ASSINE
search button

Dança das cadeiras

Compartilhar

E segue o baile de noivado do Sinhozinho Malta com a Viúva Porcina. Opps, do presidente Jair Bolsonaro com a futura secretária de Cultura Regina Duarte. Por enquanto uma secretária que, tal como a Viúva da novela “Roque Santeiro”, de Dias Gomes, censurada na primeira versão pela Ditadura, em 1975 (governo Geisel), é sem nunca ter sido. Mas enquanto o enlace não acontece, a cada parada semanal da orquestra, qual uma dança das cadeiras, some um figurante. De grande ou menor importância.

Para quem apenas conheceu a 2ª versão da novela “Roque Santeiro”, exibida em 1985, logo após a redemocratização do país (era para ser no governo Tancredo Neves, mas adoentado, Tancredo nunca assumiu, e o vice José Sarney governou por cinco anos, o mandato original era de seis, Tancredo queria reduzir para quatro, com a convocação de uma Constituinte, e o Congresso reduziu para cinco; depois, no governo FHC, houve a emenda da reeleição com encurtamento para quatro anos).

O nome original do texto de Dias Gomes, no estilo de literatura de cordel, pois a história se passava numa fictícia cidade de Asa Branca, no interior de um Brasil que era predominantemente rural em 1975, era: “A fabulosa história de Roque Santeiro e de sua fogosa viúva, a que foi sem nunca ter sido”, título reduzido para “Roque Santeiro”.

Na 1ª versão, Sinhozinho Malta também foi interpretado por Lima Duarte. Mas a Viúva Porcina era Betty Faria, e Roque Santeiro tinha sido interpretado por Francisco Cuoco. A novela, que já tinha 30 capítulos gravados, entraria no ar em 27 de agosto de 1975. Mas, na véspera, escutas telefônicas do Dops flagraram Dias Gomes comentando com amigos que os militares tinham comido mosca, pois a obra nada mais era do que a reedição de sua peça teatral “O Berço do Herói”, também proibida em 1965.

Contratada pela Globo, junto com Cuoco e outras estrelas da Tupi, após os militares pressionarem a Globo para afastar Leila Diniz e outras atrizes, como Marieta Severo, após a polêmica entrevista de Leila ao Pasquim, em 1969, Regina Duarte, ainda com a imagem de “namoradinha do Brasil”, que Bolsonaro cultua até hoje, seria um choque se fosse a Porcina. Em 1985, depois de viver a série “Malu Mulher”, com as agruras de uma mulher que se separa e vai à luta, Regina Duarte brilhou como amante de José (Roque Santeiro) Wilker e cortejada por Sinhozinho (Lima Duarte) Malta. A nova versão da novela teve o dedo de Dias Gomes até o capítulo 51. Com sua doença e morte posterior, Aguinaldo Silva, que acabou de ter o contrato rescindido pela Globo, deu cabo da empreitada até o final, em fevereiro de 1986.

Enquanto o enlace não chega, Bolsonaro Malta segue agitando sua pulseira e promovendo uma demissão semanal. Nesta que passou foi a vez do ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, que cuidava do programa Minha Casa, Minha Vida (bancado pela Caixa Econômica Federal, mas que depende de articulações do ministério com estados e prefeituras), fundos para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste e grande obras regionais, como a transposição do São Francisco. Ao entrar em choque com o presidente da CEF, Pedro Guimarães, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve sua cabeça entregue. O presidente aceitou e a pasta passou a ser ocupada pelo ex-deputado Rogério Marinho, que era secretário executivo de Trabalho e Previdência e que se saiu bem na articulação da reforma na Previdência com o Congresso. Como compensação, Canuto foi deslocado para presidir a Dataprev e, quem sabe, pôr em dia as atividades da Previdência Social.

Na semana anterior houve demissão mais ruidosa. Até porque se deu em bis. A do ex-secretário executivo da Casa Civil, José Vicente Santini. Demitido porque usou avião da FAB para ir ao Forum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, onde acompanhou a apresentação da carteira de Cdia, levando de carona as belas Martha Seillier e Bertha Gadelha, diplomata e assessora internacional do PPI, para se juntar à comitiva da visita oficial do presidente da República, com direito a nova apresentação do programa que pretende atrair mais de US$ 200 bilhões para 180 projetos. Santini festejou no twitter e foi apoiado pelo filho nº 3, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, de quem é grande amigo.

Quando soube que o grupo tinha desembarcado do avião da FAB em Nova Dehli, Bolsonaro deu declaração dúbia. Disse que ele seria demitido porque, “embora legal [a utilização do avião], era imoral” (sic). Mas Santini articulou com o assessor de comunicação da pasta uma nota em que informou ter negociado com “Bolsonaro”, sem o protocolo de presidente, para ficar como secretário especial da Casa Civil, ganhando um pouco menos de R$ 40 em relação ao cargo anterior. Bolsonaro explodiu e o demitiu novamente. Para completar, transferiu o PPI, junto com Martha Seillier, que já comandara a Infraero no começo do seu governo, para a órbita de Paulo Guedes, mas ainda no cargo de Secretária Executiva. Pelo visto, a joia do PPI é Martha Seillier.

A troca de Gustavo Canuto por Rogério Marinho é a quinta mudança no 1º escalão do governo de 23 cargos com status de ministério do atual governo. Em fevereiro de 2019, com menos de 60 dias no cargo, caiu Gustavo Bebiano (taí um nome que não dá certo neste governo), substituído por Floriano Peixoto Vieira e depois por Jorge Oliveira na Secretaria Geral. No ministério da Educação, o impactante colombiano Ricardo Velez cedeu o posto para o "imprecionante" Abraham Weintraub.

A rede de intrigas da qual um dos expoentes foi o filho 02, vereador-hacker da conta do presidente, Carlos Bolsonaro, levou antes o general Carlos Alberto Santos Cruz da Secretaria de Governo, substituído pelo general Luiz Eduardo Ramos, que conseguiu conter o ímpeto presidencial em alguns momentos.

Governo novo troca cargos de confiança na largada e no 1º ano. Dilma, que chegou a ter quase 40 ministérios, trocou quase uma dúzia no 1º ano do 1º mandato, quando herdou algumas nomeações acertadas por Lula para garantir a eleição do “poste”. A lista de cabeças que já rolaram é grande e tende a aumentar com o vencimento de mandatos nas agências reguladoras. Apex, Ancine, Funai, Inpe, Correios, BNDES já passaram por experiências traumáticas. Mas nada se compara à ‘interpretação’ do defenestrado secretário da Cultura Roberto Alvim ao discurso de Josef Goebbels, conclamando a uma nova cultura nazista do III Reich. Até para um governo assumidamente de direita foi dose.

Regina Duarte tem o papel mais desafiante à frente.

No mais, enquanto o Carnaval não chega e o coronavírus assusta todo o mundo (ainda que as mortes por gripes corriqueiras sejam mais numerosas), é bom saber que o surto da alta da carne passou – como previam os departamentos econômicos do Bradesco e do Itaú – e que a inflação tende a voltar a ficar abaixo de 4% ao ano. Em janeiro, com o aumento de apenas 0,21%, após os assustadores 1,15% de dezembro, a taxa em 12 meses desceu de 4,31% para 4,19%, ajudada pela queda de 4,03% na carne (devolvendo parte da alta de 18,06% de dezembro).

Ao paralisar atividades na China (e afetar a cadeia de produção no Brasil dependente de importados), o coronavírus pode ajudar a derrubar preços, apesar da disparada do dólar. Nos combustíveis, a Petrobras estendeu a baixa do diesel e da gasolina ao GLP, o popular gás de bujão. Falta agora os consumidores exigirem a queda na bomba e nos demais pontos de vendas.