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O Eurico da Gávea

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Acertar a venda de Lucas Paquetá, o principal jogador do time do Flamengo, na reta final do campeonato, por um valor inferior ao da multa rescisória, iguala o presidente Eduardo Bandeira de Mello a Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco, que também liquidou os melhores jogadores do elenco cruz-maltino, depois de perder a eleição no clube, no final do ano passado.

Derrotado nas urnas do Rio, que rejeitaram sua pretensão de se eleger deputado federal pelo estado (escorado na fama do clube), e sabendo que Rodrigo Lomba, seu candidato no pleito rubro-negro de dezembro, dificilmente conseguirá se eleger, Bandeira resolveu agir da mesma forma torpe que o ex-mandatário da Colina.

Sobrepõe assim sua vingança do grupo do qual se separou nas eleições passadas (e que, para o seu desgosto, deverá vencer as próximas) aos interesses do Flamengo, que não merecia sofrer, nessas rodadas finais, os efeitos de uma bomba desse calibre, incendiando de vez o clima político no clube de maior torcida do País.

Ao invés de estar focado nos treinamentos para o Fla-Flu de sábado, Lucas Paquetá passou a manhã de ontem num hospital do Rio, fazendo exames com médicos do Milan. Como ficará sua cabeça, daqui para frente? Continuará dividindo todas as bolas e se aplicando com a mesma disposição ou, até inconscientemente, passará a se poupar, temendo uma contusão que possa melar o negócio? E o restante do time, como reagirá a isso? E o técnico Dorival Júnior?

Nos bastidores da Gávea, o que se comenta agora é que a negociação para a venda do talentoso meio-campo, por 35 milhões de euros (a multa era de 50 milhões de euros), já estava em curso há pelo menos um mês, mas era mantida em sigilo porque Bandeira de Mello temia perder votos em sua campanha de deputado. Se temia e escondeu é porque tinha consciência de que o negócio não era bom, nem o momento adequado.

Em vídeo que passou a circular ontem nas redes sociais, depois que vazou a notícia do acerto da negociação com o Milan, Ricardo Lomba é flagrado, dizendo a um grupo de sócios (entre os quais fazia campanha) que o jogador deveria mesmo ser vendido, mas que com o dinheiro arrecadado, ele traria reforços “do nível”. Uma piada, como se pode ver recentemente, com a venda de Vinícius Jr. e a contratação de Vitinho.

Membros da oposição afirmam, aliás, que toda a dinheirama de Vinícius Jr. já foi consumida. Não restou um tostão. E que Vitinho custou bem mais do que os R$ 40 milhões, anunciados. Especula-se que os gastos totais tenham ficado entre R$ 46 e 51 milhões – por causa do pagamento aos agentes e intermediários responsáveis pela transação. Um descalabro.

Se eu fosse Rodolfo Landim, virtual próximo presidente rubro-negro, pediria, de imediato, que os conselhos do clube passassem a auditar, com rigor, a transação de Paquetá, que deve injetar cerca de R$ 100 milhões nos cofres do clube (dos 35 milhões de euros, apenas 70% serão do Fla). Caso contrário, correrá o sério risco de assumir um elenco desfalcado de sua principal estrela e ainda ter uma surpresa desagradável ao conferir o caixa.

Muito estranho

Se três clubes já tinham demonstrado interesse em contratar Paquetá (Barcelona, PSG e Milan), por que o Flamengo não se aproveitou para fazer um leilão, que permitisse elevar o preço final, no mínimo, ao valor total da multa de 50 milhões de euros? Por que não esperou acabar o campeonato? E por que os dirigentes do Fla se mandaram correndo para Milão para negociar o atleta? Não é quem quer comprar que vai à loja?

Mais um

Depois de Lucas Paquetá, outro titular importante está em vias de ser vendido: o excelente volante colombiano Cuellar. Na Gávea, já se fala até no valor da negociação: R$ 73 milhões. Foi para isso que a administração Bandeira de Mello tornou o clube superavitário?

Feirão

Faltando pouco mais de dois meses para o final do mandato, há quem tema uma verdadeira liquidação no elenco rubro-negro. O zagueiro Léo Duarte é outro que é visto, pelos atuais dirigentes e os empresários que gravitam no Ninho do Urubu, com boas possibilidades de se transferir, na janela do final do ano. O mesmo se diz do lateral-esquerdo Trauco. Está aberto o feirão da Gávea. Tudo por dinheiro - e para sacanear os desafetos da próxima administração.

Rumo ao anonimato

Para quem tinha a pretensão de se tornar o melhor presidente da história do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello vai encerrando melancolicamente os seus seis anos de administração. Não ganhou nada importante no futebol (somente uma Copa do Brasil, quase que por acaso, e dois Estaduais mixurucas), se deixou picar pela mosca azul da política, onde nem sequer foi capaz de obter sucesso, e encerra o ciclo com fecho de ouro, demonstrando que seu revanchismo é maior que seu amor pelo clube. Após as eleições de dezembro, como se costuma dizer em relação aos canastrões, “despontará para o anonimato”. Que vá com Deus e fique longe do Fla.

Falso rubro-negro

E o Leonardo, hein? Pode ser rossonero lá na Itália, mas rubro-negro, aqui no Brasil, certamente, não é!