Em oceanos, lagos, reservatórios e rios, é comum a ocorrência de um fenômeno natural em que a água do ambiente adquire coloração escura, nos tons verde, vermelho (maré vermelha), marrom, laranja ou amarelo.
Causado pelo crescimento excessivo de algas microscópicas ou cianobactérias presentes no plâncton marinho e de água doce, o fenômeno é denominado de “floração de algas ou de cianobactérias".
O principal problema apresentado por esse fenômeno é que algumas espécies de cianobactérias e de microalgas marinhas que participam dele são capazes de produzir potentes toxinas. No caso de ambiente de água doce, por exemplo, algumas espécies que participam de florações de cianobactérias podem produzir toxinas (microcistinas) altamente prejudiciais à saúde humana, além de compostos orgânicos voláteis (COVs, na sigla em inglês) que resistem aos procedimentos convencionais de tratamento de água. Em função disso, causam forte odor e alteram o gosto da água. Já no ambiente marinho, algumas toxinas produzidas em florações podem se acumular em peixes e mariscos.
Um grupo de pesquisadores do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP) iniciou uma pesquisa para prospectar alguns desses COVs capazes de causar impactos ambientais produzidos por diferentes espécies e linhagens de cianobactérias isoladas das represas Billings e Guarapiranga, em São Paulo, e da represa de Salto Grande, em Americana, no interior paulista.
Realizada no âmbito de um acordo de cooperação entre a FAPESP e a Agilent Technologies, além de contribuir para compreender melhor o papel desempenhado por alguns desses compostos no crescimento de cianobactérias, os resultados da pesquisa podem auxiliar no desenvolvimento de métodos analíticos mais eficazes para identificar e quantificar esses compostos que podem ser usados, por exemplo, como biomarcadores para predizer o crescimento dessas bactérias.
“Esse tipo de projeto de pesquisa colaborativa permite acessar novos problemas científicos que nos ajudam a identificar oportunidades de aplicações dos nossos produtos ou de desenvolver tecnologias para solucioná-los”, disse Jack Wenstrand, diretor de relações com universidades da Agilent.
O executivo participou na FAPESP, no dia 4 de dezembro, de uma reunião de acompanhamento dos dois projetos de pesquisa selecionados por meio de uma chamada de propostas, lançada conjuntamente em 2011 pelas duas instituições.
A chamada teve como objetivo identificar, selecionar e apoiar pesquisas de classe mundial em instrumentação avançada e técnicas de medição relacionadas à metabolômica em biologia de plantas e microbiologia, espectrometria de massa e bioenergia.
Além do projeto de prospecção de compostos voláteis com efeitos alopáticos produzidos por cianobactérias, outro projeto aprovado foi um estudo das respostas fisiológicas das espécies de eucalipto Eucalyptus globulus e E. grandis à alta concentração de dióxido de carbono e à variação de temperatura, identificadas por metabolômica. O projeto é realizado por pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Ganhos para os dois lados
De acordo com Wenstrand, os dois primeiros projetos de pesquisa colaborativa realizados pela Agilent no Brasil com pesquisadores de universidades do Estado de São Paulo, por intermédio do acordo com a FAPESP, fazem parte de um programa que possuem para apoiar colaborações científicas em áreas de pesquisa alinhadas com os objetivos estratégicos da companhia.
Por meio do programa, segundo Wenstrand, a empresa realiza diversas atividades de pesquisa em colaboração com cientistas de universidades em todo o mundo em áreas relacionadas à eletrônica, ciências da vida, análise química e diagnóstica.
“Essas colaborações permitem ter acesso a pesquisas inovadoras que ajudam a melhorar nossos produtos e a desenvolver tecnologias para solucionar problemas que existem hoje e para os quais ainda não há solução, ou para aqueles que devem surgir no futuro e que temos que estar preparados para enfrentá-los”, disse Wenstrand.
Para os pesquisadores, na avaliação do executivo, esse tipo de colaboração científica possibilita ter acesso ou receber treinamento para operar equipamentos e tecnologias de ponta que podem auxiliá-los a abordar um determinado problema sobre o qual têm muito conhecimento, mas que muitas vezes não possuem ou não conhecem as ferramentas que podem ajudá-los.
Para a realização do projeto sobre as respostas fisiológicas de duas espécies de eucalipto à alta concentração de dióxido de carbono e à variação de temperatura, realizado no âmbito do acordo, por exemplo, a Agilent licenciará por três anos três módulos de um software de análise de sequenciamento genético de última geração para realização das análises transcriptômicas e metabolômicas das espécies de eucalipto Eucalyptus globulus e E. grandis.
“Descobri a existência desse software durante o projeto e fiquei muito interessado em utilizar três dos quatro módulos dele, que a empresa rapidamente licenciou o uso”, disse Paulo Mazzafera, professor do IB da Unicamp e coordenador do projeto.
Segundo o pesquisador, além do uso dos três módulos do software, também há a possibilidade de realizarem determinados tipos de análises no laboratório de aplicações que a empresa tem no Brasil, em equipamentos que ainda não possuem.
“Esse tipo de interação entre empresa e universidade também pode resultar em outras parcerias futuras”, destacou Mazzafera.
Agência Fapesp