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O clássico dos 6 a 0

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Quando eu era garoto, o maior rival do Flamengo não era o Vasco e nem mesmo o Fluminense, apesar do inegável charme do Fla-Flu. O adversário que tirava o sono do torcedor rubro-negro, nos anos 60 e 70, era o Botafogo, oponente de amanhã. De lá pra cá, muita coisa mudou. Mas ainda são de jogos entre o Mais Querido e o Glorioso algumas de minhas melhores lembranças no futebol.

A mais importante delas, fez 37 anos, anteontem. Qualquer torcedor dos dois clubes, com mais de 45 anos de idade, sabe bem do que estou falando. E os mais jovens, com certeza, também já ouviram falar muito dessa partida. É parte de destaque da história do clássico.

O jogo que acaba de completar 37 anos foi, na verdade, o segundo ato de uma epopeia iniciado nove anos antes, em 1972, exatamente no dia do aniversário do rubro-negro. Naquele 15 de novembro, um domingo, o Botafogo deu um autêntico presente de grego ao coirmão. O timaço alvinegro, dirigido pelo ex-zagueiro Leônidas, meteu 6 a 0 no rubro-negro, ironicamente dirigido por Zagallo e cheio de ex-botafoguenses no time.

Jaizinho fez até gol de letra e a chaga deixada na alma dos rubro-negros passou a ser sempre lembrada nos clássicos entre eles, com uma pequena e singela faixa, estendida do lado da torcida alvinegra. O que ela dizia? Nada. Num pano branco, havia apenas a lembrança humilhante: 6 a 0.

No finalzinho dos anos 70 e início dos 80 o Flamengo, graças à maquina de jogar bola comandada por Zico, reverteu a velha freguesia (até então, o Botafogo era o único rival do Rio que levava vantagem no confronto direto com o rubro-negro). Mas a ferida dos 6 a 0 seguia lá, aberta, sem o menor sinal de cicatrização.

O curioso é que, em diversos jogos, nessa época (de vacas magérrimas para o alvinegro), o Fla chegou a abrir 3 e até 4 a 0, no primeiro tempo, mas sempre diminuiu o ritmo e a esperada vingança não veio. Até o dia 8 de novembro de 1981. Naquela tarde, uma vez mais, o timaço de Zico sapecou 4 a 0 nos 45 minutos iniciais. Mas, após o intervalo, como das vezes anteriores, passou a tocar a bola. Até que, aos 30 minutos, num contra-ataque, Adílio foi derrubado por Rocha e Zico, de pênalti, fez o quinto gol.

A partir daí, uma loucura tomou conta do Maracanã lotado. O coro ensurdecedor de “Queremos seis! Queremos seis” incendiou o estádio e, no gramado, os jogadores dos dois times passaram a se empenhar como se disputassem os minutos finais de uma decisão de Copa do Mundo.

Aos 42 minutos, por fim, Andrade acertou uma bomba da entrada da área e a bola entrou no ângulo de Paulo Sérgio, para delírio da torcida do Fla. Estava consumada a tão sonhada vingança e iniciava-se ali um dos períodos de maior glória do rubro-negro que, em 36 dias, conquistaria o Estadual (na época, ainda muito importante), a Libertadores e o Mundial. Quatro títulos!

Sim, porque aqueles 6 a 0 valeram tanto quanto os outros canecos. Pergunte a qualquer rubro-negro.

Em tempo: tive a ventura de estar no Maraca nos dois 6 a 0. No do Botafogo, como torcedor. No do Flamengo, já como jornalista, responsável pela cobertura do dia a dia do clube.

Complicou

Apesar da derrota, o Fluminense deve erguer as mãos para o céu, pois o placar de 2 a 0 para o Atlético Paranaense foi generoso com o tricolor, que levou um baile e, além dos gols, tomou duas bolas na trave e viu o goleiro Júlio César ser obrigado a fazer milagres para evitar a surra acachapante.

Ainda é possível reverter a situação e se classificar para a final da Sul-Americana? É. Mas ficou muito difícil. Qualquer gol que o Furacão marque, no jogo da volta, no Maracanã, obrigará o Flu a fazer quatro e, diante da fragilidade demonstrada no Paraná, o risco de que isso aconteça é grande. Mais que nunca, o Flu precisará ser um time de guerreiros. E talvez nem isso seja o bastante.

O naufrágio de Ganso

É desoladora a situação de Paulo Henrique Ganso, no modesto Amiens, da França, antepenúltimo colocado do fraquíssimo Campeonato Francês que, a rigor, tem somente um time de verdade: o Paris Sain- Germain. Vendido para o Sevilla, em 2016, o armador não se firmou – chegou a ficar oito meses barrado, sem jogar, na Espanha – e, emprestado ao pequeno clube francês, tampouco conseguiu brilhar. Continua no banco de reservas.

Do ponto de vista estritamente econômico, bem ou mal, Ganso conseguiu sucesso. Está ganhando salários que jamais conseguiria por aqui, mas, em compensação, enterrou sua carreira – que começou tão bem, a ponto de muita gente considerá-lo até superior a Neymar, quando ambos despontaram na Vila Belmiro.

Muita gente atribui seu fracasso às seguidas contusões, que o obrigaram a fazer quatro cirurgias, nos joelhos. Há quem entenda que seu estilo de armador clássico, lento e sem se aplicar na marcação, o prejudicou. Acho que as duas coisas, combinadas, impediram seu sucesso na Europa. Mas creio que no Brasil, onde o futebol praticado é infinitamente inferior em termos técnicos, ele ainda poderia fazer algum sucesso.

Pena que, aos 29 anos, Ganso nem sequer pense nessa hipótese. Prefere ficar por lá, no banco de reservas de times cada vez mais inexpressivos. Tornou-se um chinelinho bem remunerado. Triste fim para quem surgiu como grande promessa e esperança de devolver à seleção brasileira um meia-armador de raro talento, algo que já não temos faz tempo.