Marcelo Gigliotti, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Meio crocodilo, meio tatu, o Armadillosuchus arrudai, que viveu há 90 milhões de anos no Brasil, é uma espécie única sem correlatos no mundo. O bicho tinha dois metros de comprimento e 120 quilos. O crânio e a cauda eram semelhantes aos de um crocodilo, mas ele tinha uma carapaça óssea, como uma armadura, que o protegia de predadores, tal qual os tatus. A descoberta foi anunciada nesta terça-feira por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Não foi identificada em nenhuma outra parte de planeta um animal com essas características. Daí sua importância para a paleontologia brasileira diz o pesquisador Ismar de Souza Carvalho, do Laboratório de Macrofósseis do Departamento de Geologia da UFRJ.
O fóssil foi descoberto no oeste de São Paulo, por um professor de biologia de uma escola pública de uma cidade do interior paulista chamada General Salgado, em 2005. Ele costumava fazer pesquisas e escavações na região com seus alunos.
Quando vi o crânio, chamei ele de horroroso. Gosto de nomear os fósseis que descubro diz o professor João Tadeu Arruda, que acabou dando seu sobrenome Arruda para batizar a espécie. É um orgulho isso para mim, ter meu nome na história, me tornar imortal.
O professor, após descobrir o crânio, parte da carapaça e uma das patas do animal, entrou em contato com a UFRJ. A partir daí se seguiu uma investigação sobre as características do animal e do ambiente em que ele vivia, que revelou informações surpreendentes e que confirmaram se tratar de uma espécie sem paralelo no mundo.
Primeiramente, o Armadillosuchus, ao contrário de outras espécies de crocodilos, que vivem em ambientes com muita água, habitava uma região seca e quente, conhecida como Bacia Bauru, que abrange o interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Norte do Paraná. O crocodilo-tatu viveu durante o período Cretáceo, entre 90 e 80 milhões de anos atrás.
Naquela época, a América do Sul começa a se separar da África, dando origem ao Oceano Atlântico. No litoral que se formava, o tempo era mais fresco, mas no interior a temperatura chegava a 45 graus.
Neste ambiente, o Armadillosuchus arrudai estava plenamente adaptado. Ele usava suas garras para escavar o solo, se enterrar e assim se proteger do calor nas estações mais secas e quentes foi numa desta tocas que o fóssil foi descoberto.
Era uma animal onívoro, ou seja, comia de tudo. Mas sua dentição indica que a base de sua alimentação era composta de plantas e moluscos. Pois, ao contrário de outras espécies de crocodilo, ele podia mastigar.
Eventualmente, comia alguma carne presume o pesquisador Ismar Carvalho.
Segundo o pesquisador da UFRJ, a carapaça do bicho tinha função não só de protegê-lo do ataque de predadores maiores, mas também poderia ajudar a enfrentar as intempéries tanto o sol abrasador quanto a temporada de tempestades torrenciais. Era um período de sazonalidade bem marcada, alternando épocas de seca e chuvas.
O Armadillosuchus se adaptou a viver em ambientes com rios e lagos temporários.
Mas o que era seu trunfo para a sobrevivência, a adaptação a ambiente seco e quente, acabou se tornando a causa de sua extinção. Seu habitat passou a ser mais úmido e, com isso, o animal acabou se extinguindo.
Sua descoberta nos ajuda a entender como se deu a evolução geológica do país. Daí a importância desta descoberta para o Brasil. Tanto por ser uma animal cujo fóssil só foi encontrado aqui, como por revelar detalhes sobre o clima e a geologia daquela época onde hoje é o território brasileiro. Pois nossa prioridade é dar brasilidade à ciência diz Ismar.