Marcelo Gigliotti, Jornal do Brasil
RIO - Ele deu origem ao nome do Brasil. Atraiu europeus há 500 anos, que extraíram dele tinta vermelha para tingir tecidos da nobreza. Provocou conflitos entre portugueses e franceses por sua exploração. Acabou se tornando uma espécie rara da flora brasileira. Mas a árvore de que estamos falando, o pau-brasil, continua tendo propriedades únicas. Sua madeira é considerada a melhor do mundo para confecção de arcos para instrumentos de corda. Esta característica está estimulando seu replantio no Brasil.
Archetários (fabricantes de arcos) europeus e brasileiros se organizaram para criar um movimento para replantar o pau-brasil em áreas da Bahia e do Espírito Santo.
Quando começaram a confeccionar arcos com pau-brasil, no século 18, ocorreu uma revolução no jeito de tocar os instrumentos de corda. Foi algo assim, como a invenção da guitarra elétrica diz o cineasta Otávio Juliano, diretor do documentário A Árvore da música, que será exibido nesta segunda-feira na tenda do Museu da Vida, no campus da Fiocruz, às 9h30.
Acontece que a extração de pau-brasil em florestas é proibida no Brasil, uma vez que a espécie é considerada em extinção desde 1992. Por isso, os archetários se mobilizaram para fazer o replantio em áreas privadas para garantir matéria-prima para produzir seus arcos. É o caso do archetário brasileiro Marco Raposo, que produz 60 arcos por mês, no Espírito Santo:
Começamos o plantio há 12 anos. Temos 7.500 árvores, algumas com mais de cinco metros diz.
Assim como ele, archetários franceses também investem no replantio em áreas do sul da Bahia. São projetos que contam com chancela de instituições científicas, como o Jardim Botânico do Rio de janeiro.
O problema é que conservar a espécie não é só plantar. É preciso definir que variantes genéticas precisam ser mais preservadas diz o biólogo Harodo Lima, do Jardim Botânico.
A instituição carioca realiza há oito anos um projeto de catalogação e inventário das áreas de florestas com ocorrência de pau-brasil. O estado do Rio de Janeiro tem 14 destas áreas: na Serra da Tiririca e na Região dos Lagos. No município do Rio, há trechos de floresta com a árvore em Campo Grande, Sepetiba, Pedra de Guaratiba e até na Prainha, paraíso dos surfistas.
Existem ainda unidades de conservação federais e estaduais também na Paraíba e na Bahia, segundo o biólogo. Mas é muito pouco em relação às populações da espécie na época do descobrimento. O pau-brasil ocorria numa extensa faixa litorânea que vem desde o Rio Grande do Norte até o Sul do estado do Rio de Janeiro, na região de Angra dos Reis e Paraty.
A árvore sobreviveu em ilhas no meio da floresta degradada. Na Bahia, sua preservação foi maior, pois era usado para dar sombra às plantações de cacau, diz o biólogo do Jardim Botânico.
Segundo historiadores, só no primeiro século após o descobrimento do Brasil, dois milhões de árvores foram derrubadas. Em 1550, segundo o explorador francês Jean de Lery, havia 100 mil toras de pau-brasil estocadas no Rio.
Os índios faziam a derrubada para trocar as toras por bugigangas com franceses e portugueses. Eles já conheciam as propriedades do pau-brasil: usavam a tinta e faziam arcos para caça. Agora, os arcos servem para dar uma sonoridade especial aos instrumentos.