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Ricos devem liderar ação antiaquecimento, diz ONU

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REUTERS

NOVA YORK - Os esforços de combate ao aquecimento global correm o risco de perder fôlego porque os países ricos e desenvolvidos não estão assumindo as rédeas do processo como deveriam, afirmou nesta sexta-feira Yvo de Boer, chefe do secretariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para as mudanças climáticas.

Em entrevista, De Boer disse que continua existindo boa vontade e desejo político para agir depois do acordo selado em dezembro a respeito de esforços para tentar selar um novo pacto global de combate ao aquecimento.

De Boer observou, porém, que pouca coisa de concreto vinha sendo realizada.

- Precisamos de uma liderança da parte dos países ricos e de dinheiro na mesa para que os países em desenvolvimento consigam adotar medidas que seriam impossíveis dentro de seus parâmetros de crescimento econômico e de erradicação da pobreza - disse.

- Não identifico sinais claros da vontade de mostrar liderança e, para mim, não está claro como o dinheiro será disponibilizado - disse De Boer, atualmente em Londres para reunir-se com o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, que defende uma iniciativa de combate às mudanças climáticas.

De Boer, cuja Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês) dirige o Protocolo de Kyoto (que prevê cortes na emissão de gases do efeito estufa), disse que os países pobres haviam aceitado adotar políticas climáticas viáveis e verificáveis.

No entanto, para dar início a esse processo, os países desenvolvidos precisam não apenas mostrar que estão adotando medidas duras eles próprios, mas também precisam realizar gestos concretos, como transferência de tecnologia e concessão de fundos para ajudar as nações pobres a cumprir suas promessas.

- Não consigo ver com clareza como os governos mobilizarão seus recursos financeiros, tornando possível um envolvimento maior da parte dos países em desenvolvimento - afirmou De Boer.

Segundo cientistas, as temperaturas médias do planeta vão subir entre 1,8 e 4 graus Celsius neste século devido às emissões de gás carbônico resultante da queima de combustíveis fósseis.

Esse aquecimento ameaça provocar enchentes e surtos de falta de alimentos, colocando em perigo milhões de vidas.

Os países ricos e pobres aceitaram em dezembro dar início a negociações sobre um acordo capaz de suceder o Protocolo de Kyoto, que deixa de vigorar em 2012.

- O problema é que os países ricos não começaram a pensar realmente sobre como gerar os recursos necessários para tornar viável um futuro acordo - disse a autoridade.

De Boer pediu ainda que a comunidade internacional imbua-se de um sentimento maior de urgência.

- Precisamos de clareza neste momento e não em 2050, quando todos estaremos nos congratulando - disse, referindo-se à meta de emissões globais para 2050, acertada em caráter provisório pelo Grupo dos Oito (G8), no ano passado.

- Precisamos saber o que deverá ser feito até 2020. Isso significa um maior sentimento de urgência e um encurtamento dos prazos - disse.