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Nanotecnologia é a menina dos olhos da ciência do século 21

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Sheila Machado, Jornal do Brasil

HELSINQUE - Conhecido como o campo de pesquisa que vai impulsionar a eficiência de aparelhos eletrônicos, remédios, geradores de energia e até filtros de água, a nanotecnologia é a menina dos olhos da ciência do século 21. Mas tanto otimismo tem sido recentemente ofuscado por relatórios que advertem para a falta de regulação e de definição dos riscos dos compostos químicos em escala nanométrica. Um novo termo, nanopoluição, começa a ganhar notoriedade. E a preocupar.

O alerta foi levantado pelo comissário europeu de Meio Ambiente, Stavros Dimas, no Fórum de Química de Helsinque, Finlândia.

Há lacunas no conhecimento de efeitos aos quais estamos expostos a longo prazo disse. Precisamos avaliar a segurança da nanotecnologia, saber como estes materiais funcionam, como interagem com a vida humana, em especial com os órgãos reprodutivos.

Dados do Project on Emerging Nanotechnologies, um órgão não-lucrativo baseado nos EUA, informam que há hoje cerca de mil produtos de nanoprodutos no mercado global. Apesar disso, o meio científico admite: ainda há pouca certeza sobre as consequências de sua liberação como dejeto, no ambiente, ou como efeito colateral, no corpo humano. Devido a seu tamanho diminuto, os nanomateriais são capazes de penetrar em quase qualquer barreira e os paradigmas de segurança industriais atuais não contam com processos padrões que identifiquem reações com estas partículas.

No entanto, a química ensina: a toxicidade não depende só da substância, mas da quantidade à qual uma pessoa é exposta. Como a escala neste caso é literalmente nanométrica, o risco de contaminação também é minúsculo, ponderam os cientistas. O que não significa que o alerta deva ser deixado de lado.

Nenhuma outra ciência teve a oportunidade de ter sua consequência analisada ao mesmo tempo em que se desenvolvia , escreveu na revista Nature Nanotechnology Andrew Maynard, co-autor de um estudo sobre os riscos dos novos produtos. Isso é ótimo. Só temos de fazer a pergunta correta: como usar a nanotecnologia com segurança?

Uma das dificuldades é justamente padronizar os testes.

Há variados tipos de nanopartículas e até diferenças na mesma família: nanotubos de carbono com uma ou duas paredes. Além disso, ainda não desenvolvemos paradigmas para verificar efeitos na saúde dos ratos exemplifica David Guston, diretor do Centro para a Nanotecnologia na Sociedade da Arizona State University.

A outra questão filosófica até diz respeito à regulação e é incitada por Geert Dancet, diretor executivo da Agência Europeia de Química:

Uma nanopartícula é realmente uma partícula ou acaba por se tornar um composto químico diferente do original? Se atua de maneira diferente, pode ser igual? Tampouco há consenso neste debate.

Brasil

No Brasil, o governo financia com R$ 72 milhões 38 projetos em rede para avaliar as complicações da nanotecnologia no agronegócio, setor de alimentos, agricultura, meio ambiente e saúde humana.