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Com ou sem Steve Jobs, Cook tem de vencer o dilema do sucesso

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Nesta terça-feira, será a primeira vez em anos que aquele homem de calça jeans Levi's 501, tênis New Balance 992 (antes 991) acinzentado e um suéter preto da Von Rosen (anteriormente uma polo de gola rolê preta da St. Croix) não estará à frente do Keynote da Apple. No lugar do co-fundador da companhia de Cupertino estará Tim Cook, CEO anunciado em 24 de agosto após a renúncia de Steve Jobs e que terá finalmente uma chance de mostrar a sua cara, ou a nova cara da Apple. Rumores dão conta de que Steve Jobs estará no palco também, e é claro que os investidores e fãs preferem ver o criador ao lado de suas criaturas, mas maior do que isso é a expectativa frente à apresentação de Tim Cook como CEO.

Se os chavões de Steve Jobs, como "magical" (mágico), "amazing" (fantástico), "we think it's great" (nós pensamos que é ótimo), ou ainda o "one more thing", algo mais (na tradução para português) estarão no discurso de apresentação de Cook ou não. Se seu sucessor "herdou" um pouco do humor de Jobs, que sempre dava um jeito de fazer piadas com o Android (sistema operacional do Google) e, é claro, com a Microsoft. Mas para além dos "enfeites", interessa saber se Tim Cook conseguirá cativar, mesmo que a sua maneira, um público acostumado ao magnético Jobs desde 1997.

Jobs estava em licença para cuidados de saúde desde 17 de janeiro deste ano. A saúde de Jobs virou notícia em 2004, quando ele anunciou que passara por uma cirurgia para remover um tipo raro de câncer pancreático, diagnosticado em 2003, e que a operação fora bem-sucedida. Depois, em 2009, Jobs fez um transplante de fígado e ficou afastado da companhia que fundou ao lado do engenheiro Steve Wozniak por vários meses. Durante as três licenças de Jobs, foi Tim Cook quem ficou a frente da companhia. Cook entrou para o time da Apple em 1998, depois de passar pela Compaq e pela IBM, logo após o próprio Jobs ter retornado à empresa.

Para a revista Wired, que nesse último mês publicou um perfil de Steve Jobs, ele era o CEO perfeito. No artigo do editor Steven Levy, ele relembra que Jobs voltou para Apple em 1997 apenas para uma revisão da sua antiga empresa, a qual chamou de um calhambeque destruído, que era como uma antiga namorada passando em tempos difíceis. Mas que, entretanto, quando Steve Jobs foi anunciado como CEO definitivo em 2000 as pessoas já havia parado de se perguntar quem iria ocupar seu lugar. Parecia que esse dia nunca iria chegar. E o que faz de Jobs o CEO perfeito?

De acordo com a Wired, "Jobs entende os clientes e o que eles querem, mesmo quando não o sabem. Tem domínio da dinâmica de mercado e perspicácia de um campeão de poker". Compromisso com a excelência e uma rejeição brutal ao conceito de 'bom o suficiente'. Responsabilidade quando algo dá errado. Um carisma que faz o lançamento de um produto tão emociona quanto um show do Bruce Springsteen. Steve Jobs tinha tudo, em abundância". Obviamente, nem tudo eram flores, mas ter defeitos é algo próprio dos gênios como bem se sabe.

A tendência de Jobs de descartar qualquer coisa que não cumprisse seus insanos padrões é famosa. Assim como sua forte inclinação para o segredo, por manter suas criações secretas e que faz a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) parecer uma biblioteca pública para a Wired. Para Jobs, se alguém iria tornar a Apple obsoleta, esse alguém seria a própria Apple. E foi pensando assim que ele escapou, e a Apple também - até então - da maldição do Vale do Silício, ou do "Dilema do Inovador", que diz que uma vez que uma empresa assume a liderança, torna-se menos capaz de fazer inovações radicais no campo que domina. Não tem sido assim com a Apple de Steve Jobs, onde cada avanço vertiginoso leva a outro que leva a outro e assim por diante.

No entanto, e mesmo sem querer, Steve Jobs criou para a Apple um outro problema, o "Dilema do Sucessor". Tim Cook pouco foi visto em um palco, mas em um discurso para os formandos da Auburn University em 2010, encontrado pelo Ztop fica claro que seu estilo é mais "leitor-de-apresentação" do que showman.

Com fama de reservado, de entusiasta dos exercícios físicos ao ar livre, amante dos números e das operações, o ex-COO (Chefe de Operações) Tim Cook não parece ser o cara que vai substituir Steve Jobs no posto de CEO perfeito, especialmente em apresentações. Esse posto, aponta o Gizmodo estaria mais para Jeff Bezos, CEO da Amazon, que assim como Steve Jobs, está a frente da empresa que criou e apresenta entusiasmo e paixão pelas suas criações tal qual o co-fundador da Apple. Basta saber, então, que posto na história do Vale do Silício e da Apple Tim Cook ocupará.

Às 14h desta terça-feira pelo horário de Brasília, Tim Cook deverá ser o principal protagonista do lançamento de um novo iPhone na sede da Apple, em Cupertino, nos Estados Unidos.