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O país do mal feito e o país do bem feito

Marcos Tristão / Jornal do Brasil -
Gaudêncio Fidelis foi o curador da exposição "Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira"
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Dilma inaugurou a expressão, afirmando que em sua gestão não haveria “mal feitos”. Mas o país era mesmo o do “mal feito”. Roupas mal feitas. Obras públicas mal feitas. Remédios de qualidade inferior. Enfim, o brasileiro adorava alardear, sobretudo quando estava com estrangeiros, os “mal feitos” de seu país, fechando os olhos para as maravilhas ao seu redor.

Mas, de repente, no último verão (por sinal neste verão), tudo mudou. Passamos a ser o país do “bem feito”. Como o escorpião que aferroa o sapo que o transporta, no meio da travessia do lago, o brasileiro deste verão se compraz em ver o país se ferrar com medidas despropositadas, que afetam a todos, inclusive a ele, e proclama: “Bem feito!”. Leia-se: “Bem feito para quem votou errado!”

Vejam o mercado editorial, que faz campanha para presentearem livros, num cenário recessivo em que as livrarias fecham, uma atrás da outra. Desde as pautas bombas em 2014 seguidas de impeachment, o mercado vem num processo de retração de 40%, num movimento crescente. Para vocês terem uma ideia, comparando 2016 com 2017, a queda nas vendas foi de 30 milhões de exemplares, segundo a pesquisa encomendada pela Câmara Brasileira do Livro. Agora, queda mesmo foi a dos didáticos, obras científicas, técnicas e profissionais, com um encolhimento de 17%.

O Brasil representa 40% do mercado editorial da América Latina. Boa parte disso se deve à compra, pelos programas governamentais de livros didáticos e paradidáticos.

Só em 2011, a Abril Editorial, ocupou o 40º lugar no ranking mundial do mercado editorial, faturando US$ 411 milhões (Publisher Weekley/EUA). Era tão lucrativo nosso mercado, que editoras estrangeiras, como as espanholas, vieram para cá atraídas pela compra certa, em que todo o ano os índices de vendas eram altos.

Bem feito para as editoras, como a Abril, que dominava esse mercado didático, lucrando ano a ano com os programas do governo, e resolveu abraçar a “imprensa de guerra” em suas revistas, gerando descrédito no leitor. Será que ela matou sua galinha dos ovos de ouro? Ou conseguirá fazer dela um molho pardo?

A pergunta é: o governo Bolsonaro vai manter os programas governamentais de livros didáticos? Desde seu advento, no Governo Fernando Cardoso, quem avaliava as obras que constavam nos guias para as compras governamentais eram as universidades públicas. Quem fará as avaliações no atual governo? O MBL? A UDR? A Damares? Bem feito para a educação pública brasileira!

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Art Déco vive

O Instituto Art Déco Brasil e a Prochnik Arquitetura foram contratados para estudar o prédio sede da Casa Sloper, na rua Uruguaiana. Eles irão aprofundar uma pesquisa sobre a importância desta loja de departamentos, uma das mais chiques do país, e que até em peça de teatro foi homenageada: “A Caixeirinha da Sloper”. O edifício abrigou na década de 1950 uma das lojas da Casa Sloper, ponto tradicional da sociedade carioca; Além de acessórios como cordões, pulseiras, anéis e outros utensílios do gênero, a store vendia cosméticos, roupa de cama e mesa, brinquedos, cristais e objetos de decoração. Suas joias, em especial, inspiraram atrizes hollywoodianas e uma canção de João Bosco. Em “Bijuterias”, o cantor e compositor diz: “Transparentes, feito bijuteria da Sloper da Alma”. Para primeira rodada que pode até render a publicação de um livro, Márcio Roiter, Presidente do Instituto Art Déco Brasil, está buscando os depoimentos de antigas clientes. Entre elas, Lourdes Catão e Vera Bocayuva…

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NA MIRA DE GAUDÊNCIO

Para quem não se recorda, Gaudêncio Fidelis foi o curador da exposição “Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, mostra que deu muito no que falar em 2017 após ter sido censurada pelo Santander Cultural. Na época, discussões sobre a definição do conceito de arte, sexualidade, homossexualismo e pedofilia renderam inúmeros desentendimentos dentro da sociedade. A situação ficou ainda pior quando o próprio Santander “sequestrou” algumas obras da exposição por um período de 30 dias, mantendo-as retidas na instituição sem acesso público, e tampouco sem devolvê-las a seus emprestadores. Enquanto isso, o processo difamatório das mesmas continuava sendo inflamado por grupos mais conservadores. A solução, enfim, só aconteceu através do intermédio do Ministério Público Federal. O Santander Cultural se comprometeu, em dezembro de 2017, ao firmar um termo junto ao MPF, a promover duas exposições em suas dependências. Em uma delas, a mostra deveria abordar o tema da “diversidade e intolerância”. Na segunda, o “empoderamento das mulheres”. Com prazo de 18 meses para realizar as exposições, o MPF estipulou uma multa de 800 mil reais caso houvesse descumprimento do acordo. Importante lembrar, no contexto desta história, que a ideia de promover duas novas exposições, proposta que partiu do MPF, só aconteceu após este concluir que as obras da “Queermuseu” não tinham qualquer incentivo ou apologia à pedofilia, e mesmo quando foi recomendada a reabertura da exposição, o Santander negou-se. Agora, faltando apenas cinco meses para esgotar-se o prazo do braço cultural do banco, Gaudêncio Fidelis está de olho no que poderá ser feito, e na repercussão que o caso deverá gerar. Nos próximos dias, ele divulgará uma nota à imprensa, fazendo com que o tema volte ao epicentro das discussões e cobrando duras penas das por parte das autoridades responsáveis.

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Gaudêncio Fidelis foi o curador da exposição "Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira" (Foto: Marcos Tristão / Jornal do Brasil)

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SCORZELLI EM EXPOSIÇÃO

Começa no próximo dia 12, na Galeria Evandro Carneiro Arte,a exposição Scorzelli, que reúne obras de Roberto Scorzelli e de seu filho, Marcos Scorzelli. A mostra exibirá 16 obras em acrílica de Roberto Scorzelli, entre telas e papéis. Pela primeira vez, serão expostas 40 esculturas de animais criados no papel por Roberto, e concluídos pelo seu filho, o designer Marcos. Muitas peças são inéditas, desenvolvidas em aço após o falecimento de Roberto Scorzelli.

DOLCE VITA

Veneza, na Itália, quer instituir a cobrança de uma taxa de entrada para turistas. Autoridades italianas constataram que a grande maioria dos visitantes da cidade, cerca de 80%, não passa a noite na cidade. Isso representa perdas para a hotelaria veneziana. Nos últimos dias, o parlamento aprovou uma medida que permitirá à Veneza cobrar dez euros por turista cada que permanecer na cidade apenas durante o dia. O objetivo é reduzir o impacto causado por cerca de 30 milhões de visitantes que passam pela cidade anualmente. Segundo as autoridades locais, o dinheiro arrecadado seria utilizado para manter a cidade limpa e dar mais tranquilidade aos moradores.

PORTUGAL PARA POUCOS

Portugal está tão na moda que no próximo dia 10, a fundação Global Trust promove um evento gratuito para quem se interessa em morar ou investir em Portugal. Dizem que com o recente “boom” do mercado imobiliário português é possível dobrar o patrimônio investido em cinco anos. Literalmente, é pagar para ver. A Global Trust, especializada em investimento imobiliário internacional, vai apresentar vários bons motivos para quem quer investir ou morar em Portugal. O encontro acontece no Leblon Corporate, na Rua Dias Ferreira, no Leblon.

PROCON EM ALERTA

O Procon promoveu nesta semana uma mega-operação de fiscalização dentro do Centro Comercial José Carreteiro, a conhecidíssima Galeria do Peixe no centro de Niterói. Os fiscais descartaram 173kg e 656g de produtos impróprios ao consumo. A vistoria apontou que só de lagarto estavam vencidos quase 95kg. Entre os problemas na estrutura do local, a câmara resfriada apresentava paredes e tendas com ferrugem. Além disso, havia buracos nos pisos e acúmulo de água na área do açougue, ralos não sifonados e sem tela de proteção e porta da câmara congelada com borracha de vedação solta e com pontos de ferrugem.

FALANDO NISSO

Em Icaraí, a equipe do Procon localizou em um mercado na Rua Tavares de Macedo cerca de 8kg de cortes bovinos vencidos, além de 6kg de corte de acém bovino e 4kg e 500g de mocotó sem especificação de prazo de validade.

CULTURA PARA NITERÓI

Vitória da cultura popular. Após muita insistência do vereador niteroiense Leonardo Giordano para criação de um centro cultural público na Zona Norte de Niterói, foi aprovada na Câmara Municipal uma emenda parlamentar ao orçamento de 2019 que destina R$ 2 milhões para a construção do Centro. A ideia é que o local abrigue cinema, teatro e palco para apresentações.

O ALERTA DE TARCÍSIO

Em sua rede social, o vereador carioca Tarcísio Motta mostrou grande preocupação com o decreto de reorganização do MEC (9465/2019). Em um dos itens, foi definido como uma das atribuições da nova Diretoria de Acompanhamento das Políticas de Educação Básica “a avaliação das atividades desenvolvidas no Colégio Pedro II (artigo 15, inciso XII)”. Tarcísio argumenta que “não há menção semelhante a qualquer outro Instituto Federal de Educação (são 40!), Colégio de Aplicação ou autarquia vinculada ao MEC”. Segundo ele, é preciso que “estejamos alertas para impedir qualquer perseguição política ou afronta à gestão democrática desse colégio que é orgulho de tanta gente”.

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O BRASILIANISTA da Brown University, James Green, é o entrevistado no programa Roda Viva da TV Cultura, amanhã, as 22h, para falar sobre o livro Revolucionário e Gay: a vida extraordinária de Herbert Daniel. A partir de terça-feira no Youtube.

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Com João Francisco Werneck