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É bom ser o País do Carnaval?

Fernando Frazão/Agência Brasil -
Paulo Rabello de Castro-Rio de Janeiro - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, após reunião com o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann (Fernando Frazão/Agência Brasil)
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Nem bom, nem mau. Como expressão - diria que máxima - de nossa alma coletiva, o Carnaval não está para ser julgado. Ele é o que é, que sempre foi e será. Aliás, é o Carnaval que julga, que homenageia e satiriza, que depõe e declara, que declama ou reclama o que precisa ser pranteado ou detratado. Por isso, a pergunta título seria completamente ociosa, não fosse pela impertinência de um economista que, por formação, vive questionando sobre o que cria ou que destrói valor na sociedade. Em respeito ao distraído leitor de um sábado de Carnaval, fica a pergunta: dá para medir o valor econômico de uma festa popular como o Carnaval? O Carnaval brasileiro é uma festa capaz de interromper atividades industriais e produz uma diminuição mensurável da produção e circulação econômicas convencionais durante dois ou três dias. Essa é a conta do custo econômico do Carnaval, o "custo da oportunidade", como chamamos no vocabulário técnico. Mas existe sempre um benefício para cada custo incorrido na vida. É preciso tentar calcular, então, o que se ganha com o Carnaval. Dá para fazer essa conta?

O que é diversão e entretenimento para os foliões - ou ócio e lazer para quem foge para um refúgio longe do barulho - representa trabalho e investimento para quem dá suporte e torna realidade a folia de uns e o descanso de outros. A economia do Carnaval pode ser medida por trabalhos executados e pagos, portanto, é esse trabalho acumulado, começando bem antes dos dias de feriado carnavalesco, o que adiciona valor ao processo produtivo da economia brasileira e ao qual poderíamos chamar de "economia do Carnaval". Pensemos tudo que ocorre na economia como uma sequência notável de trocas. Alguém tem algo a oferecer que é valioso para outra pessoa, que dispõe de algum recurso para adquirir aquele bem ou aquele serviço. O Carnaval não é diferente. Disfarçado de folia, o processo econômico de trocas se mantém intacto no Carnaval, com centenas de milhares de pessoas se mobilizando economicamente, de modo absolutamente coordenado e focado, para oferecer serviços valiosos que serão adquiridos no momento certo por quem se diverte ou tira dias para descansar.

Esse elemento puramente mercantil de uma explosão espontânea da cultura nacional foi muito bem detectada pelo grande economista e professor Carlos Lessa. Ao tratar do Carnaval carioca num livro organizado por Alcino Ferreira e Fábio Sá Earp ("Pão e Circo: a economia do entretenimento", 2002) Lessa ressalta o lado produtivo escondido por trás da folia irreverente e dos "dias parados". Ao contrário, a economia produtiva continua operando, só que de outra maneira, não convencional, mas não menos produtiva.

Em algumas cidades, a economia do Carnaval vem se tornando muito relevante. Para quem pensa no Rio de Janeiro, relembro outras, como Salvador ou Recife e Olinda. Mas o que dizer dos carnavais nas cidades históricas de Minas, por sinal os meus preferidos? O binômio carnaval/turismo potencializa enormemente a economia do entretenimento produzida pelos blocos de carnaval. As mídias convencionais (emissoras de TV) e as redes sociais dinamizaram o carnaval como um evento quase obrigatório das gerações Y e Z. E essa preferência se traduz diretamente como demanda por bens e serviços produzidos e adquiridos em função do Carnaval.

Voltando à pergunta inicial: afinal, quanto vale um Carnaval? Confesso que nós economistas temos trabalhado pouco. Não vi uma estimativa confiável e sintética, ao nível Brasil, em nenhum lugar na rápida pesquisa internética que fiz. O Carnaval movimenta redes hoteleiras, transportes, consumos diversos, transmissões, gravações musicais, apoios de serviços em dezenas de segmentos. Mas não temos ainda um número redondo. Tarefa para economistas da cultura, da criatividade, missão para planejadores de cidades e para gestores de governo. Fica a sugestão: calculemos o valor do Carnaval. Mas, por favor, primeiro a folia!