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O Ceará adverte

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Idos esses dias em que o carnaval recomenda deixar para depois as coisas mais sérias, e é bom mesmo que a população goze de algumas horas de descontração, chega então o momento de retomar antigas preocupações. Uma delas há de ser a crise de segurança pública que se instalou no Ceará; não apenas pelas consequências internas decorrentes da tumultuada manifestação dos agentes de polícia, do que resultou o assassínio de uma centena de pessoas; também, a partir de agora, é o risco de os problemas e os confrontos escaparem das divisas cearenses para ganhar outras unidades da Federação, onde gente do mesmo setor pleiteia ganhar mais. Mas, antes mesmo disso, vale considerar que todo o país pode mergulhar num grande desafio à Constituição, onde é clara a inadmissibilidade da paralisação de atividades de servidores em função armada, o que, aliás, sugere que policiais não são grevistas; são amotinados, e como tal teriam de ser tratados, sob a vigência do artigo 142 da Casta Magna. Se não prevalecer a estrita obediência a esse dispositivo a tolerância pode grassar pelo Brasil, o que seria um caos, com agentes de segurança encapuzados, tal como os bandidos; quebrando carros e danificando pneus, arte em que estão ombreados com meliantes.

Superado o hiato do carnaval, é preciso isolar o perigo, começando por empurrar a crise a uma quarentena, para que se evite a propagação que seria gravíssima para a saúde da nação. A crise do Ceará está, de fato, a merecer o isolamento, com a Constituição rigorosamente respeitada, ainda que isso possa levar a dificuldades políticas. Na concomitância, considere-se, para ampliar as preocupações, que ficaria em aberto o precedente da ocupação dos territórios estaduais por forças federais, recurso que, se ampliado, pode acabar ensejando projetos pouco saudáveis para a autonomia das unidades.

Sem delongas e sem o esforço de setores políticos já empenhados em deixar que o problema se esvazie por si mesmo, o que se credita aos representantes dos poderes constituídos é que assumam medidas severas; claro, sem o exagero adotado pelo senador licenciado Cid Gomes, que preferiu o ronco de um trator, como se com isso fosse possível estabelecer as bases de diálogo com amotinados.

Outra aspiração, a partir de agora mais que justificável, é que os governadores não percam os limites da realidade do erário ao proporem reajustes nos quadros de servidores que avancem para percentuais impossíveis. Que limitem a tentação de serem agradáveis às reivindicações do funcionalismo. Um estado pré-falimentar, como Minas Gerais, não impediu que seu governador adotasse a generosidade de 41,7% (mesmo que ao longo de três anos) para o pessoal da área de segurança pública (PM, bombeiros, policiais civis e agentes penitenciários). Da capital mineira o senhor Zema logo despertou o grito da isonomia, além de se tornar patrono de um efeito dominó, impossível de ser administrado ante os clamores da justa paridade.

Quaisquer que sejam os ângulos em que for analisado o que se acaba de se ver no Ceará, o assunto é delicado, primeiramente para o presidente da República, a quem cabe, antes de todos, fazer que se respeite a Constituição; como também haverá de caber ao ministro da Justiça em futuros deslocamentos de forças federais para estados em conflito, pois em sua porta é que vai bater a expectativa de uma população ansiosa por menos violência e mais eficácia no combate à criminalidade.

Os agentes da segurança pública que radicalizam em suas reivindicações colocam os dois contra a parede.