Agência Notisa
RIO DE JANEIRO - Segundo a legislação brasileira, alguns locais de trabalho devem passar por verificação ambiental a cada seis meses, anualmente ou bianualmente, dependendo do grau de risco encontrado. O ambiente de trabalho dos professores é regido pelas mesmas leis, mas, como mostra o estudo desenvolvido por Nadja de Sousa Ferreira, ele deixa muito a desejar. Essa é uma das conclusões que a pesquisadora apresenta em sua tese de doutorado em Educação Avaliação dos riscos ocupacionais no ambiente de trabalho dos professores de ensino fundamental, médio e superior: estado de penosidade, insalubridade e periculosidade , defendida em março de 2008 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
A autora investigou a situação de trabalho de professores de 180 instituições educacionais, do ensino fundamental, médio e superior, das redes pública e privada, na cidade do Rio de Janeiro. Ela levou em consideração variáveis como, ruídos, temperaturas anormais, radiação, umidade, poeira, transporte de peso manual, presença de produtos inflamáveis, entres outras. Nadja explica no texto que essas variáveis foram medidas com o auxilio de equipamentos de alta sensibilidade através de audiodosímetro, termômetro de globo, termômetro de tubo seco, termômetro de bulbo úmido e luxímetro.
Segundo a pesquisa, os riscos ocupacionais devem ser entendidos como a presença de agentes nocivos (físicos, químicos e biológicos), que estejam acima dos limites de tolerância do organismo humano. Esses limites são estabelecidos pelas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego e na falta desses são adotados valores recomendados pelos centros de pesquisa com credibilidade reconhecida.
Os dados obtidos foram analisados de acordo com o reconhecimento dos níveis de insalubridade, penosidade e periculosidade nas instituições participantes e comparados aos níveis adotados como limite de tolerância pelas Normas Regulamentadoras.
Os resultados apontam a condição de penosidade em 100% das salas de aula estudadas. A penosidade é conceituada como o desgaste físico e mental do trabalhador no desempenho de suas funções. Nas atividades dos professores esse desgaste foi identificado nas variáveis: ruído, temperaturas, iluminação e taxa metabólica , explica a autora.
Segundo ela, as salas de aula não se enquadram nas condições apontadas como de favorecimento à saúde, pois propiciam a desarmonia, a irritação, estimulam a desatenção e consequentemente interferência na comunicação. Provocam ansiedade, insegurança, favorecendo conflitivas demandas pessoais, que podem originar, algumas vezes, situação de violência, criando barreiras 'invisíveis' que dificultam o pleno acesso ao processo de ensino-aprendizagem , diz no estudo.
Em relação aos ruídos, por exemplo, Nadja explica que eles podem levar a um agravamento da reverberação em sala de aula, para superar tal situação, o professor aumenta a intensidade da voz. Com isso, há um esforço vocal maior da musculatura que compõe a estrutura das pregas vocais. O aumento do trabalho e da tensão leva a um estado de fadiga nesses músculos, provocando desgaste. Em uma tentativa de superar as lesões induzidas pelos ruídos da sala, aparecem então rouquidão, quebra da sonoridade, pigarro e dor de garganta. A longo prazo podem aparecer lesões mais graves como: pólipos, nódulos e mesmo tumoração , explica.