Marcelo Gigliotti, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Nesta terça-feira, Dia Mundial da Imunização, as famílias cariocas têm uma boa oportunidade para refletir sobre os resultados de um recente estudo sobre vacinação infantil. Segundo a pesquisa, apenas 75% das crianças de até dois anos têm sua carteira de vacinação em dia no Rio de Janeiro, contra uma média nacional de 81%. E o dado mais inusitado é que a participação é menor entre a população de maior poder aquisitivo.
Os dados fazem parte do Inquérito de Cobertura Vacinal nas áreas urbanas das capitais do Brasil, coordenado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. O estudo contou com a participação, em cada cidade, de outras instituições científicas. No caso do Rio de Janeiro, a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz conduziu a pesquisa, que começou a ser feita em 2008.
Ficamos surpresos com a baixa cobertura no Rio, que tem o pior índice em relação às capitais mais importantes. Curitiba, por exemplo, tem uma cobertura de 98% diz a epidemiologista Silvana Granado, da Fiocruz.
Adesão
O que era uma impressão a baixa adesão das classes alta e média às campanhas de vacinação se confirmou com o estudo.
Percebo que muitas pessoas de classe média ou alta não levam as crianças para vacinar nos dias de campanha. Elas deixam para levar outro dia. Isto é ruim, porque o objetivo das campanhas é fazer a imunidade coletiva diz.
De acordo com a pesquisa, no Rio de Janeiro, apenas 50% das crianças da classe A (de famílias com rendimentos acima de R$ 3.426,81) tomam as vacinas obrigatórias dentro dos prazos recomendados pelo Ministério da Saúde.
A vacina contra pólio, por exemplo, deve ser tomada aos 2, 4 e 6 meses de idade. É importante seguir este cronograma. Mas muitos não seguem estes prazos. Deixam passar um mês ou até mais diz Silvana Granado
Quando se observa a obediência aos prazos estipulados pelo Ministério da Saúde, os percentuais caem mais ainda. No Rio, apenas 63% das crianças são vacinadas rigorosamente nas datas indicadas. O número sobe para 75% quando as doses são tomadas com atraso.
A frequência da vacinação depende muito dos calendários de cada uma. A vacina que tem cobertura mais alta no Rio praticamente 100% é a BCG, que é tomada normalmente na maternidade.
A pesquisa no Rio foi realizada sobre um universo de 1.050 cadernetas de vacinação de crianças de até dois anos. Os pesquisadores foram até as casas das famílias checar as carteiras. E a dificuldade maior para fazer a checagem se deu nos endereços mais nobres.
Houve muita recusa de famílias de classes mais altas em receber os pesquisadores. Os próprios porteiros já barravam os pesquisadores. Foi mais fácil fazer o trabalho em comunidades com problemas de segurança, como algumas favelas mais perigosas comenta a pesquisadora da Fiocruz.
A próxima campanha de vacinação infantil começa no dia 20 de junho, com imunização contra poliomielite para crianças menores de 5 anos.