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De onde vem o Ebola?

Como as tradições culturais africanas podem ajudar na proliferação da doença

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O jornal The Atlantic publicou uma reportagem na última quinta-feira (31) tentando explicar as origens do vírus Ebola. O pior surto  da doença que já se tem notícias está devastando a Libéria, Serra Leoa e Guiné. Até agora, a doença já matou 670 pessoas e infectou outras mil. Uma razão pela qual o Ebola é tão terrível é que não há cura, e a taxa de mortalidade é de aproximadamente até 90%.  Eles chamaram a atenção para algumas práticas comuns na África que podem influenciar na proliferação do vírus. O jornal questiona: desde 2008, os surtos anteriores de Ebola já mataram algumas dezenas de pessoas, no máximo. Por que dessa vez está sendo tão pior?

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 Surtos anteriores do vírus têm sido associados à caça de gorilas e chimpanzés para alimentação ou a ingestão de macacos mortos encontrados na selva. Não existem gorilas na África Ocidental, por isso especialistas acham que este surto está ligado ao consumo de morcegos frutívoros. Em 2007, em Uganda, um surto de Ebola foi atribuído a "um par de crianças brincando com morcegos em uma caverna. Eles voltaram para casa com dois morcegos mortos e as mães cozinharam eles", declarou Estrella Lasry, um médico conselheiro do Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Os pesquisadores ainda não sabem a causa exata deste surto em particular que está em curso, mas dizem que pode ter a ver com a prática local de comer morcegos. De acordo com Jonathan Epstein, epidemiologista da EcoHealth Alliance. "Não está claro se isso ocorreu devido a matar morcegos, a exposição dos fluidos corporais do animal, ou comer alguma comida ou fruta que foi contaminado por saliva, urina ou fezes de morcego, que podem conter vírus Ebola", disse ele. Granjas de suínos na África também atraem os morcegos, o que pode contribuir para a contaminação.

Uma vez que a pessoa infectada começa a mostrar os sintomas, parecidos com o da gripe, além de náuseas, vômitos, os costumes locais continuam a desempenhar um grande papel. Não há médicos suficientes ou fontes disponíveis para o tratamento de todos os pacientes de Ebola na área, mas, mesmo se houvesse, muitos moradores são desconfiados da medicina ocidental.

 "Neste surto, houve intensa desconfiança dos trabalhadores ocidentais de cuidados de saúde", disse Epstein. "Você está lutando contra uma série de percepções e convicções. Existem remédios locais que as pessoas tem confiança e elas podem se voltar para um feiticeiro local na aldeia", comenta o médico.

Outro fator é que a tradição diz que o corpo de uma pessoa que morre deve ser lavado pela família, que, inadvertidamente, cria novas oportunidades para a exposição. O membro da família pode, em seguida, preparar uma refeição para o resto da celebração do funeral, aumentando ainda mais as chances de que a infecção se espalhe.

 Quando a pessoa infectada morre em uma tenda médica, o corpo é normalmente desinfetado e enterrado ou queimado, não voltando para a família. Isso traz uma enorme agonia para a famílias, o que faz com que eles escondam a morte e a doença de parentes das entidades de ajuda medica internacional.