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Os candidatos da segunda divisão bem que se esforçaram mas dificilmente terão conseguido, no debate ontem (Folha/Uol/SBT) arranhar a polarização Bolsonaro X Fernando Haddad, confirmada pouco antes com a divulgação de mais uma pesquisa Ibope. Ausente, Bolsonaro acabou preservado, embora citado negativamente. A sociedade civil é que se levanta com mais força contra ele, neste momento. O petista virou alvo de todos, mas não deve perder votos com o tipo de ataques que sofre nos debates. Quem está com ele já estava com Lula. Não vai se abalar com críticas aos governos petistas ou por chamarem o PT de organização criminosa. E assim, o jogo acaba sendo de soma zero.
Nem por isso, o debate deixa de ter sua importância, contribuindo para que os eleitores conheçam melhor os candidatos, seus pontos fracos, suas propostas. E todos trataram de ter a melhor performance, buscando evitar que se configure a situação de “segundo turno no primeiro”, com uma disparada de voto útil a favor dos candidatos agora polares, que desidrataria a votação dos demais. Da votação obtida no primeiro turno dependerá, para os excluídos do segundo, o peso que terão para negociar apoio a um dos finalistas ou para participar do futuro governo.
E assim, foram todos valentões. Álvaro Dias, esconjurando o tempo todo “a volta da organização criminosa”, desencavou até os assassinatos de Celso Daniel e Toninho do PT, do início dos anos 2000. Ciro Gomes chegou a culpar o PT por ter permitido, ao criar “uma estrutura odienta’, o surgimento da “aberração” Bolsonaro. Marina responsabilizou o PT pela existência de Temer e seu governo. “Ele não teria chegado lá sem a ajuda de vocês”, rebateu Haddad. E como quem bate leva, o desgaste acaba socializado. O tucano Geraldo Alckmin bateu muito no PT, mas saiu também muito avariado. Para isso o petista teve a ajuda de Guilherme Boulos, do PSOL, que lhe perguntou pelo escândalo da merenda escolar e pelos desvios que estão sendo investigados em grandes obras do mandarinato tucano em São Paulo.
Teremos mais debates e mais pesquisas nesta reta final, mas os movimentos da sociedade, pelo menos contra Bolsonaro, ganham dinâmica própria, reduzindo a importância dos confrontos. Movimentos como #elenão, o #Democraciasim e o manifesto “Juristas contra o fascismo”, lançado ontem por 560 luminares do direito, devem estar servindo mais para conter Bolsonaro que os ataques de concorrentes. Na pesquisa CNI-Ibope de ontem, ele aparece com 27%, um ponto porcentual a menos que na pesquisa anterior, feita para a Rede Globo, fechada um dia antes. Uma oscilação negativa ligeira, mas ele já havia parado de crescer. Haddad se manteve em segundo lugar com 21%, mas Ciro veio com 12%, um ponto a mais que na anterior. Mas agora, saindo do hospital, o ex-capitão fará transmissões ao vivo diárias a partir de sua página no Facebook. E isso pode lhe dar novo gás.
Se algum padrão eleitoral será mantido nesta eleição, teremos na retinha final um arrastão em algum sentido. Poderá ser uma onda vermelha a favor de Haddad, ou uma expansão do bolsonarismo pela adesão de candidatos estaduais do PSDB e de outros partidos de direita. Ou as duas coisas, fazendo o segundo turno no primeiro.

Fato grave
O Supremo manteve ontem a cassação do título, e logo do voto, de 3,3 milhões de eleitores que não fizeram o cadastramento biológico. O procurador e ex-ministro Eugênio Aragão, um dos defensores do pedido de liminar do PSB contra a decisão do TSE, lembrou que a maioria dos eleitores que ficarão sem votar são pobres, não tendo se recadastrado por falta de informação ou de meios para cumprir a exigência legal. Diz a Constituição que só a condenação com trânsito em julgado pode privar um brasileiro com mais de 16 anos de exercer o direito de voto. O STF podia ter evitado o risco de, lá na frente, isso ser usado para questionar o resultado do pleito.