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Rendição à barbárie

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Primeiro foi a torcida única, depois o estádio vazio, agora o jogo fora do país! Pouco a pouco, o futebol sul-americano vai se rendendo à barbárie. Os absurdos cometidos na final da Libertadores, aquela que seria a maior de todos os tempos e se tornou apenas a mais vergonhosa da história, demonstram, uma vez mais, como, por aqui, os dirigentes do esporte mais popular do planeta não sabem como lidar com a violência crescente de seus torcedores.

A polícia intensifica a vigilância nas arenas? Os selvagens marcam brigas fora delas. E espancam. E matam. Pior: na maioria dos casos saem impunes ou recebem penas brandas, que nem sequer são de fato aplicadas. A coisa mais comum do mundo é, algumas rodadas depois, ver os mesmos bandidos novamente em ação, como se nada tivesse acontecido.

O menino que morreu, vítima de um morteiro, na Bolívia; o botafoguense assassinado, a golpes de espeto de churrasco, perto do Engenhão, e o rubro-negro que perdeu a vida a tiros, longe dele, em briga de torcidas, são apenas alguns dos inúmeros casos da brutal e inaceitável escalada da selvageria desencadeada no ambiente do “velho e violento esporte bretão”, que recebeu essa alcunha nos tempos em que a violência se resumia a algumas caneladas nas disputas de bola.

No mesmo comunicado em que pregou respeito e lealdade entre os rivais, o presidente da desmoralizada Conmebol, Alejandro Domínguez, anunciou a rendição aos selvagens, ao comunicar que Boca e River jogarão a decisão fora do país. Disse e saiu correndo, sem permitir nem sequer uma pergunta dos jornalistas. Patético.

O vexame do Monumental de Núñez poderia ser usado como exemplo para uma drástica e necessária mudança de atitude em relação à leniência com que o câncer da violência das torcidas vem sendo tratado até agora. O River deveria ser eliminado e suspenso da competição por algumas temporadas e o Boca considerado o campeão. Simples assim.

Já existe até jurisprudência no assunto. Em episódio semelhante, na Sul-Americana de 2015, o Boca foi eliminado, porque, no intervalo do jogo contra o River, sua torcida jogou gás de pimenta no vestiário do rival. Como não usar o mesmo critério, agora? Em ambos, torcedores de um clube agrediram os jogadores do outro. Inadmissível.

O argumento de que os clubes não podem ser culpados pelo que fazem os seus torcedores é pueril. Até porque, como se sabe, os mais violentos deles, reunidos nas famigeradas torcidas organizadas, vivem às custas das benesses que lhes são dadas pelos cartolas.

No futebol da Inglaterra, as tragédias de Heysel e Sheffield, nos anos 80, provocaram suspensões de cinco anos de todos os clubes ingleses das competições europeias (o Liverpool pegou seis) e levaram o país a produzir o relatório Taylor, reformar os seus estádios e banir os hooligans deles.

Somente medidas duras contra os clubes e os torcedores presos por brigas e agressões (como as cometidas contra o ônibus do Boca, no caminho para o estádio) farão retroceder esse processo lamentável que cada vez mais afasta as pessoas de bem das arquibancadas, transportando-as para o sofá de casa, diante da televisão. Exatamente como acontecerá nessa lamentável final – caso ela seja mesmo realizada.

Pilatos da bola

Presente ao Monumental de Núñez no dia do jogo que não houve, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, incorporou Pôncio Pilatos e lavou as mãos, se mandando da Argentina sem dar nem sequer uma opinião sobre o que deveria ser feito.

O jogo que vale

O Fluminense enfrenta o Atlético Paranaense hoje, pela Sul-Americana, mas, na minha opinião, o jogo mais importante para o tricolor é o de domingo, contra o América Mineiro, quando lutará para se manter na primeira divisão. Me parece improvável que o tricolor consiga reverter, logo mais, a desvantagem de 2 a 0, por causa da derrota por esse placar, na partida de ida.

E o esforço desta noite pode custar caro na última rodada do Brasileiro. É bom lembrar que o ataque do Flu não balança as redes há sete jogos: são 672 minutos de seca (recorde absoluto na história do clube). Hoje, precisará marcar, no mínimo duas vezes, para levar para a decisão para os pênaltis. No domingo, basta não sofrer nenhum gol.

O duelo do dia

Com as escalações de Neymar e Mbappé garantidas pelo técnico Thomas Tuchel, o Paris Saint-Germain enfrenta hoje o Liverpool, no Parc des Princes, numa partida importantíssima para ambos, numa chave surpreendentemente liderada pelo Napoli até agora. As duas maiores estrelas da equipe francesa atuarão, mas há justificadas dúvidas sobre suas condições físicas. Neymar sentiu uma fisgada na coxa no amistoso da seleção brasileira com Camarões, na semana passada, e Mbappé se contundiu no ombro, jogando pela França, no mesmo dia. O duelo de hoje, entretanto, é daqueles que vale qualquer sacrifício.

Custo benefício

Escrevi ontem e reafirmo: Renato Gaúcho é, para mim, o melhor técnico do Brasil no momento. Mas nenhum treinador vale R$ 1 milhão de salários por mês. Que receba prêmios por conquistas, tudo bem. Mas o fixo por mês deveria ser bem menor. Para ele ou qualquer outro.