ASSINE
search button

Solidariedade e poder

Compartilhar

No semestre passado, o Partido dos Trabalhadores investiu no projeto de jogar tudo que era possível em novo destino para o ex-presidente Lula; nele e na sua imagem de mártir, o que se fez com um numeroso e amplo arsenal de recursos jurídicos para libertá-lo, ainda que ciente das escassas possibilidades de êxito. Os obstáculos existiam, como ainda existem, nesse triângulo francamente hostil e intolerante em relação ao chefe petista: Curitiba-Porto Alegre-Brasília. O próximo julgamento, rumoroso caso do sítio de Atibaia, reafirmará essa versão nacional do outro triângulo, o de Bermudas. Caindo ali, não há salvação.

Observadores que não desprezam a solidariedade dos petistas àquele que é o maior dentre eles, lembram que esse sentimento não pode nem deve excluir alguma preocupação com a reorganização da estrutura partidária, que acaba de sair gravemente avariada da eleição de outubro. Mais ainda: sem achar que basta xingar o presidente eleito, rotulando-o de nazista ou trumpista. Esse discurso é insuficiente, principalmente quando se desperta para o risco de o PT se ver desalojado do papel de líder natural da oposição. Se perder muito tempo, o script pode acabar caindo em outras mãos.

FHC didático

Ressalvando que não pretende dar conselhos a um governo do qual não participa e não ajudou a se formar, o ex-presidente Fernando Henrique nem se nega a mostrar o caminho que lhe parece único para viabilizar a polêmica reforma da Previdência: ir, com fé e coragem, à opinião pública, enfrentá-la, e explicar, paciente e didaticamente, o objetivo dessa proposta. Garante que sem apoio popular a matéria não avança. Inútil tentar.

Consultoria

Com tantos novatos entrando em campo na política, às voltas com o que andaram prometendo, parece promissor, no futuro imediato, um projeto de consultoria. O deputado federal Marcus Pestana, do alto comando do tucanato, não se reelegeu, depois de quatro mandatos. Não deixará Brasília, nem voltará a lecionar Economia para universitários. Quer montar consultoria para políticos e empresários.

Pelo gênero

Tão logo seja possível definir, com detalhes, o perfil da nova bancada feminina na Câmara, a disposição será o ataque frontal ao comportamento do governo Bolsonaro quanto às distinções de gênero. Algumas entidades vão cair em campo para retomar suas lutas. Começando por jogar os bancos na ciranda, com a denúncia de que apenas 20% das funcionárias qualificadas nas agências conseguem atingir postos de chefia. Para não repetir o que já denunciaram: nada mais machista que contracheques, sempre 40% mais pobres para as mulheres.

Dia de ressaca

Ficou claro ( quem contestaria?) que esteve longe de ser expressiva a presença de delegações estrangeiras na festa de posse do presidente Bolsonaro. Em parte porque o novo governo, antes mesmo de começar, não se fez de rogado para construir indisposições em algumas capitais. Mas é certo que também influiu o fato de a solenidade se dar no Dia da Fraternidade Universal. É preciso retomar a discussão da PEC | 51, de 2003, que fixa a posse do presidente na segunda quinzena de dezembro.

Palavras em crise

Estes novos tempos, com crises que vão produzindo, apreciam desfigurar o sentido natural das palavras. O indulto chamado de Natal ficou para outro dia. O 13º, também inspirado em abono natalino, vai ser diluído em meses que nada têm a ver com Papai Noel. No curso de palavras ao vento, dona Damares Alves, ministra, manifesta-se “tremendamente cristã”. E, no Rio, “abate”, até agora usado para definir o destino de gado, transformou-se em sentença fatal do governo contra criminosos. É preciso restituir o verdadeiro significado das palavras, já ensinava Julian Marías.

“Ser presidente é ofício mais exigente do que se pensa. Os que têm personalidade normal não deviam aspirar a isso” (Steve Pieczenik, psiquiatra de presidentes americanos)

Tags:

coisa | política | pt