O Papa Francisco enviou, de presente para dom Orani Tempesta, o arcebispo do Rio de Janeiro, a escultura Jesus Sem Teto, do artista canadense Timothy Schmalz. De bronze, em tamanho natural, ela representa um homem deitado num banco de praça, com um cobertor curto e os pés de fora, onde se podem ver as chagas da sua crucificação. O presente, enviado por ocasião do Dia Mundial dos Pobres, no próximo domingo, ganha simbologia especial pois dom Orani foi dos poucos líderes católicos do país a apoiarem Jair Bolsonaro, presidente eleito, que deseja criminalizar os movimentos sociais de sem-teto e sem-terra como organizações terroristas. Uma preocupação permanente do Papa são as pessoas abaixo da linha de pobreza no Brasil. Em 2014, elas eram 19,2 milhões, e já são mais de 32 milhões, segundo dado de 2016. No passado, uma dessas esculturas foi rejeitada pela Catedral de Saint Patrick, em Nova York, onde a arquidiocese a considerou “inapropriada”. À época especularam que a negativa foi para não desagradar aos adeptos da teologia da prosperidade, cuja doutrina diz que sem-teto e pobre são gente de pouca fé, e que Jesus não era desabrigado. O franciscano Papa Francisco, porém, se preocupa mais com justiça social do que com conveniências políticas. Exemplo de que a Igreja Católica precisava.

Dia 19, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, o líder sul-africano Nelson Mandela, símbolo da luta por direitos humanos, Christo Brand, ex-carcereiro de Mandela, de quem se tornou amigo (foto), será entrevistado, em evento aberto ao público, pelo sociólogo Tulio Custódio. No fim dos anos 70, Brand foi ser guarda na prisão de Robben Island, conheceu aquele que era considerado “o maior criminoso da África do Sul”. Aberta ao público e com tradução simultânea, a conversa será no espaço CIVI-CO, em Pinheiros, São Paulo, às 19h. Mediante inscrição pelo link:https://bit.ly/2RQZi7F.

Em atenção ao Estado brasileiro, digam aos cubanos que fiquem!

E retornam os médicos cubanos, depois de atender a 60 milhões de pacientes no Brasil

Ninguém deseja a desgraça do Brasil, principalmente do povo mais pobre brasileiro. Por isso, cultivamos a esperança de o futuro governo buscar um tipo de conciliação com o Governo de Cuba, que ontem anunciou a retirada do Brasil dos médicos cubanos, que vinham atuando no Programa Mais Médicos... Sabemos que esse programa surgiu da necessidade de interiorizar os cuidados médicos, bem como atender às favelas, onde os profissionais brasileiros se recusavam a ir... Vale notar que os salários que lhes foram oferecidos para isso (aos brasileiros) não era nada desprezível, e que, não tendo como alegar salários baixos, diziam não haver naqueles locais unidades de saúde equipadas à altura de um bom atendimento... Sabemos também que os profissionais merecem bons equipamentos e todo o material necessário, o que contudo não ocorre no serviço público do país, nem nas grandes capitais e grandes cidades, onde é bem mais confortável manter um emprego em hospital público, com horários via de regra flexíveis, podendo também exercer a medicina privada em suas clínicas... A medicina brasileira é extraordinária, não vemos qualquer necessidade de um atendimento no exterior. Nossos médicos são de excelência... mas para quem pode ter um bom plano de saúde... Os muito pobres em regiões longínquas não têm como contar com isso... Quem lê a Declaração (de despedida) do Ministério da Saúde de Cuba, divulgada ontem, fica sabendo que, nesses cinco anos no Brasil, 20 mil colaboradores cubanos prestaram 113 milhões 359 mil atendimentos médicos, em mais de 3 mil 600 municípios, perfazendo cerca de 60 milhões de brasileiros tratados. Mais de 700 municípios tiveram um médico pela primeira vez na História. Não é pouca coisa.... Segundo estudo encomendado pelo nosso Ministério da Saúde à Universidade Federal de Minas Gerais, é de 95% a aprovação e o reconhecimento dos governos federal, estaduais e municipais do Brasil e sua população aos médicos cubanos. Eles atenderam em favelas do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e nos 34 Distritos Especiais Indígenas, sobretudo na Amazônia... O Termo de Cooperação para a participação desses profissionais no Mais Médicos foi celebrado entre o Ministério da Saúde da República de Cuba e a Organização Pan-americana da Saúde - OPAS (braço da Organização Mundial de Saúde) ... Com o Apoio de suas famílias, os profissionais cubanos prestam serviço, atualmente, em 67 países. Em 55 anos, eles cumpriram 600 mil missões internacionais em 164 nações, somando mais de 400 mil trabalhadores da saúde... Entre as façanhas empreendidas por esses profissionais que honram a medicina estão a luta contra o vírus ebola na África, contra a cegueira na América Latina e o Caribe, a cólera no Haiti e o envio de 26 brigadas cubanas ao Contingente Internacional de Médicos Especializados em Desastres e Grandes Epidemias “Henry Reeve” para Paquistão, Indonésia, México, Equador, Peru, Chile e Venezuela, entre outros países... Na grande maioria das missões cumpridas, as despesas foram assumidas pelo governo cubano. Em Cuba, formaram-se de maneira gratuita 35 mil 613 profissionais da saúde de 138 países... Em todo o momento em que estiveram no Brasil, os médicos tiveram seus postos de trabalho em Cuba conservados e 100% de seus ordenados pagos, com todas as garantias de trabalho e sociais... Tudo isso pode ser traduzido em apenas duas palavras: solidariedade e altruísmo...A saúde do povo de um país transcende as posições ideológicas. Há alguns anos, foi em Washington, capital dos EUA, que a Organização Mundial de Saúde entregou a Cuba o prêmio por ter sido o único país a vencer o desafio de eliminar a transmissão da Aids e da sífilis congênita de mãe para filho... Há 170 estudantes americanos fazendo sua formação na Escola Latino-Americana de Medicina, em Havana, com bolsas de estudos dadas pelo governo cubano. A condição para receberem o ensino gratuito é, quando retornarem ao seu país, atuar em áreas carentes de serviços médicos... Para exercer a medicina nos EUA, os americanos formados em Cuba são submetidos, e com sucesso, aos mesmos exames e etapas por que passam médicos formados nos Estados Unidos. A qualidade da educação que recebem é considerada comparável com os programas das universidades americanas... O sucesso do Mais Médicos para o Brasil, com a participação de médicos estrangeiros, demonstrou que pode sim ser estruturado um programa de cooperação Sul-Sul sob o auspício da Organização Pan-americana da Saúde... O Mais Médicos é classificado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e pela Organização Mundial da Saúde como o principal exemplo de boas práticas em cooperação para se implementar a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável... Por tudo isso, esse desmonte entristece. Segundo a Declaração feita ontem por Cuba, seus profissionais não permanecerão aqui “devido às referências diretas, depreciativas e ameaçadoras à presença dos médicos”, pelo presidente eleito, que “declarou e reiterou que modificará termos e condições do Programa Mais Médicos, com desrespeito à Organização Pan-americana da Saúde e ao que foi conveniado com Cuba, pondo em dúvida a preparação de nossos médicos, condicionando sua permanência no programa à revalidação do título e, como única via, a contratação individual.” ... Lembrando o que disse na terça-feira Bolsonaro, “em uma campanha acontecem algumas caneladas”. Esperamos que as críticas a esses médicos, que tantas vidas têm salvo em nosso país, sejam apenas mais umas “caneladas”, que, com uma boa e diplomática conversa, possam ser superadas e o convênio mantido... O objetivo desse texto é pedir uma análise mais detida e profunda do assunto. O presidente não é mais um candidato em campanha, é um estadista, e assim se espera que aja em relação a esse tema prioritário. Não em atenção aos governos anteriores ou a qualquer partido político. Mas em atenção ao Estado Brasileiro...

SUPERSECRETÁRIO 

O ex-deputado federal tucano Otávio Leite não será apenas o próximo Secretário de Estado de Turismo. Ele assumirá uma pasta ainda mais gorda, já que ela será fundida com a pasta da Cultura. Otávio foi considerado um bom parlamentar, tanto em Brasília quanto no Rio de Janeiro, onde foi deputado estadual e vereador, por três mandatos.

***Com João Francisco Werneck