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O brilho do passado no futuro

Reprodução -
Está na praça o recém-lançado "Bossa is her name"
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A rapaziada que viria a criar a Bossa Nova tinha como ídolos os grandes nomes do jazz norte-americano. A moçada devorava os LPs que lhes chegavam às mãos, trazidos por almas caridosas quando retornavam ao Brasil – os bossanovistas tratavam-nos como emissários benfeitores do som que tanto curtiam: afinal, suas composições inspiravam-se nas harmonias dos jazzers, logo sendo ricamente ajustadas ao “veneno” brasileiro.

LPs eram “garimpados” nas lojas de lá e trazidos para cá, quando reuniões e mais reuniões aconteciam para que todos sorvessem cada acorde, cada improviso instrumental, cada nota afinada entoada por cantores e cantoras que traziam no sangue a negritude de suas origens musicais.

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Está na praça o recém-lançado "Bossa is her name" (Foto: Reprodução)

Dentre essas e esses, dois nomes de imediato foram conduzidos ao altar do som que se queria muito e para sempre ouvir: a cantora Julie London e o guitarrista Barney Kessel.

Corria o ano de 1955 quando Ms. London lançou o seu primeiro álbum, “Julie is her name”. Junto com Mr. Kessel, o trabalho caiu como uma bomba de mil megatons no mundo e, em particular, em Copacabana, reduto da moçada que dava os primeiros passos no sentido de criar uma música diferente de tudo o que já havia sido feito no Brasil.

Pois bem, passados 63 anos, está na praça o recém-lançado “Bossa is her name” (Batuke Music). Nele, a nossa cantora Cris Delano encarna Julie London e o nosso guitarrista Nelson Faria, Barney Kessel. Dois craques em seus fazeres, Delano e Faria convidaram o contrabaixista Guto Wirtti para com eles dividirem a difícil iniciativa de trazer de volta um LP histórico, agora sob o olhar musical brasileiro.

Ainda que um pouco cético, logo nos primeiros compassos de “Cry me a river” (Arthur Hamilton), faixa que abre o CD da Cris, do Nelson e do Guto, meu queixo caiu. E foi assim, em estado de graça, que “devorei” todo o álbum. Em pouco mais de 36 minutos, treze músicas de alto potencial melódico e harmônico são (re)apresentadas.

Cantando num bom inglês, com uma afinação impecável, suingue e divisões rítmicas extraordinários, Cris Delano cumpre com galhardia o (complexo) papel a que se propôs. Ouvi-la cantar é como lembrar-se de Julie London e se envolver.

Nelson Faria segue demonstrando sua excepcional capacidade de fazer de sua guitarra um instrumento que edifica belezas, levando-as a um imaculado estado de excelência.

Enquanto sua pulsação atrai o suingue que impera em todo o trabalho, Guto Wirtti e seu contrabaixo fazem da correção e da sensibilidade os seus principais papéis nos arranjos.

Os arranjos, criados pelos três, contam com a colaboração de Alex Moreira, ele que também produziu, gravou, mixou e masterizou a gravação. Tal trabalho deve ser assinalado, pois ele confere às músicas uma nitidez tal que agrega alta qualidade ao som do álbum.

Concluindo esta dica: em “Bossa is her name”, a vida brilha sob acordes que nos impregnam com seu sumo vital, levando-nos adiante rumo ao presente que hoje ainda pensamos ser futuro.

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