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SÃO PAULO - Muitos especialistas consideram que a mulher é mais resiste às dores naturais do que os homens nas diversas situações do dia-a-dia. Há quem diga até que eles ficam perturbados ao terem que resistir a uma simpes gripe ou na hora de levar uma injeção.
Mas a professora Claudia Tambeli, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), ligada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sugere em um estudo que a mulher tem maior suscetibilidade à dor, além de senti-la com maior intensidade em alguns casos, como dores crônicas, de artrite ou na articulação da boca.
A idéia faz parte de uma das linhas de pesquisa de um projeto, feito em parceria com o Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, sob coordenação do professor Carlos Amilcar Parada, que busca compreender os aspectos sensoriais da dor.
O objetivo principal é contribuir com o desenvolvimento de fármacos mais seguros e eficientes e para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Segundo Claudia Tambeli, na área abordada por ela, a dor para a mulher varia de acordo com as alterações hormonais naturais do corpo.
- Durante o ciclo menstrual, por exemplo, as mulheres sentem mais dor porque é um período onde a modificação é maior - avalia.
Por outro lado, em outra linha de pesquisa realizada com fêmeas de ratos grávidas, os animais apresentaram uma redução na intensidade da dor durante a gestação.
- Neste caso há um aumento na liberação de hormônios que acabam amenizando a dor e aumentando a tolerância do indivíduo - destaca.
Mesmo que muitos considerem o sexo feminino mais resistente que o masculino, a especialista não crê que um possa ser comparado ao outro.
- Não é que a mulher seja mais resistente que o homem, o fato é que em algumas situações ela suporta mais os efeitos quando está em uma fase de altos índices hormonais - justifica.
De acordo com a professora, estes hormônios femininos acabam por reduzir a dor.
Entretanto, os homens não têm a mesma variação de hormônios que as mulheres e estudos comprovam que a presença de testosterona protege o sexo masculino, diminuindo o risco de desenvolvimento de dor articular.
- Diferente do homem, a mulher fica sujeita à essa variação e em períodos do mês ela tem uma maior suscetibilidade à dor - enfatiza.
Apesar de tudo, ela acredita que o mais importante não é avaliar quem sente mais dor, e sim, o efeito que os hormônios podem ter em relação aos medicamentos.
Medicamentos diferenciados
O professor Carlos Amilcar Parada considera que o "aumento na expectativa de vida do brasileiro, que era de 38,7 anos em 1940 e deverá atingir 70 anos em 2010, dado que esta faixa etária está mais sujeita a condições dolorosas, a tendência é que as pessoas sintam mais dor, porque vivem mais e estão mais sujeitas aos traumas".
Em razão disso, o principal objetivo em questão é obter um tratamento farmacológico diferenciado para homens e mulheres, já que no Brasil a "automedicação é uma prática muito comum ao se sentir até uma simples dor de cabeça".
Amilcar informou que existem alguns medicamentos que são mais eficazes para as mulheres.
- A eficiência do remédio pode variar entre homens e mulheres e já está comprovado que existem alguns mais efetivos para elas do que para eles - afirma.
No estudo, os especialistas identificaram que, no caso da mulher, deve-se levar em consideração a fase do ciclo menstrual em que ela se encontra porque, dependendo da concentração hormonal no sangue, o efeito de um analgésico pode ser modificado.
Os projetos de pesquisa coordenados por Parada ainda estão buscando compreender melhor os mecanismos envolvidos nos processos dolorosos, principalmente o de dor patológica, aquela que perdeu a função de alarme, para desenvolver da melhor forma os medicamentos que poderão ser utilizados pelos médicos.