Editorial, Jornal do Brasil
RIO - A inclusão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os líderes mais influentes do mundo, na lista promovida pela prestigiada revista Time, é um importante atestado da enorme popularidade angariada pelo ex-metalúrgico nascido em Pernambuco, mas forjado na metalurgia política de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Chega em um momento no qual, no fim do segundo mandato, presidentes em geral costumam buscar muito mais a sombra amena do anonimato do que uma exposição em escala planetária. Rezam os manuais de ciências políticas que, em geral, quem é brindado pelo eleitor com um segundo período eletivo nunca consegue repetir o desempenho do primeiro. Lula, entre outros aspectos, encerra seu segundo governo, nesse quesito, subvertendo todas as expectativas. Por isso, a inclusão na lista não se apresenta como algo episódico, fortuito, mas justificado tanto quanto a do presidente americano, Barack Obama. Não à toa, Obama, num encontro multilateral de presidentes de todo o mundo, saudou o brasileiro com um singelo He's the guy ( Ele é o cara ). Quem tem carisma reconhece isso nos outros.
O triunfo de Lula como um estadista homem de Estado em sentido lato é também embasado por sua trajetória. É a comprovação de que o homem comum pode triunfar e ascender a postos e cargos inimagináveis em um país onde a desigualdade social sempre foi uma constante. O presidente é um desafio a essa percepção como uma barreira intransponível. Se foi escolhido entre os líderes mais influentes do mundo , é muito porque soube como perseguir seus objetivos ignorando regras econômicas e sociais mantidas em grande parte para evitar que isso acontecesse. A maneira como conduziu o Brasil deixou claro aos outros países que ser carismático é importante, mas ser persistente é muito mais. Ao longo de sua trajetória política marcada por vários reveses Lula soube aprender a compreender a alma do cidadão brasileiro por se identificar com ele. O grito das ruas não é algo que o assusta, mas que molda sua atuação enquanto homem público. Que norteia o raciocínio no caminho da objetividade capaz de eliminar a desconfiança histórica contra os conceitos políticos. O discurso é direto, a identificação muito mais forte. Essa é uma situação rara, e que, poucas vezes na história brasileira, a sociedade viu. Um presidente com alta aceitação interna ao longo de oito anos e, ao mesmo tempo, com uma presença internacional indiscutivelmente marcante. Em que outros momentos um presidente brasileiro mereceu tanta atenção dos seus colegas? Em que outro momento, recente ou não, os ouvidos poderosos das potências concederam atenção às propostas vindas de um país emergente como o Brasil?
Os presidentes brasileiros, em geral, são reconhecidos internacionalmente em uma ocasião especial, a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, cujo discurso inicial é privilégio histórico. Desde que Lula passou a representar o país, a plateia passou a prestar mais atenção ao que é dito. E ao que o brasileiro faz ou declara nos outros dias. É isso que a ele confere o direito de acreditar que pode ajudar a encontrar soluções para problemas complicados como a situação do Oriente Médio. Para chegar aonde chegou, o homem comum precisou superar muitos outros desafios. E, se o fez, é porque aprendeu a encontrar saídas onde outros, até mais preparados, não viram escapatória. Lula é influente por merecimento: a Time está certa.