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50 dias: palavras e atos (parte II)

Colunista -
Chico Alencar Colunista
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Prossigo o inventário de barbaridades do (des)governo Bolsonaro, que completou 50 dias. Complemento com outras 25 características do praticado ou proclamado até aqui, seguindo a numeração: 26) cruzadismo: o ministro das relações exteriores crê na "conspiração globalista marxista", que teria inventado até o aquecimento global, e assume postura de "novo cruzado" contra o "gramscismo"; 27) vexame: o presidente fez fiasco em Davos, abrindo mão de preciosos minutos para falar para uma plateia de investidores; 28) improvisação: ainda em Davos, o presidente e seus "superministros" cancelam de última hora uma coletiva de imprensa, deixando todos perplexos; 29) estupidez: outro ministro, dito do meio ambiente, choca o país ao dizer que "não conhece Chico Mendes"; 30) desmemoriado: reincidindo na arrogância da ignorância, diz que "é irrelevante falar dele"; 31) insustentabilidade: esse senhor "desambientado" garante que é preciso flexibilizar os controles ambientais; 32) pseudotecnicismo: ele ainda revela que só tem na cabeceira livros "técnicos" sobre o ambiente, mas não diz quais; 33) espionagem: um outro ministro, da Segurança Institucional, no estilo da ditadura militar, reconhece que vai vigiar o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, que acontecerá no Vaticano, sob a liderança do papa Francisco; 34) lobismo: por sua vez, a ministra da Agricultura, já investigada por negócios com a JBS, não esconde seu vínculo com o agronegócio; 35) contradições: uma decisão de liberar importação de leite em pó gerou protestos da grande pecuária leiteira, que se sentiu traída; 36) fisiologismo: o presidente proclamou não ceder a indicações partidárias mas já o faz, no velho esquema fisiológico; 37) despreparo: outro ministro, cuja pasta englobou a Cultura, confessou não entender nada do tema, exceto "tocar berimbau" ; 38) incoerência: a proposta de "reforma" da Previdência estipula uma idade mínima de 65 anos, que seu atual proponente, ano passado, denunciou como "desumana"; 39) minimalismo: o secretário da Desestatização diz que vai "reprivatizar a Vale", tirando qualquer influência do governo sobre a mineradora; 40) mandonismo: o clã Bolsonaro é fator de instabilidade permanente: o 01, o 02 e o 03 se sentem donos do governo, autorizados pelo pai; 41) banditismo: o 01 tem ligações com pessoas vinculadas às milícias e homenageou, como seu pai, um atual foragido; 42) patrimonialismo: esse mesmo 01 está com seu crescimento patrimonial sob investigação; 43) exibicionismo: o 02 sentou-se na capota do Rolls Royce, no dia da posse, armado com uma pistola Glock, assumindo o papel de segurança do pai; 44) fritura: o 02, cuja atuação principal é nas redes sociais, anunciou aos quatro ventos que o ex-ministro Bebianno "é mentiroso"; 45) corrupção: esse ex-ministro, que presidiu o PSL, está tendo que explicar o repasse do fundo partidário para candidatos "laranjas"; 46) fraude: outro ministro, o do Turismo, mantido, está na mesma, tendo sido ele próprio o beneficiário dessa fraude; 47) filhotismo: o filho 03, que já disse que para fechar o STF bastava "um soldado e um cabo", é fonte de conflitos permanentes no seu próprio partido; 48) parcerias: Bolsonaro, que conviveu décadas no PP, estufa do malufismo, agora coabita com as supostas tramoias de sua nova-velha legenda, o PSL, apelidado de Partido Só de Laranjas; 49) fantasma: Mourão, o vice que parece ser o contraponto de sensatez no atual governo, é defensor do regime militar de 64, concebe os afrodescendentes como "malandros" e os nativos como "indolentes"; 50) desconfiança: Bolsonaro, que prefere fazer sua comunicação por twitter, "trumpista" que é, não esconde seu mal- estar: "ele deu algumas escorregadas no tocante às declarações à mídia".Eis um governo desconjuntado, que dilapida celeremente seu capital político.