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Febeapá, Bolsonaro e a oposição

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O festival de trapalhadas protagonizadas em menos de 15 dias pelo governo Bolsonaro é espantoso. Nunca se viu coisa igual na história recente do país.

Primeiro, é o presidente afirmando algo de manhã para voltar atrás à tarde. Depois, é ele sendo corrigido por funcionários do segundo escalão. Em seguida, é seu “Posto Ipiranga” demonstrando ignorância sobre o funcionamento da máquina pública, ao sustentar que o Orçamento de 2019 não precisaria ser aprovado em 2018.

Nunca um governo se enredou tanto nas próprias pernas. E – é importante registrar – sem que, para tal, tivesse contribuído a ação da oposição, enfraquecida, desunida e ainda lambendo as feridas da derrota.

Talvez nada retrate tão bem as lambanças do governo Bolsonaro que o ocorrido na Casa Civil. O ministro Ônix Lorenzoni anunciou uma “despetização” da pasta. Ato contínuo, desandou a demitir a rodo, sem qualquer critério. Aos que o advertiram que aquilo não acabaria bem, respondeu que, se preciso, readmitiria alguns funcionários. Mas mandou embora tanta gente, e de forma tão atabalhoada, que não teve como preencher as vagas. Tinha posto na rua os funcionários do setor que efetuava as contratações...

O quadro de descalabro abriu um debate em setores da oposição: valeria a pena perder tempo em ridicularizar a moda de bater continência para tudo e para todos; em zombar de comparações como “liquidificadores são tão perigosos como armas de fogo”; em tratar como piada frases do tipo “Jesus estava na goiabeira”; ou em fazer graça com o retrocesso aos tempos de Galileu, ao ser reaberta a polêmica sobre se a Terra gira mesmo em torno do sol?

Ou, por outro lado, tratar disso seria deixar o terreno livre para Bolsonaro, deixando em segundo plano o combate a medidas centrais do governo que ferem direitos dos trabalhadores e o interesse nacional? Assim, todo o esforço deveria estar na oposição a iniciativas como o fim da Justiça do Trabalho, a entrega do pré-sal e uma reforma da Previdência que enterraria a maior conquista da Constituição de 88: a seguridade social como direito de todos.

A polêmica não procede.

As referências ao renascimento do Febeapá, agora com Bolsonaro, não prejudicam o combate às medidas centrais de seu programa, ultraliberais na economia. E essas referências ajudam a mostrar que, não bastassem outros problemas, o governo é composto por gente despreparada como “nunca antes se viu neste país”.

Na ditadura militar, a oposição feita pelo saudoso Sérgio Porto e seu inesquecível Stanislaw Ponte Preta, assim como por órgãos como o “Pasquim”, ajudou a desgastar o regime tanto quanto o esforço de veículos “sérios” da imprensa alternativa. Ou quanto a resistência de órgãos da grande imprensa, como o JORNAL DO BRASIL (com a elucidação do atentado do Riocentro), o “Estado de S.Paulo” (com a inconformidade em relação à censura prévia) e o saudoso “Correio de Manhã” (com os artigos de Carlos Heitor Cony, ainda em 1964).

O humor é uma arma poderosa. Não à toa, os chilenos afirmam que “del ridículo no hay vuelta”.

É hora de a oposição se preparar para a resistência no Congresso e nas ruas às propostas do governo Bolsonaro, lutando para impedir os retrocessos nos planos social e político. Mas não deve abrir mão do humor mordaz e ferino quando e onde isso for cabível. E, pelo jeito, não faltarão oportunidades para ridicularizar Bolsonaro e seu governo. Aliás, já se assiste a um revigoramento das charges políticas.

O carnaval já vai expressar essa situação. Não à toa, o enredo do Bloco do Barbas para 2019 é “Continência, aqui, só pro general da banda”.

Olho vivo nas milícias

O recente ataque contra a deputada estadual Martha Rocha – ainda não tendo sido elucidada a execução de Marielle – mostra que a ameaça de as milícias serem usadas em atentados políticos é real e pode se agravar.

O risco é ainda maior porque o combate às milícias não parece ser prioridade para o governador Wilson Witzel.

É bom abrir o olho.