Agência EFE
WASHINGTON - O aquecimento global rachou as plataformas de gelo na Antártida, e o aumento do número de icebergs surgidos desse processo altera os sistemas ecológicos no entorno, revela estudo publicado nesta quinta-feira pela revista 'Science'.
A pesquisa foi realizada por cientistas da Instituição Scripps de Oceanografia e do Instituto de Pesquisas Monterey Bay Aquarium (MBARI).
O estudo detectou, por meio de imagens proporcionadas pelos satélites, pelo menos mil icebergs, alguns deles de dezenas de quilômetros de diâmetro, em uma superfície de aproximadamente 12.500 quilômetros quadrados.
Existem sobre esses icebergs, criados principalmente a partir da plataforma contígua com o Mar de Weddell, em um raio de mais de quatro quilômetros, grandes comunidades de aves marinhas que os sobrevoam, e um mundo de clorofila, fitoplâncton, peixes e krill (espécie de pequeno camarão), aponta o estudo.
Os icebergs abrigam material 'terrestre' que vão soltando no mar à medida que se derretem como resultado do aumento da temperatura marítima ao se aproximarem de regiões mais quentes.
Um resultado do processo é um aumento de quase 40% no que os cientistas classificam como 'produtividade biológica' na região do Mar de Weddell, um braço do oceano Atlântico que entra no continente antártico ao sudeste do Cabo de Hornos.
Segundo Ken Smith, oceanógrafo do Instituto de Pesquisas Monterey Bay Aquarium, um resultado desta maior 'produtividade' biológica é que os icebergs podem absorver uma grande quantidade de dióxido de carbono (C02), principal gás causador do aquecimento global.
- Embora o degelo das plataformas antárticas contribua para um aumento nos níveis marítimos e para outra dinâmica da mudança climática, esta função adicional de eliminar o carbono da atmosfera poderia ter implicações nos modelos da mudança climática as quais é preciso estudar com mais detalhes - afirmou Smith.
Para compreender o impacto ambiental dos icebergs, os cientistas realizaram um estudo das massas de gelo utilizando aferições físicas, biológicas e químicas, além de dados e imagens fornecidos pelos satélites da Nasa.
Dois dos icebergs estudados detalhadamente em 2005 eram de mais de 30 quilômetros de comprimento, cerca de 40 metros de altura acima do nível do mar, e um deles tinha uma massa submarina que se estendia cerca de 330 metros abaixo da superfície.
Quando puderam se aproximar, na embarcação 'Laurence Gould' de pesquisas oceanográficas, os cientistas utilizaram um veículo operado à distância (ROV) para explorar os setores submersos dos icebergs e as águas que os cercavam.
- Guiamos o ROV pelas cavernas submarinas dos icebergs, identificamos e contamos as espécies animais mediante suas câmaras, recolhemos amostras e realizamos um estudo de sua topografia - afirmou Bruce Robison, oceanógrafo do MBARI.
Segundo Maria Vernet, cientista da Instituição Scripps da Universidade da Califórnia, o fitoplâncton em torno dos icebergs se enriqueceu com a presença de grandes quantidades de diatomáceas.
Essas algas, que constituem o principal sustento do krill, são cruciais nos sistemas biológicos, especialmente em frente ao litoral oeste dos Estados Unidos, e para as comunidades polares que vivem junto ao mar, apontou.