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Brasileiro reinventa o heliômetro, para estudar o aquecimento global

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Marcelo Gigliotti, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Um instrumento de observação astronômica projetado por um brasileiro pode dar uma importante contribuição para a ciência no estudo do aquecimento global. Trata-se de um heliômetro, um tipo de telescópio específico para observar o Sol. Ele foi inaugurado nesta sexta-feira e está instalado em uma das seis cúpulas do Observatório Nacional, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro.

O Sol tem ciclos de 11 anos em que aumenta e diminuiu sua atividade, lançando mais ou menos luz sobre a Terra. Estas variações podem ter impacto no aquecimento global. Por isso, o Sol passou a ter ainda mais importância para a astronomia diz o astrônomo do Observatório Nacional, Victor D'Ávila, que projetou o aparelho.

Único no mundo

Aliás, trata-se do único heliômetro moderno em todo o mundo. Pesquisadores de outros países utilizam astrolábios fotoelétricos para observar o Sol. Com o heliômetro, poderão ser feitos 8 mil registros do Sol por hora. Com os astrolábios, se fazem apenas 1.800 registros por dia.

Tudo indica que, com o nosso heliômetro, os resultados serão mais precisos, trazendo grande contribuição para a ciência diz o astrônomo brasileiro.

Segundo o brasileiro, há muitas discrepâncias entre as medições do diâmetro do Sol feitas pelos diversos observatórios em todo o mundo.

Então, para equacionarmos a questão das discrepâncias e trazermos mais precisão para as medições, resgatamos um instrumento do passado e o modernizamos. O objetivo é tirar a limpo estas variações diz o cientista.

Na verdade, o heliômetro foi inventado há mais de 300 anos. Mas era muito mais rudimentar. Ele foi criado para medir as variações aparentes no diâmetro do Sol e assim determinar melhor a órbita da Terra.

Quando o Sol está mais perto da Terra, a medida do seu diâmetro é maior. Isso proporcionou determinar que órbita da Terra em torno do Sol é ovalada e não em forma de círculo diz Victor.

Depois, em 1838, o heliômetro foi usado para resolver outra questão astronômica. Com ele, foi possível medir pela primeira vez a distância das estrelas em relação à Terra. E ainda, graças ao instrumento, descobriu-se que a velocidade da luz é de 300 mil quilômetros por segundo.

Agora, modernizado, o heliômetro direciona seu foco para uma das questões mais importantes e atuais: o aquecimento global.

Mudanças na atividade solar podem ser uma das causas do aquecimento, além da ação do homem sobre a natureza. O Sol tem variações de emissão de luz da ordem de 1%. Parece pouco, mas é muita coisa comenta.

O Rio de Janeiro, por sua posição geográfica, nos trópicos e à beira-mar, é um dos protagonistas desta nova aventura científica.

O fato de estarmos nos trópicos permite que tenhamos o Sol numa boa altura no meio do dia. E a proximidade do mar faz com que a atmosfera não fique muito turbulenta. Pois o mar equaliza a temperatura do ar acima dele diz o pesquisador.

O heliômetro brasileiro é diferente dos antigos, que, na verdade eram lunetas, ou seja, usavam apenas lentes. O projetado pelo brasileiro é um telescópio. A diferença é que usa um espelho em vez de lente. Fora isso, o equipamento usa materiais modernos: o corpo do espelho é feito de cerâmica polida. Por cima dele, fica uma camada de alumínio. O tubo é feito de fibra de carbono, mais resistente que o aço e mais leve que o plástico. Ele mede apenas 1,5 metro de comprimento por 15 centímetros de diâmetro. Mas pode levar a astronomia a um patamar bem mais elevado.

O Sol é a estrela padrão para teorias de evolução estelar e do próprio universo. Daí, a importância do heliômetro.