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Em busca de um centro

Jose Peres -
Gilberto Menezes Cortes
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A história ensina que nem sempre votação expressiva garante governabilidade. A Presidência da República não fica forte só com os votos das urnas. O Executivo não governa sozinho. Tem de compartilhar o Poder com o Congresso e o Judiciário. Imaginar que poderia dispensar o diálogo, na relação cotidiana com a imprensa, o suposto 4º Poder, é outra ilusão. Tentar repetir a ligação direta com a povo via whatsapp para comunicar questões importantes como a reforma da Previdência, ou a Nova Previdência, não funciona.

As mensagens do zap só podem ser feitas em múltiplos de cinco destinatários. Robôs estão proibidos. A propaganda não vai substituir a função da imprensa de oferecer informações múltiplas, capazes de mudar a posição de quem já tinha visão pre-concebida. É preciso dialogar com jornais, revistas, sites de grandes audiência e tevês, visando atingir os 513 deputados e os 81 senadores e seus assessores. É ilusão supor que uma fala aqui e ali na tevê vai mudar a posição de experientes políticos. Cada qual deve a eleição à particularidade de seu eleitorado.

Mais do que o diálogo via imprensa, uma das formas de JK vencer a resistência movida pela inconformada UDN a seu governo e à ideia de transferir a capital do Rio para Brasília, a batalha da comunicação, veio do contato com a classe política. JK era o rei do charme e conquistou fatias da UDN chapa branca, como o jovem deputado Antonio Carlos Magalhães que ia cedo ao Palácio do Catete confidenciar o que as velhas raposas udenistas tramaram de noite.

Janio Quadros, que sucedeu a JK com enorme votação, mal conseguiu governar por falta de base de apoio no Congresso. Baixou decretos proibindo a rinha de galo e as corridas de cavalo em dias de semana. Na economia, tirou os subsídios cambiais de diversos setores, entre eles o do papel de imprensa e atraiu a fúria do 4º Poder, que tinha em Lacerda dublê de líder da UDN (do cavalo selado montado por JQ) e dono da Tribuna da Imprensa, que vendeu depois.

Jânio simulou um golpe: renúncia enquanto o vice- João Goulart, cuja eleição estimulara, ao esvaziar os vices de sua chapa (votava-se separadamente no presidente e no vice) - estava na China. Jango não era bem quisto pelos militares, de quem esperava apoio. Anunciou a renúncia e ficou na base aérea de Cumbica (atual aeroporto de Guarulhos) cercado de oficiais. O presidente do Congresso, senador Auro de Moura Andrade leu a carta de renúncia e a presidência ficou vaga.

Jango, pela esquerda, também sem base no Congresso, tentou usar a massa para avançar nas reformas de base e veio a longa noite do golpe militar. Tancredo Neves, do velho PSD, que deu sustentação a Getúlio Vargas e a JK, iria fazer o 1º governo civil de coalizão. A morte o levou. O poder ficou com Sarney. Fernando Collor o sucedeu, em 1990 com enorme votação e sem base eleitoral. Renunciou em meio a processo de Impeachment, no Congresso. Seu vice, Itamar Franco, governou com coalizão de centro.

Seu sucessor, FHC surfou a popularidade do Plano Real e ganhou antipatias gerais quando afirmou que "governar o Brasil era bem fácil". A começar por um dos comandantes do Centro, o ex-presidente José Sarney. Cedeu um ano de mandato pelos quatro da releição. Lula veio embalado pelo voto popular, ao vencer o PSDB, e teve de se unir ao pior fisiologismo do centro (PP de Maluf e PL de Waldemar Costa Neto, entre outros). Dilma se elegeu na popularidade recorde de Lula (83%) no fim do 2º governo e achou que podia prescindir de apoios no Congresso. Caiu. Temer sobreviveu porque tinha aliados em três décadas de vida pública.

Agora Jair Bolsonaro veio pela direita contando com o apoio dos militares. Mas precisa ter um centro no Governo para tentar aprovar seus planos no Congresso. A começar pela Previdência Social que já criou muitas resistências na largada.