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Réquiem por Manchinha

Reprodução/internet -
Cadela Manchinha
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Chamava-se Manchinha e, confesso, não tive coragem de assistir ao vídeo de seu covarde assassinato, no estacionamento de uma das lojas do hipermercado Carrefour, em Osasco. Li apenas a notícia do crime hediondo e vi a foto da pobre cadelinha vira-lata na internet e nos jornais. Estou até hoje chocado e revoltado. Por isso, demorei um pouco a escrever sobre o assunto. Com as férias do futebol, é a hora.

Dói-me a alma, como se tivesse sido com um dos meus cães. Em devaneios já cheguei a imaginar o poltrão tentando agredir um deles e sendo imediatamente atacado pelo meu casal de pastores alemães, Rin Tin Tin e Jade e por Jujuba, minha dogue alemã. Com absoluta certeza, o biltre estaria correndo até agora. E se não tivesse sebo nas canelas acabaria feito em pedaços, como merecia.

Não, amigos, meus cachorros não são bravos. Ao contrário. São carinhosos com as crianças e dóceis com a família e os amigos da casa. Mas, principalmente, os pastores têm um sexto sentido que lhes permite perceber de longe quem é do bem ou do mal. A pobre Manchinha não teve tal percepção. O desalmado, provavelmente, fingiu-se de amigo para envenená-la e desferir as primeiras porretadas, que lhe quebraram as patas e a impediram de fugir, sendo, então, surrada até a morte. Como um ser humano é capaz disso?

Macaque in the trees
Há quem não goste de cães, eu sei e respeito. Mas daí a maltratá-los, abandoná-los, envenená-los e matá-los? (Foto: Reprodução/internet)

Há quem não goste de cães, eu sei e respeito. Mas daí a maltratá-los, abandoná-los, envenená-los e matá-los? Me perdoem, mas quem faz isso nem deve ser considerado gente. E, quer saber, nem bicho, pois na natureza não existe tal maldade, apenas luta pela sobrevivência. Quem comete uma barbaridade dessas não passa de um monstro. E como tal deve ser tratado.

Li um dos comunicados do Carrefour, tentando limpar a própria barra, ao atribuir o assassinato a um “funcionário de uma empresa terceirizada, que já foi afastado”. Um primor de desfaçatez. Como se fosse a coisa mais normal do mundo, “explicam” na tal nota que o cachorro estava circulando há vários dias pelo estacionamento e que o Centro de Zoonoses de Osasco foi acionado, mas não recolheu o animal.

No dia do “incidente”, segundo a nota, clientes se queixaram da presença do cão e um funcionário da empresa terceirizada “tentou afastá-lo” e a “abordagem pode ter causado um ferimento na pata do animal” que, posteriormente, ao ser imobilizado por profissionais do órgão (Centro de Zoonoses) “desfaleceu, em razão do uso do enforcador”, um tipo de equipamento de contenção.

Dizem que o vídeo (que, insisto, não vi por falta de estômago) desmente categoricamente tal versão – o que deve ser verdade porque o próprio Carrefour, soltou, dias depois outro comunicado, reconhecendo um “grave problema” e garantindo que não vai se eximir de sua responsabilidade.

Tarde demais, ao menos para mim. Aqui em Itaipava, na minha Ponderosa, três vira-latas também andaram rondando a casa por vários dias. O que fiz? Abri o portão e adotei-os. E é em honra de todos os meus cachorros que jamais voltarei a botar os pés nesse hipermercado, ou consumirei seus produtos.

Se o fizesse, jamais teria coragem de voltar a aceitar os apaixonados “lambeijos” de Rin Tin Tin, Jade, Lolipop, Arya, Bentinho, Ballerina, Beyoncé, Wolf, Grumm, Brienne, Billie Jean (meus pastores alemães), Jujuba (dogue alemã), Cazuza (golden retriever), Thor (labrador), Banzé, Pretinha e Farofa (os vira-latas adotados das ruas).

Por eles e por Manchinha, Carrefour, nunca mais!