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Avanços no tratamento diminuem estigma sobre o câncer de mama

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Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) em 2007, a respeito do estigma sobre o câncer, as palavras mais associadas pelos entrevistados à doença remetiam a termos negativos como morte e tristeza. Sentimentos estes ainda mais fortes em mulheres - que nesta quinta comemoram o seu dia - diagnosticadas com tumores nas mamas, que encaram o problema como uma inevitável condenação à retirada dos seios, vistos como símbolos de beleza e feminilidade. Mas, embora o número de óbitos ainda seja alto, a evolução da medicina possibilitou tratamentos mais eficazes e menos invasivos. O monstro não é mais tão grande.

O mastologista Luiz Fernando Pinho do Amaral, professor adjunto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional do Rio de Janeiro, ressalta o avanço nas disciplinas envolvidas nos tratamentos, desde os procedimentos cirúrgicos até as abordagens correlatas e preventivas. No início dos anos 1980 havia apenas uma opção de tratamento para o câncer de mama: a retirada total da mama e o esvaziamento da axila, como forma de evitar a metástase. Os gânglios localizados na região são os primeiros invadidos pelos tumores nas mamas. 

Com o progresso dos estudos em oncologia e da capacidade do diagnóstico precoce da doença, verificou-se que nos estágios iniciais, quando os tumores têm até 2cm, a retirada da lesão e de uma área em seu entorno, em conjunto com a radioterapia, tinha a mesma eficácia do que a mastectomia. Diminuíram sequelas físicas e psicológicas. Uma verdadeira revolução para as pacientes. "Antes havia o paradigma de que quanto mais radical fosse o tratamento, maiores eram as chances de que o câncer fosse curado. Na década de 1950, houve até a proposição  da amputação do braço para o tratamento do câncer de mama", aponta o especialista.

Paralelamente, a evolução das técnicas de radiologia permitiu aos médicos constatar que a axila não era afetada na maior parte dos tumores com até 1,5 cm, tornando desnecessárias intervenções na estrutura. A observação resultou no elaboração de uma método batizado como linfonodo sentinela. "Consiste na aplicação de uma substância que identifica o primeiro gânglio linfático a receber as células do tumor. Se não estiver contaminado, os outros também não estarão", explica Luiz Fernando.

Mais uma opção de tratamento, a radioterapia intra-operatória ainda não é disseminada no Brasil. Técnica desenvolvida pela equipe do italiano Umberto Veronesi - um dos responsáveis pela cirurgia conservadora da mama-, consiste na aplicação de uma dose concentrada de radiação no local de onde o tumor foi retirado. O procedimento é feito na fase final da cirurgia. 

"A paciente já sai do centro cirúrgico tratada. Isso evito com que as mulheres precisem ir ao hospital durante seis semanas para se submeter às sessões de radioterapia. Muitas, inclusive, optam pela mastectomia total por não ter como fazer esses deslocamentos. Mas é importante deixar claro que ainda são necessários estudos que comprovem a sua eficácia a médio e longo prazo", pondera Luiz Fernando.

Quimioterapia e Hormonioterapia

A quimioterapia pode ser usada de duas maneiras no tratamento do câncer de mama. Para diminuir a probabilidade da doença metastática, e como forma de reduzir o tamanho dos tumores em pacientes com a doença em estágio mais avançado. 

"Os efeitos colaterais existem, são incômodos, mas podem ser minimizados com outras medicações. A quimioterapia também se mostra muito importante no aumento da sobrevida dos que apresentam metástase", diz o médico.

Já a hormonioterapia consiste no uso de medicamentos, o principal deles o tamoxifeno,  que inibem a atuação dos receptores de estrógeno e progesterona da célula tumoral e das células mamárias. Como cerca de dois terços dos tumores de mama dependem dos hormônios para se desenvolver, a alteração faz com que as células com os receptores não respondam mais aos hormônios estrogênio e progesterona em ação.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é o segundo tipo mais comum da doença no mundo e o mais frequente entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos. O número anual de ocorrências no país é estimado em cerca de 49 mil e, embora menos comum, homens também podem ser atingidos.  

Ainda segundo o Inca, as taxas de mortalidade por câncer de mama no Brasil continuam elevadas, e um dos prováveis motivos é o diagnóstico tardio. Em 2008, ano do último levantamento feito no país, foram registradas 11.860 mortes em decorrência da doença. Das vítimas, 11.735 eram mulheres e 125 homens. Na população mundial, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a sobrevida média após cinco anos é de 61%.

Superação

Mas por trás da frieza das estatísticas escondem-se histórias de mulheres que sofreram, batalharam, e muitas vezes conseguiram superar aquilo que parecia ser uma espécie de vilão invencível. Este é o caso da produtora de eventos Cristina Saldanha. Em 2005, quando tinha 48 anos, percebeu um sinal no seio e, após realizados os exames, recebeu a notícia de que era um tumor maligno. Moradora do Rio de Janeiro, procurou o Hospital Mário Kröeff - referência no tratamento da doença -, onde fez uma mastectomia. Hoje recuperada, ela fala sobre aqueles dias de apreensão e sobre a experiência depois da cirurgia.

"É difícil explicar o que eu senti com palavras. Sou grata por todo o acolhimento que tive da minha família, dos amigos e das mulheres com quem convivi no hospital. Lá você vê pessoas jovens, mais velhas, todas passando pelo mesmo problema. E muito solidárias. Isto foi fundamental", relata. "Quem perde os seios, os perde todos os dias. É o que te define como mulher. É incômoda a propaganda de televisão, um decote mais ousado... Mas, apesar da dor, posso dizer que sou uma pessoa melhor. Percebi que tudo pelo que passamos faz parte de um processo e aprendi a viver um dia de cada vez. Tornei-me mais humana", resume.

Também diagnosticada com câncer de mama, Rachel Enete conta que sua experiência não foi fácil, mas desenrolou-se de uma maneira mais positiva do que o que ela imaginava a princípio. Rachel não precisou retirou os seios. Realizou sessões de quimioterapia e foi submetida ao processo de esvaziamento axilar. Uma sequela dolorosa e desagradável. Mas com a qual ela consegue lidar bem. 

"O primeiro contato que você tem com a notícia é o pior momento. Mas depois você percebe que as coisas não são tão terríveis. Hoje existe um mercado estético muito vasto, podemos comprar perucas e disfarçar a queda de cabelo. Os medicamentos para reduzir os efeitos colaterais da quimio também são eficientes. Me sentia ótima em algumas semanas. Agora é vida normal. A medicina avançou muito, diz.

Sintomas e fatores de risco

Além do aparecimento de nódulos no seio, os principais sinais da doença, cuja incidência cresce em mulheres a partir dos 35 anos, são alterações no formato, na coloração e na textura da mama. Os mamilos podem ainda retrair-se, inchar-se ou apresentar secreção sanguinolenta ou com aspecto de água. Outro sintoma importante é a alteração na mamografia, capaz de detectar tumores impalpáveis.

Para prevenir a enfermidade é recomendado praticar exercícios físicos com regularidade, não fumar e adotar uma dieta equilibrada, sem o consumo de bebidas alcoólicas. Mulheres que menstruaram antes dos 12 anos, com histórico da doença na família e que não tiveram filhos ou foram mães após os 30 anos devem ficar atentas. A exposição excessiva a tratamentos com Raio X e estrógeno também se constituem em fatores de risco.

Detecção

Embora amplamente divulgado pela mídia, o autoexame não é indicado pelo Inca, pois enseja um número de falso-positivos pelos pacientes. A maneira mais eficaz de detectar a doença é através de consultas com profissionais qualificados. O exame clínico das mamas deve ser feito uma vez por ano pelas mulheres que têm entre 40 e 49 anos. A partir dos 50, a mamografia (raios-x das mamas) deve ser realizada a cada dois anos, ou de acordo com prescrição médica.

A Sociedade Brasileira de Mastologia preconiza iniciar o rastreio mamográfico a partir dos 40 anos, com intervalo médio de cerca de 12 meses.