Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Para uns, os óculos escuros são charmosos. Outros consideram o acessório um tanto impessoal. Mas para todos, deve ser um acompanhante indispensável, pois é a único meio de proteção dos olhos contra os danosos raios ultravioletas.
Papo de superprecavido? Não. Complicações graves, como catarata e degeneração macular, que antes só manifestavam-se na terceira idade, começaram a aparecer em pessoas com até menos de 40 anos, devido à exposição excessiva ao sol. Fora os efeitos imediatos que os raios ultravioletas podem ocasionar aos olhos: muitas horas no sol podem resultar em uma ceratite lesão da córnea. Ainda no verão, com banhos em piscina cloradas e praias contaminadas, a conjuntivite também é um problema recorrente.
Se uma pessoa ficar na praia deitada na direção do sol por várias horas, mesmo com os olhos fechados, ela pode sofrer uma queimadura da córnea (parte de fora, transparente) ou da retina (que traduz a imagem para o cérebro). Se uma criança fica durante muitas horas seguidas soltando pipa, por exemplo, ela também pode sofrer uma lesão da retina. alerta o oftalmologista Antônio Lobo, diretor da Oftalmo Day Tijuca.
Segundo a oftalmologista Maria Beatriz Guerios, do Instituto de Moléstias Oculares (IMO), a ceratite também pode ser provocada pelo reflexo da radiação solar na areia branca: os raios batem na areia e refletem nos olhos. O mesmo ocorre na neve.
Independe da cor dos olhos, todos são igualmente sensíveis aos raios ultravioletas. Os sintomas são vermelhidão, ardência, lacrimejamento, visão embaçada e sensação de areia nos olhos. Caso persistam por mais de um dia, é preciso procurar um médico afirma Beatriz.
Países tropicais
Complicações mais sérias, como catarata envelhecimento do cristalino, que é a lente do olho geralmente acometem pessoas acima do 60 anos. Mas o excesso de sol, ao longo da vida, pode precipitar seu surgimento.
Os países tropicais estão sofrendo mais com as agressões dos raios ultravioletas. Aqui, encontramos com mais frequência casos de catarata, por exemplo, em pacientes com 37 anos explica Canrobert Oliveira, oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasilia (HOB). O índice de penetração dos raios UV que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera normal é de até cinco pontos. Aqui, durante o verão, varia de oito a 13.
Esse acúmulo de raios ultravioletas também pode ocasionar uma degeneração do maculo responsável pela visão central. Hoje, cerca 25% da população acima de 75 anos apresentam algum problema na mácula causado pelo sol e por outras alterações metabólicas. A degeneração macular, se não tratada, pode levar à cegueira.
Outro problema comum, principalmente, entre as pessoas que trabalham ao sol, é o pterígio. Mas a complicação requer uma uma predisposição genética.
É como uma 'pele' que cresce no canto interno do olho e invade a córnea, pressionando a conjuntiva (revestimento interno da pálpebra) e causando uma inflamação. Pode deixar seqüelas irreversíveis. O recomendado é operar de imediato explica Oliveira.
Embora não possa ocasionar uma cegueira, o pterígio incomoda muito: o olho fica vermelho, arde, fica com sensação de queimação e alta sensibilidade à luz.
O pedreiro Juarez da Silva, de 42 anos, foi vítima de um pterígio, aos 26 anos. Embora trabalhe há muitos anos com construção civil, muitas vezes no sol, e sem boné e óculos escuros, Silva atribui a causa da doença às brincadeiras na infância e na adolescência:
Morei até minha adolescência na roça, onde pegava sol o dia todo e sempre nadava em rios barrentos, isso deixava meus olhos sempre vermelhos. Soltava também muita pipa. Aos 26 anos, o pterígio começou a se manifestar. Perdi cerca de 50% da minha visão. Só no ano passado consegui operar conta Silva.
Todos esses males oculares podem ser prevenidos com óculos escuros. Mas é preciso ter cuidado: os óculos de boa qualidade apresentam filtro com 100% de proteção contra a radiação UVA e UVB.
Conjuntivite
No verão, quando os banhos de mar e piscina freqüentes levam ao uso de toalhas de outras pessoas, a conjuntivite seja viral ou bacteriana fica mais comum.
No verão passado, peguei conjuntivite. Não sei se foi na piscina, acho que foi porque tenho o hábito de toda hora passar a mão no rosto. Agora, ando sempre com um lencinho. Além disso, uso óculos escuros até nos dias nublados para proteger a vista e os olhos comenta a designer Anne Esteche, 23 anos.
Nesses casos, em que o olho fica vermelho, lacrimejando e, às vezes, com remelas amareladas, Lobo indica o uso de soro fisiológico, de cinco a 10 gotas, quatro vezes ao dia. Mas caso continue no dia seguinte, é melhor procurar um médico.
Óculos eficientes
Bloqueador
Os óculos devem bloquear 100% as radiações UVA e UVB
Medição
Solicite às óticas que façam, sempre na sua presença, a medição dos filtros.
Imagens
Os óculos não devem distorcer imagens ou mudar as cores.
Lentes
Os óculos devem ter lentes cinzas, verdes ou marrons, capazes de filtrar entre 75-90% da luz visível.
Hastes
Os óculos devem ter hastes largas para dificultar a passagem dos raios solares.