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Velhas e novas aspirações

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A mais recente consulta popular, destinada a saber o que o brasileiro anda pensando sobre seus problemas fundamentais, e como espera vê-los solucionados, mostrou que o país tem uma relação que poderia ser definida como intocável, envelhecida; porque o tempo e os homens passam, e ela permanece. Desta vez, pelo que se leu, foi a Confederação Nacional da Indústria patrocinadora da pesquisa, que veio com a garantia de abrangência sobre todos os estados, o que a autoriza pela extensão. Mas em relação às questões levantadas, o que interessa neste registro: o cidadão comum, onde quer que se encontre, continua alimentando como seus principais anseios o mínimo na saúde, na segurança pública, na educação. São setores na vida de todos, que permanecem distantes do desejável, ainda que alguns pontos de progresso tenham sido atingidos. Constituem herança para o presidente Bolsonaro, que, a serem considerados os números da mesma pesquisa, chegou ao segundo mês de sua gestão com avaliação positiva de 57% dos entrevistados.

Há dois detalhes, talvez os principais a diferenciar o atual estudo dos anteriores. O primeiro é que os brasileiros revelam-se mais preocupados com o meio ambiente, e consideram que preservá-lo é hoje uma questão fundamental. Anos passados não figurava com ponto destacado na consciência coletiva. Bom sinal. Quase tão rara como a questão ambiental, revela a pesquisa que o cidadão quer combate frontal à corrupção. E neste particular, independentemente das demais aspirações nacionais, o desejo de combate à corrupção é uma convocação aos três poderes constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário. Considerado tal aspecto, tamanho envolvimento, conclui-se que a moralização é, entre todas, a postulação mais sentida dos homens da rua. Governantes, legisladores e julgadores precisam atentar para isso.

Os militares

General Golbery, pensador da geopolítica, a quem o poder costumava consultar em 1964 sobre o que os militares deviam ou não deviam fazer, já alimentava uma percepção de que, no futuro, caducaria, como efetivamente caducou, o modelo de chegar ao poder e domá-lo com o uso das armas; estas, como se viu, guardaram as impressões digitais dos ditadores, com uma série de inconveniências que a História se recusa a esquecer. Era preciso caminhar para soluções diferentes. O general estrategista acabaria amargando espécie de ostracismo obsequioso, condenado pelo núcleo das fardas, por considerar suas ideias excessivamente acadêmicas.

Hoje, quando se lança um olhar atento sobre o Palácio do Planalto, não há como discordar do raciocínio profético de Golbery: chegar ao poder sem precisar buscar tropas e armas nos quartéis para levar o generalato ao poder. As estrelas desceram ao palácio, onde dominam todos os cargos e funções importantes, mesmo aquelas que, por sua própria natureza, sempre foram confiadas a civis. É onde senta-se agora o general Floriano Peixoto? Ele integra uma equipe onde tomam parte duas dezenas de oficias em ministérios, sem contar outros tantos em posições mais modestas.

Golbery não prescrevia claramente a eleição como forma de o militar voltar ao poder; mas, com certeza, pelas armas nunca mais. Em setembro do ano passado, matéria deste jornal chamava a atenção para o fato de mais de 100 militares estarem entrando na disputa dos votos, confiantes em que os tempos tornaram-se outros; um deles, antigo capitão, haveria de virar presidente da República. O velho Golbery estaria batendo palmas, ao ver os militares de volta ao palácio, sem violência, mas bafejados pelo voto popular. Provavelmente, bom profeta, teria parte na assessoria de Bolsonaro.

"A História não flui de acidentes; ela é

composta de tramas, segundo os militares"

(ministro Roberto Campos)