Fábio de Mello Castanho, Portal Terra
PRETÓRIA - Gol de Heinze, o único da vitória da Argentina diante da Nigéria na primeira rodada da África do Sul. O zagueiro argentino sai em disparada para o banco de reservas. No caminho é cumprimentado apenas por Lionel Messi.
No canto do campo, um bolinho de seis jogadores se forma. Todos abraçam Juan Sebastian Verón, jogador que cobrou escanteio para a cabeçada certeira de Heinze e voltava à Copa do Mundo depois de ausência estranhada em 2006.
A cena presenciada na comemoração argentina no Estádio Ellis Park é reflexo da liderança de Verón no atual grupo argentino. E mostra que o jogador cumpre nesta Copa uma missão individual de apagar o histórico de encrencas, boicotes e derrotas na seleção.
Logo em sua primeira participação em Copas, em 1998, Verón já provocou polêmicas. A imprensa argentina acusou o jogador de apatia nas partidas e apontou possíveis problemas de relacionamento do jogador com o grupo. Boatos nunca confirmados diziam que o meia foi pego em um exame antidoping interno.
Quatro anos mais tarde, Verón chegou à Copa com status de estrela. Naufragou junto com a seleção na primeira fase e virou símbolo da campanha desastrosa argentina. Sentiu-se injustiçado e seu relacionamento com outros jogadores experientes, que em sua visão não dividiram a responsabilidade da derrota, ficou abalada.
Ficou ausente durante grande parte da preparação e da Copa de 2006. Não foi chamado por Jose Pekerman, segundo informações de bastidores, a pedido de atletas como Zanetti e Sorín. Tudo parecia que a sua história conturbada na seleção estava chegando ao fim, mas o meia teve a chance de ir à forra e aproveitou.
Sua volta ao Estudiantes, em 2006, parecia um sinal de que a sua carreira se encaminhava para um final. Mas Verón se reinventou, levou o Estudiantes ao título nacional e recebeu uma chance de Alfio Basile. Aos poucos foi se integrando ao grupo, se aproximou dos jovens intocáveis Lionel Messi e Javier Mascherano e passou a ser visto como líder.
Quando Maradona assumiu a seleção, Verón já dava as cartas. E o meia conseguiu com o treinador o respaldo para que antigos desafetos, como Cambiasso e Zanetti, ficassem fora da Copa. Não à toa, por mais que não fale diretamente sobre o assunto, Verón sempre deixa nas entrelinhas que enfim tem um grupo que se sente à vontade.
"Estou contente por estar novamente vestindo a camisa da seleção e por estar presente aqui no Mundial, mas estou muito mais contente por integrar um grande grupo. Estou aqui pelo bem da equipe", disse, após a vitória sobre a Nigéria na estreia na competição.
Fora de campo, divide quarto com Lionel Messi e tenta passar para o pupilo a tranquilidade que acha necessária para o melhor do mundo brilhar. Nos treinos, orienta os mais jovens. Nas entrevistas, coloca a cara para bater, tenta passar uma imagem de segurança, sem se esquivar de perguntas.
Durante o jogo de estreia, Javier Mascherano era o capitão, mas era Verón quem mais conversava com Maradona. Passava instruções para os companheiros, ditava o ritmo do jogo e teve a confirmação de que é reconhecido como verdadeiro líder da seleção ao ser mais abraçado do que o autor do gol da vitória.