Agência JB
LONDRES - Um homem de 38 anos que permaneceu semiconsciente durante anos como conseqüência de uma grave lesão cerebral saiu desse estado após receber estimulação mediante impulsos elétricos, um tratamento pioneiro, segundo estudo publicado na revista britânica 'Nature' desta semana.
O homem, que durante seis anos foi incapaz de conversar ou ingerir alimentos, recebeu estimulação cerebral profunda, como parte de uma pesquisa sem precedentes na qual participaram três prestigiadas instituições americanas.
Essa técnica, já utilizada com doentes de Parkinson, consiste na implantação de eletrodos no cérebro para enviar impulsos elétricos e é a primeira vez que é aplicada em pacientes em "estado minimamente consciente", um quadro clínico sofrido por entre 100 mil e 300 mil pessoas no mundo.
- Antes do uso da estimulação cerebral profunda (DBS), a capacidade de se comunicar do paciente era irregular, só com movimentos ligeiros de olhos ou dedos. Agora, usa com regularidade palavras e gestos e responde às perguntas rapidamente - disse um dos autores do estudo, Joseph T. Giacino.
O paciente é capaz agora de mastigar e engolir a comida, não precisando ser alimentado por uma sonda, e pode fazer movimentos coordenados, por exemplo, para escovar o cabelo ou beber em uma xícara.
- A mudança mais convincente é que ele é capaz de recitar as primeiras dezesseis palavras do juramento de fidelidade aos EUA - explicou Giacino, destacando que usaram esse texto que o paciente aprendeu quando criança, já que ele mostrou menos problemas para lembrar de coisas antigas do que as mais recentes.
A mãe do paciente lembrou como tanto seu filho como o resto da família tinham poucas esperanças de que ele se recuperasse e saísse do estado de isolamento em que estava. O homem, cuja identidade não foi divulgada por desejo de sua família, foi submetido a esta técnica seis anos após sofrer graves danos cerebrais durante uma agressão em 1999, que o deixou primeiro em coma e, depois o deixou no assim chamado 'estado minimamente consciente'.
Após a conclusão da pesquisa, em fevereiro de 2006, o homem manteve as melhoras, embora ainda tenha dificuldades para fazer certos movimentos e não conseguir caminhar. Os autores da pesquisa, que colaboraram durante quase uma década neste primeiro projeto piloto projetado para 12 pacientes, dizem que são necessários novos estudos para concluir se este tratamento é útil para os pacientes com este quadro clínico. Porque, como destaca outro dos responsáveis pelo estudo, Joseph J. Fins, "se esta conquista se repetir, este sucesso poderia marcar o começo de uma nova era no tratamento destes pacientes".