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São os fatos que dominam a política

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A acelerada ascensão da candidatura de Celso Russomano à prefeitura de São Paulo, seguida de seu declínio vertiginoso, pode ter causado surpresa a muitos, menos aos atentos observadores dos fatos políticos. Quando Lula decidiu correr o risco de impor o nome de Fernando Haddad ao PT, contrariando a solução natural, que teria sido a escolha de Marta Suplicy — e mais ainda quando foi a Maluf buscar tempo de televisão — com a surpresa sobreveio o vácuo e, com ele, uma pausa no processo sucessório da capital de São Paulo.

Disso se aproveitou Russomano, e inflou as velas de seu barco com sua popularidade de hábil showman. Pouco a pouco, as coisas foram chegando ao seu lugar. As cartas foram novamente distribuídas.

Serra e seus assessores e Fernando Haddad e sua equipe devem estar atentos ao fato de que o segundo turno corresponde a nova eleição. Isso lhes exigirá todos os cuidados e mais alguns. Digam o que disserem os cientistas políticos que confundem o conhecimento da política com interpretação estatística — o que conta, na hora do voto, é o carisma do candidato, ou seja, em bom grego, o encantamento súbito.

Esse encantamento súbito está favorecendo os líderes mais jovens, como é o caso do governador Eduardo Campos e do senador Aécio Neves. Ambos descendem de nomes fortes na política nacional e, esse legado é frequente em nosso país, desde o Império, embora não seja a regra histórica.

Alguns analistas, desconhecendo os fatos, exageram no culto a Eduardo Campos, quando lhe atribuem a vitória de Márcio Lacerda, em Belo Horizonte. Talvez não saibam que a filiação de Márcio Lacerda ao PSB tenha sido aconselhada por Aécio Neves. Com todo o respeito pelo neto de Miguel Arraes, a vitória de Márcio decorre da inteligente aliança administrativa — e, em um tempo, política — entre Aécio e Fernando Pimentel, que promoveu uma grande revolução urbana na capital mineira.

Essa aliança elegeu Márcio, e os seus efeitos o reelegeram. Mais ainda: o entendimento entre a prefeitura e o governo do estado permaneceu, com o diálogo permanente entre Márcio Lacerda e o governador Antonio Anastasia.

Esses fatos favoreceram o resultado de Belo Horizonte, acrescidos da circunstância de ter Patrus Ananias associado a sua impecável biografia à candidatura de Hélio Costa ao governo de Minas, em 2010. O erro político trouxe sua consequência. Alguns mineiros aceitam certos fatos, mas nem todos. Sem nenhum juízo de valor, podemos afirmar que essa associação foi além do que aconselhava a Realpolitik, e durou o que duravam as rosas de Malherbe: o espaço da manhã em que foi decidida. Daí em diante prevaleceu a política real, cujo pragmatismo, em Minas, obedece a leis próprias. O sacrifício de Patrus, há dois anos, acarretou o insucesso do candidato do PT no domingo passado, não obstante todas as suas virtudes.

É também um engano associar o mau desempenho do PT em algumas cidades ao julgamento da Ação 470 pelo STF. O partido não soube escolher seus candidatos, nem trabalhar as alianças eficazes. A única cidade em que os votos condenatórios do Supremo poderiam ter influído o resultado, teria sido São Paulo e, pelo andar da carruagem, não foi o que ocorreu.

Uma avaliação isenta do processo mostra que dificilmente José Serra conseguirá recuperar o fôlego e reorganizar suas forças nestas poucas jornadas para o segundo turno. Ele não soube armar os compromissos necessários ao realinhamento da nova campanha. Se Russomano, por hipótese, viesse a apoiá-lo, poucos de seus eleitores o acompanhariam. Eles votaram na personalidade do homem de televisão — não em um projeto de governo.

E será difícil que Chalita, cujos desentendimentos anteriores com Serra são conhecidos, venha a associar-se à postulação do PSDB. Embora, em política, só se possa prever a imprevisibilidade, o panorama, visto de hoje, é alvissareiro para a candidatura de Fernando Haddad. A campanha permitiu que fosse lembrado o seu desempenho no Ministério da Educação, com iniciativas como as do Enem e do Prouni, além das novas diretrizes para a educação de base. E a tudo isso se soma o inegável carisma de Lula.