Agência AFP
JOHANNESBURGO - O técnico da seleção brasileira, Dunga, admitiu nesta segunda-feira que a pressão é grande sobre o treinador do país que busca o hexacampeonato na Copa do Mundo da África do Sul e cobrou uma análise mais justa de seu período no comando da equipe, na entrevista coletiva concedida no estádio Ellis Park, local da estreia do país no Mundial na terça-feira contra a Coreia do Norte.
¨É o maior desafio porque é o próximo, quando eu era jogador aquele era o maior desafio. Hoje seguramente estou muito mais bem preparado do que quando era jogador para comandar. Sem dúvida nenhuma é uma responsabilidade muito grande, porque tem muita cobranças¨, declarou, após o treino de reconhecimento do gramado.
¨Sem dúvida nenhuma, como treinador a pressão, a cobrança é maior, mas ao mesmo tempo quando você consegue realizar a alegria também é em dobro¨, completou o treinador.
Ele admitiu ainda uma ansiedade natural antes da primeira partida em uma Copa do Mundo e destacou que sempre fala para os jogadores que o tempo na seleção parece longo, mas é muito rápido.
Apesar da Coreia do Norte ser desconhecida de grande parte dos jogadores brasileiros, Dunga disse que espera um time compacto, de muita velocidade e que a seleção terá que encontrar uma forma de superar o adversário. Também lembrou que três norte-coreanos atuam fora do país.
Ao ser questionado sobre os treinos fechados dos últimos dias (três de quinta-feira a domingo), que provocaram protestos de parte da imprensa e especulações de que a medida seria uma retaliação tanto à divulgação de que Daniel Alves e Julio Baptista discutiram no fim do coletivo de quinta-feira como às dúvidas sobre o estado físico do goleiro Julio Cesar, o técnico não perdeu a oportunidade de alfinetar os jornalistas.
¨Não é treino fechado, é um treino privado. Para ter mais privacidade, de repetir mais jogadas, de não ter tanta gente em volta. Queira ou não queira no treinamento não tem aquela concentração necessária¨, disse.
¨É uma forma nova de trabalhar, talvez vocês não estivessem habituados. Aquilo que vocês falam sempre, criatividade dos jogadores, ter criatividade neste momento de criar alguma coisa para escrever¨, afirmou com um sorriso no rosto.
Também disse que apesar das conquistas da seleção nas últimas décadas, as críticas não param, mas em uma frase definiu seu estilo: ¨Cada um tem um gosto. Eu gosto de vencer¨.
Ao mesmo tempo deixou claro saber que, apesar das conquistas dos últimos quatro anos (Copa América-2007, Copa das Confederações-2009 e primeiro lugar nas eliminatórias sul-americanas para o Mundial), apenas o hexa na África do Sul vai impedir o bombardeio de críticas.
¨Futebol não tem passado, nem futuro, tem presente¨, disse.
O treinador brasileiro ressaltou ainda saber que o debate com a imprensa nunca vai acabar, mas mostrou que está preparado.
¨Eu apanho de manhã à noite, aí quando respondo uma vez sou rancoroso¨, declarou o capitão do Brasil no título da Copa dos Estados Unidos-1994.
No fim da coletiva, ao ser questionado se existe alguma injustiça ao seu trabalho à frente da seleção, usou os números e voltou a soltar farpas.
¨Não direi injustiça, acho que é ponto de vista. Uma equipe que faz cento e poucos gols deve ter um mínimo de criatividade. E que toma um pouquinho mais de 30 gols deve ter equilíbrio¨.
¨Na verdade, esta crítica de criatividade, jogo mais ofensivo, quando eu nasci já comecei a ouvir isso. Vou falar uma coisa aqui que os caras vão dizer que eu sou rabugento... as maiores críticas são porque o treino tá privado, porque não tem entrevista exclusiva, porque não tem jantar com cinco ou seis. As críticas são estas, é mais direcionado à minha personalidade do que ao meu trabalho¨, concluiu.