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Quando a grana não basta

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Assistindo ao sofrimento do Paris Saint Germain para empatar com o Napoli, ontem, em pleno Parc des Princes (resultado que já deixa o bilionário clube francês ameaçado de não passar à próxima fase da Liga dos Campeões), me peguei pensando em como no mundo do futebol não basta apenas ter mais dinheiro que os outros.

É preciso conhecer bem as peculiaridades desse esporte e suas manhas; escolher um dirigente e um treinador que, além de competentes e do ramo, sejam compatíveis com o perfil e o histórico do clube e de seus torcedores; saber montar um elenco que se harmonize e, por fim, administrar com extrema habilidade o natural conflito de egos de suas maiores estrelas.

O time construído com a grana do petróleo do Catar de Nasser Al-Khelaifi é, no papel, uma constelação de dar água na boa em qualquer torcida do planeta. Na zaga tem Daniel Alves, Thiago Silva e Marquinhos (os dois primeiros não jogaram ontem), no meio, com a camisa 10, Neymar e no ataque um trio espetacular: Mbappé, Cavani e Di Maria. Isso tudo além de excelentes coadjuvantes, pois não há um perna-de-pau sequer na escalação.

Pode não dar certo? Pode, como se tem visto, ano após ano, na Liga dos Campeões – sua grande meta, pois ganhar somente os irrelevantes títulos franceses não justifica o tamanho do investimento.

Num grupo com Liverpool, Napoli e Estrela Vermelha, o PSG termina as três primeiras rodadas com apenas quatro pontos (uma vitória, uma derrota e um empate), atrás do Napoli, com cinco, e o Liverpool, com seis. Agora, terá que enfrentar o time italiano que quase o derrotou ontem (esteve duas vezes à frente do placar) lá no San Paolo, onde ganhar é tarefa duríssima. Se perder, ou mesmo empatar, precisará derrotar o Liverpool em Paris e ainda torcer por uma combinação de resultados.

Situação bem incômoda para a equipe francesa que, sabidamente, é dividida em grupos étnicos que convivem, mas não morrem de amores uns pelos outros: notadamente os brasileiros, os franceses e os que falam espanhol (capitaneados por Cavani e Di Maria).

É verdade que as grandes equipes mundo afora vêm se tornando cada vez mais espécies de Torres de Babel. Mas são montadas com mais inteligência, levando em conta a personalidade de seus maiores craques. Ao contratar Neymar (e Daniel Alves), o PSG não pensou nisso. E os conflitos se repetem, por mais que o brasileiro agora diga morrer de amores por Mbappé, que o ofuscou na última Copa, e com ele tenha passado a trocar passes açucarados, isolando Cavani...

O craque revelação do último Mundial tornou-se uma perigosa sombra para Neymar em seu obsessivo sonho de se tornar o melhor do mundo. E, se os franceses não forem longe nesta “Champions”, a impressão que fica é que, logo, logo o PSG se tornará pequeno para os dois.

Como se vê, grana ajuda um bocado, mas não é o bastante. Lembra algo?

Pior ataque do mundo

O tema me remeteu a uma lembrança dolorosa para a torcida do Flamengo. Nem falo dos últimos elencos rubro-negros, montados com rios de dinheiro e de pouquíssimos resultados, mas de um trio que, ao ser formado, recebeu a alcunha de melhor ataque do mundo e, com o decorrer dos jogos, virou o pior do mundo: Sávio, Romário e Edmundo.

Era o ano do centenário do Mais Querido (1995) e o então presidente Kleber Leite, que no início do ano surpreendera o meio do futebol, contratando o Baixinho, então melhor jogador do planeta; após o Estadual (perdido para o Fluminense, com o gol de barriga de Renato Gaúcho), trouxe também o Animal, que estava em grande forma e em litígio com o Palmeiras. A dupla, ao lado de Sávio, grande estrela revelada na base, parecia fadada ao sucesso. Pois sim...

Inveja, intrigas, brigas e boicotes entre eles fizeram do elenco um caos e, por pouco, o Flamengo não foi rebaixado aquele ano – acabou em vigésimo primeiro, entre vinte e quatro clubes (na época, caíam somente dois). E o pior ataque do mundo acabou desfeito em seis meses.

Palmas de pé

É impressionante a evolução de Renato Gaúcho como treinador. Seu trabalho no Grêmio é exemplar, a ponto de conseguir bater o até então invicto River Plate, no Monumental de Nuñez, mesmo jogando desfalcado de seus dois melhores jogadores: Everton Cebolinha e Luan.

Sob o comando de meu xará, o tricolor gaúcho é uma equipe extremamente aplicada em termos táticos, não abre mão do ataque e sabe tocar a bola com incrível talento para um grupo formado, entre outros, por vários jogadores que estavam sem espaço no mercado – Jael, Cortês, Cícero, Leonardo Moura etc.

O grande técnico é aquele que sabe extrair o melhor de seus comandados. Por vezes, consegue que façam mais até do que os próprios acreditam ser capazes. É o que se vê nesse Grêmio, que está bem próximo de mais uma final de Libertadores – não custa lembrar, é o atual campeão.

Não à toa, Renato é, no momento, um dos treinadores mais cobiçados do Brasil – o Flamengo que o diga. Mas, se conquistar o bi continental, alguém será capaz de tirá-lo do Sul? Acho muito difícil.