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Violência sem remédio

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A entrada do terceiro trimestre do primeiro ano dos novos governantes, se não é tempo suficiente para definições, permite, pelo menos, avaliar os rumos que têm sido tomados com base na promessa dos eleitos de enfrentar o desafio que ganhou inarredável prioridade - a violência urbana. Tome-se como ponto de partida que ainda não se descortinou no horizonte um lampejo que permita admitir estarmos no caminho certo para enfrentamento com eficácia. O problema estava contemplado na campanha eleitoral do ano passado, como se revelou no discurso dos candidatos às Assembleias Legislativas, ao Congresso Nacional, aos governos estaduais e à Presidência da República. No Rio de Janeiro, o candidato Wilson José Witzel prometeu o confronto com a bandidagem, e ganhou apoio de uma população já cansada com a escalada da violência, desanimada ante a percepção da impunidade. Votou majoritariamente no advogado, ex-juiz federal e ex-fuzileiro naval. Não se pode afirmar que ele oferece hoje um balancete que sinalize melhores dias para a segurança pública.

Pelo Brasil inteiro a eleição passada revelou preferência por parlamentares e chefes de poder Executivo que insistiram no combate sem tréguas ao crime endêmico, e com o uso enérgico de violência como prerrogativa do estado sob o ponto de vista legal. Mas, em termos de logística e abastecimento de armas, as facções criminosas ainda não perderam seu poder. Na verdade, superam a autoridade pública, como se vê nos estabelecimentos prisionais, onde dominam e administram a maioria dos encarcerados, que agem conforme as organizações que os recrutam.

No caso do Rio de Janeiro, o governador Witzel continua mantendo o discurso de confronto direto com o crime, praticando medidas até com sua participação pessoal. Porém, além de essa exposição não dar sinais de vitória da população pacata, ela acaba perturbando e favorecendo efeitos colaterais graves no embate das forças policiais com os bandidos; para nem se falar na morte de inocentes, vitimados por balas ironicamente chamadas de “perdidas”, quando, na verdade, são “achadas” sinistramente em crianças e adolescentes. É preciso considerar que a forma do governador de se comunicar com a Polícia tem encorajado militares para o abate de quem esteja portando armamento pesado, mas também facilita, paralelamente, ao bandido matar indiscriminadamente. Visto isto, já é passada a hora de advertir: as ações da inteligência policial precisam ser intensificadas para minimizar o risco de civis que não fazem parte dessa guerra.

O presidente Bolsonaro tentou implantar, por decreto, medidas de flexibilização da posse e porte de armas para a população, tentando dar resposta às promessas de campanha; mas também não teve êxito, devido aos aspectos legais e suas limitações.

Longe de afirmar que apenas o Rio padece dessa enfermidade, porque também em outros estados da Federação o fenômeno da violência é desafiador. E os novos governadores, se pouco têm feito, vão apenas reagindo de forma reativa, reclamando da situação financeira precária que os impede de implementar planos inovadores, como dar mais segurança à população. Os recursos da Fazenda chegam, quando muito, para as folhas do pessoal. Contudo, com pouco ou nenhum dinheiro, fato é que os entes federados demonstram modestíssima eficácia no combate aos criminosos.

Os cidadãos, cariocas ou não, continuam na expectativa de poderem viver em paz, ainda que desacorçoados com dados estatísticos dos órgãos de pesquisa, que trazem informações alarmantes: mais de 60 mil homicídios por ano, 12 milhões de desempregados, economia em recessão técnica. Ante conjunturas desfavoráveis, é com algum esforço que se mantém a esperança de melhores dias.

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