Constrangedora, patética mesmo, a entrevista do CEO do Flamengo, Reinaldo Belotti, citando Ronaldinho Gaúcho, Vágner Love e outros craques badalados, que já passaram pelo rubro-negro, na vã tentativa de defender o indefensável: o tal "alojamento modular" onde aconteceu a tragédia que matou dez meninos no Ninho do Urubu, Centro de Treinamento do Flamengo.
Pouco importa, senhor Belotti, quem dormiu lá antes e se nada de mais grave tinha acontecido até então. O que interessa - e isso é incontestável - é que o local que deveria ser um dormitório se tornou um forno crematório e ceifou a vida de dez jovens.
Com ou sem alvará; com ou sem picos de energia; com ou sem manutenção dos equipamentos de ar-condicionado, com ou sem extintores à mão, com ou sem portas de saída suficientes, o fato é que tudo que existia por lá, pretensamente, para garantir a segurança dos moleques não foi suficiente. Falhou. De forma calamitosa e definitiva.
Por isso, é impossível não responsabilizar o Flamengo que, em última análise, era o responsável direto pela segurança e proteção dos garotos que viviam no Ninho do Urubu. Pode não ter havido dolo, mas a culpa é indiscutível e intransferível. E os dirigentes rubro-negros fariam bem em assumi-la, ao invés de tentar se eximir dela com argumentos toscos como os do senhor CEO Reinaldo Belotti.
O avestruz ataca de novo
Num momento tão dramático como esse, quem tem que dar a cara a tapa e falar pelo Flamengo é o presidente, não um CEO, que ninguém nunca viu, nem sabe quem é. Acovardado, Rodolfo Landim apela para a velha tática do avestruz. Enfia a cabeça no buraco e deixa o corpanzil inteiro de fora...
Do que têm medo?
Tanto Landim, no dia da tragédia, quanto Belotti, ontem, quando falaram, limitaram-se a fazer pronunciamentos, recusando-se a responder a qualquer pergunta dos jornalistas. Do que têm medo? Por que não se explicam? Nada mais sintomático e comprometedor do que fugir dos questionamentos da imprensa.
Desculpa esfarrapada
Do CEO Reinaldo Belotti, em seu palavrório, falando sobre o funesto local que transformou em cinzas os sonhos de dez jovens promessas do Flamengo:
- Não é um puxadinho! É um alojamento! Foi aprovado pelo conselho da criança e do adolescente, que nos deu certificado. Ferj e CBF nos deram certificado de formadores. Tínhamos que manter alojamentos adequados, alimentação, higiene, segurança, salubridade... Ou seja, é porque tudo foi atingido.
De fato, tudo foi atingido - e destruído. Pelo fogo.