Mundial (em torno dos 1914): depois dos horrores das trincheiras, nunca se festejou tanto, as melindrosas sacudiam suas franjas. Surgiram os primeiros nomes de costureiros autorais. Poiret, Chanel, Lanvin mudaram os rumos da vestimenta, libertaram as mulheres dos espartilhos e anáguas.

Macaque in the trees
Chanel começa a impor seu estilo, saias mais curtas, tecidos mais leves (reprodução livro Vestidos que mudaram o mundo, do Design Museum) (Foto: Arquivo)

Segunda Guerra Mundial (de 1939 a 1945): encerrados os bombardeios que destruíram cidades inteiras, descobertos os campos de concentração, um desfile em 1947 chamou a atenção do mundo: Christian Dior propunha uma moda com saias muito rodadas, saltos altos e uma maravilha de bordados em longos. Era o que a imprensa americana chamou de New Look, uma reação às restrições e racionamentos da guerra.

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Cintura fina, saia rodada, muito tecido caro, na coleção chamada de New Look de Dior (reprodução do livro Vestidos que mudaram o mundo, do Design Museum) (Foto: Arquio)

Bomba Atômica: no final da década de 40, ataques de americanos destruíram Hiroshima e Nagasaki, no Japão. Uma visão de um Futuro de guerras sem trincheiras nem tanques, que desencadeou uma moda futurista nos anos 1960. Courrèges, Pierre Cardin, Paco Rabanne puxavam o trem do Prêt-à-porter com seus modelos geométricos, curtos, metálicos.

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A minissaia aparecia em figurinos do cinema, seguindo as novidades londrinas (reprodução do livro Vestidos que mudaram o mundo, do Design Museum) (Foto: Arquivo)

Guerra do Vietnã: a juventude da Califórnia protestou contra esta guerra inútil, enfrentando as gerações anteriores e seus hábitos conservadores (foi o auge dos redingotes em tecidos brilhantes) com a anti-moda. Cabelos sem cortar, barbas longas, tie dye, saias longas estampadas, sandálias de sola de pneu. Uma das épocas mais criativas da história da moda.

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Versão de fantasia inspirada no estilo hippie dos anos 1970 (Foto: reprodução Pinterest)


Crises do petróleo: os anos 1990 quase foram marcados por uma terceira guerra. Em 1991 decolavam aviões militares do aeroporto de Frankfurt, rumo aos países árabes, com ameaças de bombas. A moda mudou de mãos, as maisons foram vendidas para grupos de bebidas e catálogos de vendas. O que parecia o fim das grandes marcas, revitalizou toda a moda de Paris, revelou nomes como Alexander McQueen e John Galliano. Foi a época das misturas de alfaiataria (os casaquetos justinhos) com jeans e o auge dos escarpins assinados por nomes como Manolo Blahnik e Louis Louboutin. E o pique dos disputados desfiles do hemisfério Norte, do Rio de Janeiro e de São Paulo.

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A mulher executiva, vestindo terninho Armani simbolizou a moda a partir dos anos 1980 (reprodução livro A Moda do Século, de François Baudot) (Foto: Arquivo)


Pandemia? E agora, o que poderá vir? Pelo e-commerce, pelo Instagram, pelos shoppings, pelas feiras, o que poderá ser da moda? Também depende de quem ama este fenômeno criativo, que deve lembrar da música “não deixem o samba morrer, não deixe o samba acabar...” na voz possante da Alcione. Só que em vez de samba, vamos cantar moda.