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Um CD com a alma à flor da pele

Reprodução -
Capa do CD de Celsinho Silva
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Para quem não conhece Jorge José da Silva, o Jorginho do Pandeiro, eu tenho prazer em informar: ele foi um dos mais antigos integrantes do lendário conjunto de choro Época de Ouro, fundado por Jacob do Bandolim. Um grupo do qual também fizeram parte o craque Dino Sete Cordas, irmão de Jorginho do Pandeiro, e o não menos craque César Faria violonista e pai de Paulinho da Viola.

Pois bem, hoje Celsinho Silva, o filho de Jorginho do Pandeiro, tem o choro nas veias. Sendo ele herdeiro do pai, escolheu o mesmo instrumento para chamar de seu, o pandeiro – que aos poucos se transformou em “sobrenome” tanto de pai como de filho.

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Capa do CD de Celsinho Silva (Foto: Reprodução)

Vamos então a “nas ondas da noite” (independente), o primeiro CD de Celsinho.

Curiosidade: antes da audição, brinquei de “adivinhar” o que ouviria no álbum. Haveria participações especiais? Arranjos de acordo com a tradição dos gêneros centenários? Ou, ainda, instrumentistas virtuosos, formados em rodas de choro e de samba?

Sim, lá estavam alguns sambas clássicos: “Nas Ondas da Noite” (Paulinho da Viola), “Máscara Negra” (Zé Keti)”, “Agradeço a Deus” (Dona Ivone Lara e Mano Décio), “Quando o Samba Acabou” (Noel Rosa).

Participações especiais? Certamente. Neusa Albuquerque da Silva (mãe de Celsinho), que cantou lindamente “Foi Uma Pedra Que Rolou” (Pedro Caetano), e a cantora japonesa Machiko Watarumi, cantando “Máscara Negra”.

Virtuosos? Novamente, sim: um seleto time de instrumentistas, a quem se deve reverenciar. Arranjadores mostrando sabedoria a cada compasso; ritmistas encaixando as levadas, alternando-as; dinâmicas em solos, duos e trios; e maestros brilhando na utilização dos sopros e na sensibilidade com que criaram os arranjos – uma das marcas do CD.

E esse mesmo brilhantismo também está explícito, por exemplo, em “Convivência” (Celsinho Silva e Paulinho Pinheiro), seja no trompete de Aquiles Moraes ou na flauta de Eduardo Neves; em “Copa 5 ou Copa 6” (CS e Alberto Paz), pelo sax tenor de Eduardo Neves; e na flauta de Mário Séve, em “Quando o Samba Acabou” (Noel Rosa).

Já “Em Corra e Olhe o Céu” (Cartola e Dalmo Castelo), o canto vem com o violão; arritmo, o piano dedilha notas; o ritmo chega suave (assim como a flauta em sol, ela que a seguir improvisa); e os arranjos, como todos do álbum, são inspiradíssimos. Volta a flauta, o coro intervém... Meu Deus!

Um ótimo compositor? Sim, são sambas de bamba as músicas de Celsinho Silva que aí constam – “Quarto de Hotel” (Agenor de Oliveira, Celsinho Silva e Delcio Carvalho), “Bastião de Giz”, “Convivência” e “Mágoa Iluminada” (Celsinho Silva e Paulo César Pinheiro).

Nova e boa surpresa? A voz de Celsinho! Está aí um pandeirista com voz feita para cantar samba – a suavidade com que canta é tocante. As divisões rítmicas, seguidas por um leve vibrato na voz, vêm na cadência do pandeiro. A afinação é digna. Mas o principal é ouvir, vindo lá do fundo de sua alma, um canto/pandeiro a serviço de recordações afetivas. Emocionante!

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4