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Sofrimento duplo diante da TV

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Amigos de infância, desde o berço, amavam cores diferentes: um rubro-negro; o outro, alvinegro. Influência dos pais, parceiros e vizinhos de cadeiras cativas, no Maracanã. Os filhos, porém, eram da geração “pay per view” e, embora também frequentassem os estádios, curtiam assistir aos jogos, juntos, diante da telinha, um gozando o outro, numa boa.

- Chega mais, brother. Vai tomando uma cervejinha porque hoje é sofrimento pros dois! – profetizou o torcedor do Fla, anfitrião da noite.
As perspectivas, de fato, não eram boas, nem para o Botafogo, contra o Cruzeiro; nem para o Flamengo, cheio de desfalques, diante do Inter.:
- Ih, rapaz, o Zé Ricardo meteu três cabeças de área!

Concordaram que era mais prudente, depois do sacode no Sul e, enquanto comiam batatinhas fritas e tomavam umas louras geladas, a bola rolou no Nilton Santos. Uma caneta de Jean em Bruno Silva (ex-jogador do Glorioso) levantou a torcida no estádio e o botafoguense na sala do amigo:
- Essa valeu como um gol! Toma, traidor!

A explosão de alegria seria maior logo depois, quando Erik tocou de cabeça para a área e Luiz Fernando estufou as redes de Fábio:
- O que é isso? Não estou conhecendo o meu time! Que golaço!

O rubro-negro sorriu e comentou, esperançoso:
- Pelo visto, é noite de zebras! Quem sabe também lá no Beira-Rio?
- Que a zebra seja só no Rio – replicou o amigo.
- Olha que falta muito jogo aqui...
Faltava mesmo. E, aos 36 minutos, numa falta do meio da rua, Edílson disparou um petardo e o goleirinho alvinegro aceitou:
- Coisas que só acontecem ao Botafogo: temos Gatito e Jefferson, os dois se machucam ao mesmo tempo e temos que aturar esse frangueiro!

Seguia o jogo e, numa bola alta na área, Fábio acertou uma joelhada na bunda de Kieza, mas o juiz não marcou o pênalti.
- Já começaram a meter a mão! Sempre contra nós!
- Olha o chororô...

Acabaram rindo e terminou o primeiro tempo. Depois do intervalo, o Botafogo voltou atacando e Igor Rabello, numa cabeçada, acertou o travessão. Logo depois, Luiz Fernando obrigou Fábio a grande defesa. Em seguida, foi a vez de Kieza fazer o goleiro do Cruzeiro trabalhar de novo.
- Me belisca, que acho que estou sonhando. Estamos jogando bem!

A essa altura, o rubro-negro já estava mais interessado nas notícias sobre o jogo do Flamengo, que lia na internet:
- Enfim, vai começar jogando o Lincoln! Mas está escalado também o Rômulo... Que São Judas Tadeu nos proteja!

No Nilton Santos, aos 41 minutos, Fábio faz um milagre, em conclusão de Aguirre. Pouco depois, terminava a partida com o 1 a 1 no placar.
- Merecíamos vencer!
- Como perdemos de 2 a 0, desse time, na Copa do Brasil?

Canal trocado, o palco agora era o Beira-Rio. Começou a partida e o Inter saiu amassando o Flamengo. Renê, em duas lambanças, cedeu logo dois escanteios, provocando a ira do rubro-negro:
- Como é ruim esse cabra da peste!

Com cinco minutos, gol do Inter. Lambança grosseira de Léo Duarte.
- Já vi que vai ser um sacode...

Com a vantagem, o Colorado passou a tocar a bola e o Fla ia se arriscando no ataque. No chuveirinho, como sempre. Aos 21 minutos, Pará cruzou e Moreno, cara a cara com Lomba, cabeceou em cima do goleiro.
- Como é ruim esse Cafuringa colombiano! – esbravejou o flamenguista, provocando gargalhadas do amigo.

Ato contínuo, mais uma cabeça de Marlos obrigou Lomba a outra defesa.
- Não adianta! Essa praga não faz gol!

Como de hábito, o Fla jogava em seu estilo arame liso e não machucava ninguém. A TV anunciou gol do Palmeiras e, com isso, o rubro-negro caía para a quarta posição na tabela. Terminou o primeiro tempo e, irritado, partiu do flamenguista a proposta inesperada e desiludida:
- Vamos acabar o campeonato fora da zona da Libertadores. Não tenho mais paciência pro time desse estagiário. Que tal ver o jogo do Djokovic, no US Open?

Proposta aceita, com entusiasmo. Um urro do lado de fora, porém, chamou a atenção. Troca rápida de canal, a tempo de ver o golaço de Vitinho, no replay. No minuto seguinte, porém, gol de cabeça do Inter. Nova falha da zaga rubro-negra, que não marcou Rodrigo Dourado.
- Voltemos pro Nole! Esse time não tem jeito...

Não, mesmo. Só falta perder a Copa do Brasil pra jogar o ano no lixo.

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futebol