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Disputa aberta

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O vento de viragem captado pelo Ibope continua soprando e produziu ontem o registro, pelo Datafolha, da mais importante alteração de tendência no segundo turno: a queda da diferença entre os dois candidatos, de 18 para 12 pontos porcentuais. Bolsonaro perdeu três pontos e Haddad cresceu três. Ambos variaram acima da margem de erro, situação que deixa a disputa aberta a movimentos de votos na reta de chegada, que poderão ser ou não suficientes para a virada que a campanha de Haddad busca febrilmente. Bolsonaro também admitiu ontem que “a eleição não está decidida” e emitiu sinais de desespero. Ninguém ganhará de lavada.

Ainda antes da divulgação do Datafolha circulou pelas redes um vídeo em que ele dá uma bronca em sua tropa de choque, criticando sobretudo a turma de São Paulo, onde Haddad, segundo o Ibope, assumiu a liderança, tendo 51%, contra 49% d e Bolsonaro, que teria sido prejudicado pelo desgaste do candidato tucano a governador João Dória, que o apoia. No vídeo, o deputado-capitão diz com a voz alterada:

– A gente apela aos deputados e senadores para que se preocupem menos com as campanhas para governador... Há uma briga em São Paulo, e em vez de brigarem por voto para mim, ficam brigando por um candidato ou por outro. Pô, vocês têm que dar a devida resposta! O objetivo de vocês é Jair Bolsonaro, não é França nem Dória.

E faz uma cobrança direta aos deputados que, a seu ver, devem a eleição a ele:

– Até parece que vocês se elegeram por méritos próprios! Com toda certeza, se eu não tivesse sido candidato, alguns teriam sido eleitos , mas a grande maioria, não! Agora vamos trabalhar com seriedade. O que está em jogo é a cadeira presidencial. Segundo a revista Veja, o Ibope diz que em São Paulo o Haddad empata. Está com 51% e eu com 49%. A eleição não está decidida e ainda faltam três dias.

No horário eleitoral, um Bolsonaro bem mais humildade pediu unidade a seus eleitores para que a vitória seja consumada.

Por que aberta?

Segundo o Datafolha, Bolsonaro agora tem 56% dos votos válidos, contra 44% do petista. Mas é pela tabulação dos votos totais que se pode dizer que a eleição não está decidida, como afirmou Bolsonaro. Por este critério, ele tem 48% e Haddad 38%, existindo ainda 6% de indecisos e 8% que declaram a intenção de votar em branco ou nulo. Eles somam 14%, um contingente que supera a diferença de 12 pontos porcentuais entre os dois. Se todos, por exemplo, optassem por Haddad, haveria a virada. É claro que muito dificilmente isso pode acontecer, mas esta é a situação aritmética que caracteriza a eleição como aberta. Ademais, segundo o Datafolha, existem ainda 22% de eleitores que admitem mudar o voto até domingo.

As razões para a variação negativa de Bolsonaro são bastante óbvias: o zapgate, a repercussão altamente negativa da defesa do fechamento do Supremo por seu filho Eduardo, as falas aterrorizantes do próprio candidato no domingo, quando prometeu perseguir adversários, mandar “os vermelhos”, inclusive Haddad, para a prisão ou o exílio, e as ameaças não menos tenebrosas do coronel Carlos Alves, seu apoiador, ao TSE e à ministra Rosa Weber. A reverberação foi forte, junto a diferentes segmentos do eleitorado, sensibilizando os que até aqui ignoraram as advertências sobre o risco Bolsonaro à democracia.

Mas o que importa é o que pode acontecer daqui até domingo. O debate de ontem na TV Globo não houve, pois Bolsonaro o boicotou. A emissora se recusou a substituí-lo por uma entrevista de Haddad, que hoje participará de uma entrevista-sabatina em Salvador, na TVE da Bahia, da qual vou participar. Será retransmitida pela TVT e outras emissoras abertas do campo público, pelo Youtube, pela TV247 e outras plataformas na Internet. Buscando fortalecer a conexão com eleitores nordestinos, Haddad passará ainda por Pernambuco e Paraíba antes de encerrar a campanha neste sábado em São Paulo. Já Bolsonaro tentará evitar qualquer marola desgastante como as dos últimos dias.