ASSINE
search button

O médico e o monstro do Fla

Compartilhar

No dia em que o Flamengo elege o seu novo presidente (Rodolfo Landim é o favorito das pesquisas numa proporção de 2 votos por 1 de Ricardo Lomba), é hora de fazer um bom balanço sobre os seis anos de administração de Eduardo Bandeira de Mello. E para julgá-la com isenção é obrigatório dividir a análise em duas partes: a econômico/financeira e a desportiva, notadamente no futebol.

Sob esse prisma é que se descobre em Bandeira uma espécie de reencarnação de um famoso personagem da literatura e do cinema, imortalizado por Spencer Tracy, em filme de 1941: “Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, por aqui chamado de “O Médico e o Monstro”.

Na administração das finanças rubro-negras, que recebeu com dívidas de quase R$ 800 milhões, Bandeira foi exemplar. Entregará o clube, ao final deste ano, devendo cerca de R$ 300 milhões, devidamente equacionados, sem penhoras ou execuções judiciais no horizonte.

Ouro sobre o azul, quando se considera que o Fla faturou mais de R$ 500 milhões em 2018 e orçamento previsto para 2019 beira os R$ 800 milhões somente no futebol. É importante lembrar ainda que o Mais Querido, antes da Bandeira, era o clube mais endividado do país e agora ocupa apenas a décima colocação desse ranking negativo (o Botafogo é o novo líder).

É inegável, portanto, o mérito administrativo de Bandeira e seus pares, que organizaram a casa e a tornaram não somente viável, mas altamente lucrativa. Nota 10, no quesito. “Médico” (do bem) total. Palmas pra ele.

O “Monstro” (do mal) surge quando se lembra do desempenho esportivo, notadamente nas duas principais modalidades do clube: o remo e o futebol. Em seis anos de administração, Bandeira não conseguiu vencer nem sequer um título carioca nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas, que viu o Botafogo conquistar um inédito (para ele) hexacampeonato! Detalhe: o Fla tinha ganhado os quatro últimos anos seguidos. Desastre total.

No futebol – a maior paixão e a razão de viver do clube mais popular do país – o quadro não foi muito melhor. Em seus dois triênios, apesar do altíssimo investimento feito nos últimos anos, o Mais Querido abiscoitou apenas dois carioquinhas e uma Copa do Brasil que lhe caiu no colo, meio que por acaso, em 2013. Fora isso, colecionou micos seguidos na Libertadores e vice-campeonatos na Copa do Brasil, na Sul-Americana e no último Campeonato Brasileiro. Uma grande decepção.

O absurdo número de contratações equivocadas, técnicos contratados e demitidos e dirigentes de futebol trocados mostra bem como Bandeira de Mello jamais se encontrou no mundo do velho e violento esporte bretão. Não é e nunca foi do ramo e sua arrogância o impediu de admitir tal deficiência e se cercar de quem realmente entendesse do assunto.

Assim, ele deixará a Gávea como um excelente síndico e um péssimo presidente. Autêntico Médico e Monstro. E o diabo é que encarnou o Monstro exatamente onde não poderia e, por isso, a torcida não o perdoa.