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Nossa voz na ONU

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Não saberia dizer, neste exato momento, a quem está confiada a tarefa de elaborar o discurso que o presidente Jair Bolsonaro levará, dia 24, à tribuna da Organização das Nações Unidas; o que não impede que se formulem votos de bom uso da oportunidade para o governo brasileiro situar-se ante questões que andaram confundindo nossa diplomacia. A começar pelo nível passional que tem orientado a discussão sobre problemas da Amazônia e os riscos de o fogaréu da floresta mergulhar em câmara ardente a soberania nacional. Por causa do acidente ambiental criou-se um clima de relações acidentadas, para isso contribuindo o bate-boca com presidentes, com alta comissariada, com ministros e ecologistas, algo que pode ser superado e as discussões avancem para a objetividade. E é o que acrescenta o compromisso do país em ser o primeiro e mais devotado responsável pela preservação de uma imensa riqueza que, sendo nossa, não deixa de ser patrimônio universal. Para dizer essas coisas bem ditas nenhum outro plenário está mais adequado que o da ONU.

Redatores habilidosos, que não faltam no Itamaraty, terão importância nessa missão, mesmo que o presidente se permita, ao falar para o mundo, rechear o texto com alguns cacos, que fazem parte do seu estilo de perorar. É preciso considerar, e disto devem saber os que lá discursam, que, tanto quanto o valor da palavras empenhadas, pesa para as delegações ouvintes a linha psicológica e temperamental do estadista que ali se coloca de pé. Espera-se, portanto, uma oração que seja capaz de engradecer o Brasil, cuja responsabilidade com as Nações Unidas vem de longe, graças à trama caprichosa do destino. Não foi diferente o que se daria naquele janeiro do pós-guerra de 46, no primeiro ensaio para que as nações se unissem e se organizassem. Como Estados Unidos e Rússia escaparam do discurso da reunião preparatória, pois queriam saber primeiro o que o outro pretendia dizer, o brasileiro Ciro de Freitas entrou no vácuo, inscreveu-se, falou antes de todos. Manteve-se a tradição a favor do Brasil.

A intimidade mais estreita do país com a história das Nações Unidas viria um ano depois, pela mãos de Oswaldo Euclídes de Sousa Aranha, na célebre assembleia da Partilha, que tirou um naco da Palestina e com ele criou Israel, decisão nunca suficiente na convivência entre os povos diretamente envolvidos. Em região permanentemente conflagrada, nosso governo acabou deixando sua recente contribuição ao caldeirão das tensões prometendo transferir sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, franca hostilidade ao mundo árabe.

Falando-se em responsabilidades e posicionamentos, a oportunidade, como a que o governo terá, dentro de mais alguns dias, há de interessar a chancelarias de muitos países, porque há um ano o Brasil inovou com a clara guinada à direita da política externa. Uma novidade que certamente os aliados gostarão de avaliar com precisão, depois de terem se acostumado a lidar com um país orientado pelo esquerdismo petista. É algo novo, pelo que agrega nas relações políticas e comerciais. Nesse caso, já de imediato, figuram os chineses, principais clientes, preocupados com nossos amores com Washington; e os árabes, descontentes com a crescente admiração pelos judeus. Sem que faltem as perigosas as preferências do presidente na sucessão presidencial americana e argentina.

Nas Nações Unidas o Brasil terá singular momento para fazer definições nas suas relações com os povos. Sem margem para dúvidas e maiores suspeitas.