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O compositor (in)visível

Reprodução -
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Nos dias de hoje, a missão primeira de um compositor é mostrar-se vivo para o público que gosta do tipo de música que ele faz. Ironia: gente que não o vê, nem ouve, fazendo com que ele seja um compositor invisível, um “eterno” desconhecido para o grande público que poderia amá-lo – e só não ama porque não ouve sua música... ela não toca no rádio, nem aparece na televisão.

O compositor talentoso sonha em ter seu trabalho espalhado aos quatro ventos; em ser apreciado e incentivado a seguir em frente; em fazer da música seu destino para fazer-se visível e amado pelo público; em ser um obstinado, pois poucos são os que conseguem derrubar as barreiras (tantas) para tornar-se, de fato, um músico conhecido e admirado pelas belezas que cria.

Macaque in the trees
(Foto: Reprodução)

É como se, para atingir a tão necessária maturidade que costuma vir com a labuta musical diária e persistente, o compositor vivesse sob um céu sempre cinzento. Para furá-lo e chegar ao azul celeste, a luta é tão difícil quanto desgastante. A serenidade deve vir junto com o talento, fazendo dele a marca principal de sua gênese musical.

Sua composição deve exalar sinceridade; ser tão simples quanto bela; difundir beleza que brote suave de seu coração. Seus predicados, até então invisíveis, logo poderão ser visíveis aos olhos de quem tiver a ventura de ouvi-lo para então aplaudir a competência de um ex-invisível.

Em 2010, o CD Amigo É Pra Essas Coisas, primeiro trabalho composicional do compositor Cesar Mocarzel, teve participação de grandes nomes. O álbum não alcançou o sucesso esperado, portanto Mocarzel deixou de lado as canções e seguiu sua vida de jornalista e pesquisador.

Mesmo sabendo-se “invisíveis”, ele e a música foram à luta. Com a persistência dos inconformados, Mocarzel pôs-se a furar o céu cinzento em busca do azul. E ele veio, vicejando o seu segundo CD, As Canções Que Fiz Pra Você (independente).

O trabalho, quase todo gravado em duetos, tem bons arranjos de Felipe Tauil, do próprio Mocarzel e de Fernando Brandão (que também o gravou, mixou e dirigiu). Traz participações especiais de Roberto Menescal, Quarteto em Cy e Charles Gavin, bem como de nomes da nova geração: Thaís Motta, Maria Thalita de Paula, Chico Alves, Chico Faria, Isadora Morais, Mauricio Detoni, Leo Russo, Filipe Cirne e Fernando Brandão. Graças aos arranjos e aos convidados, mesmo não sendo propriamente um cantor, Mocarzel se sai muito bem. Atraídas pelo amor ao ofício, suas composições vêm embaladas em muito e evidente profissionalismo.

O CD tem seis composições só de Mocarzel e sete compostas em parceria – com Roberto Menescal, Fernando Brandão, Chico Alves e Filipe Cirne. E um bom time de instrumentistas, em que se destacam Fernando Brandão, Roberto Menescal, Nelson Freitas e João Faria, dentre outros.

Obstinado, Cesar Mocarzel fez um ótimo CD, trabalho que poderá credenciá-lo a muitos aplausos e felicitações gerais, posto que, aí sim (e por que não?), seu talento estará visível.

* Aquiles Rique Reis , vocalista do MPB4